Mafalda Orlandini
29/04/2013 | Roberto Orlandini, o tio caçador de perdizes
Era o irmão mais moço do meu pai. Eu o conheci muito pouco. Convivi com ele, quando, por um tempo, fixamos residência em Cruz Alta. Os irmãos Orlandini tinham resolvido abrir lá uma fábrica de sabão. Lembro o nome, Rola, o mesmo nome dos frios ou fiambres que já eram produzidos nas Indústrias Orlandini S/A. Foram, mais ou menos dois anos lá, a Leda nasceu, venderam a fábrica. Ele voltou para Roca Sales e nós nos mudamos para Porto Alegre.
Era um moço bonito, cabelos crespos, uns dezoito ou dezenove anos. Eu tinha menos que cinco anos. Não consigo definir muito bem seus traços porque, quando ia visitar minha tia, em Roca Sales, anos depois, era na hora dos famosos e sortidos cafés da tarde e ele não estava em casa. O que eu lembro bem é que a tia dizia para servir-se de manteiga com uma única faca porque ele ficava muito zangado se sujasse a manteiga com geleia ou mel.
Pois é. Esse tio adorava caçar, era um exímio caçador e o abate de aves silvestres era livre, não fora ainda regulamentado. Saía com os amigos e depois mandava as fotos das caminhonetes com grande quantidade de caça dependurada. Vinha junto uma boa cota de caça para nós. Logo minha mãe preparava muitos pratos gostosos. As perdizes eram as mais apreciadas. A família Costi nos cedia uma farinha de milho especial que mandava buscar em um moinho lá no interior e a polenta ficava muito especial. O Lourenço foi o que ficou mais apaixonado, porque acostumou-se a comê-las desde muito novo. Adulto, já casado, pedia para minha mãe fazer as famosas “perdizadas” que então já eram codornas compradas em supermercados.
Não era só o tio Roberto que caçava muito. Todo descendente de italiano ama esse tipo de esporte. Por isso a caça teve que ser controlada, Hoje só se pode caçar em alguns dias do ano e abater certo número de aves. Os caçadores mais apaixonados reclamaram e continuaram o tal esporte amador mesmo assim. Teve que haver fiscalização e muitas multas. O resultado dessa briga é que, graças a Deus, será evitada a extinção das espécies mais caçadas pelos seus apreciadores. Não sei como o tio Roberto enfrentou essa medida.
Eu amava meu irmão Lourenço. Ele, como médico, sempre me orientou e me ajudou nos problemas de saúde que tive durante minha longa vida, graça de Deus. Sempre que me falava das saudades de comer perdizes, eu sabia que eu era a única pessoa capaz de fazer algo parecido, não igual ao que éramos acostumados. Um dia, tomei coragem, comprei umas codornas e convidei-o junto com sua família. Na noite combinada, vieram a Cristina e seus filhos conhecer as tão famosas perdizes. Não sei se gostaram, mas comeram com toda a bela educação que têm e disseram “é bom mesmo, pai”. Foi um jantar muitíssimo agradável e eu me senti compensada pelo esforço.
Em pé: Os irmãos Leda, Lourenço e Mafalda
Sentados: Os pais Alzira e José Guido
Só foi uma vez porque a vida é tão corrida que não dá para repetir todas as coisas boas. Fica na saudade e nas boas lembranças. Não deu tempo para melhorar meus dotes culinários num próximo jantar. Mas tentei fazer meu irmão querido feliz com aquele miminho.
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