Mafalda Orlandini
28/07/2014 | Sessenta e quatro anos depois
Passei parte da minha infância e a adolescência morando na mesma casa na Rua Visconde do Rio Branco. Foram treze anos que deixaram saudades e muitas lembranças. Tanto é que seguidamente estou escrevendo comentários e contando histórias daquele tempo. Meu irmão Benito sempre dizia que não ia morrer sem comprar a casa novamente. Durante muitos anos, passávamos na frente dela só para conferir se ainda estava lá. Saímos de lá em 1950.
Minha mãe Alzira na varanda da casa
Às vezes acontecem fatos inesperados. Doutor Válério Endler, meu cirurgião dentista, irmão da minha falecida cunhada Giselda, conversando com um vizinho do bairro Floresta, ouviu dele que ele morava naquela casa há dezoito anos, que tinha um carinho especial por ela e curiosidade de saber sobre os antigos moradores. Quando reformava a casa, fazia questão de conservar tudo que era original da época. O Valério falou em mim e no meu carinho pela casa. Doutor Oscar Miguel, o proprietário, mostrou interesse e gentilmente me convidou para voltar lá se quisesse. Falei para meu filho Ricardo que ficou entusiasmado e, no dia vinte de julho, lá estávamos bem entusiasmados.
Frente da casa
A fachada da casa é a mesma, impecável, recém-restaurada, hoje com grades nas janelas e muro mais alto por motivo de segurança. Veio, gentilmente, a nosso encontro e me ajudou a subir aquelas escadas que eu descera há sessenta e quatro anos. O mármore da frente da casa, as colunas estão perfeitos. E o mais impressionante é a porta de entrada que é a mesma. Os cupins não a destruíram. Ao penetrar no hall de entrada, comentei que havia um vitral muito lindo ali e que não estava mais. Ele abriu uma porta, mostrou com satisfação que o salvara e o colocara num lavabo que fizera justo naquele local.
Vitral no lavabo
A casa está linda, deslumbrante. Ele derrubou paredes, aumentou os espaços e transformou o jardim de inverno antigo em parte integrante da casa. Os corrimões da escada foram destacados por uma pintura branca de muita beleza. O vitral junto a ela é o mesmo colocado pelo construtor. Agora, entretanto, está ampliada por retângulos de vidros translúcidos. Destacaram-se. Comentei que havia uma porta de vidro entre a sala e o gabinete. Ele a puxou de dentro da parede e disse que até os vidros eram os mesmos.
Eu e o Dr. Oscar Miguel
Fomos até o fim do living e sentamos junto ao pátio que agora ganhou uma gostosa piscina. Ali tivemos uma interessante conversa por mais de uma hora. Contou-nos que as casas estilo eclético da rua estão tombadas e que não podem ser demolidas. Toda a rua é patrimônio histórico e está proibida a construção de edifícios. Foi uma hora de uma conversa muito interessante. Ele queria saber tudo que eu lembrasse. Quis saber se morrera alguém da minha família ali. Eu disse que não, mas meu irmão Lourenço nasceu no quarto maior da casa, o dormitório de casal dos meus pais. Observei que o muro para a casa de número 724, que era onde morava a tia Clory, está mais alto. Lembro bem dele, porque conversava com meu futuro marido por cima do muro, ao entardecer, quando ele vinha do trabalho, fazia um lanche e saía para estudar no Colégio Rosário à noite.
Eu e o Dr. Oscar Miguel em frente a casa.
Enfim, foi um presente de Deus poder voltar àquela casa em que vivi meus sonhos da juventude, em que eu tive a felicidade de viver em uma família bem estruturada e o prazer de conviver com uma vizinhança amiga e solidária. Senti também uma grata compensação da antiga perda em ver como ela esta em boas mãos e é tão ou mais cuidada e respeitada como foi por minha família. Tenho muitas saudades, mas todas muito gratificantes.
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