Mafalda Orlandini


16/03/2015 | Noivado à moda antiga

Encontrei em meus guardados uma carta do Ney, então meu namorado e depois meu marido. Tem a data de 26 de julho de 1948. É uma carta de amor. Uma sensível declaração de amor. Reflete sobre as saudades que sente por uma separação temporária e o que mais lamenta é não me encontrar, nessas tardes frias de inverno, quando volta para casa. Eu estava passando as férias em Roca Sales com a vovó Ana como costumava fazer em alguns dias de verão ou inverno. Há, na missiva, muitos deliciosos lances poéticos de um jovem de vinte e um anos que se diz apaixonado e completa: “lembrar-me de ti é a única verdade que conheço, é a única beleza de minha vida”. Trata-me por querida, por benzinho. Que lindo!!!


Foto do time de futebol amador em que ele era jogador, o Paladino. Ney, de bigode, é o terceiro agachado da direita para a esquerda. Quando era menor de idade, recebeu uma proposta de se tornar profissional. A mãe dele não autorizou.

Como pude receber uma carta tão sensível, linda, lê-la dez ou vinte vezes na ocasião e esquecê-la em uma caixa por 67 anos!!!?. Hoje, ela me emociona como se fosse a primeira vez. Entretanto, quem não entendeu quando ele fala que não me encontra ao voltar para casa, devo relembrar a maratona em que ele vivia. O Ney ficara órfão na adolescência e herdara uma olaria meio falida e a mãe e a irmã dez anos mais moça para sustentar. Morava com elas em Gravataí. Pela manhã, trabalhava na olaria. À tarde vinha fazer expediente na Imprensa Oficial e, ao entardecer, ia fazer um lanche na casa da tia e madrinha que era minha vizinha. Eu o aguardava para conversarmos dez ou quinze minutos, junto ao muro das casas que eram lindeiras. E era desses pequenos instantes no fim da tarde que ele se sentia saudoso. Logo após, corria para pegar as aulas do curso noturno de Contabilidade do Colégio Rosário. Tomava o último ônibus e ia dormir em casa para começar cedinho na olaria. Eram só uns minutinhos para o namoro.


Foto de 07 de janeiro de 1947, quando foi assumido o namoro, porque ele foi convidado para dançar a valsa da festa de formatura e meu aniversário de dezessete anos.

Naquela época, vendedores (imigrantes ou ciganos) ofereciam, de casa em casa, produtos importados. Havia um que chamavam de lote de linho (hoje eu diria um Kit) para fazer enxovais caprichados. Era bem rico: uma peça de linho puro, uma peça de um tecido de cor e de fina qualidade para fazer jogos de lençóis, uma dúzia de toalhas de rosto finíssimas, uma dúzia de outro tipo de toalhas mais simples e outras peças de que não me lembro bem. Minha mãe comprou logo três: um para mim, um para ela (que não tivera enxoval) e um para Leda que ainda namorava o Schifino por telefone. Foram logo contratadas especialistas para fazerem, e bordarem ricamente sobre lençóis, toalhas de mesa e peças com monogramas.

Dois anos se passaram como o vento. Nós nos divertíamos e preparávamos os enxovais. Deu tempo para a Leda terminar o Ginásio e continuar as aulas de balé. E eu quase terminei meu curso de nove anos de piano no Conservatório Mozart com direito à formatura no Theatro São Pedro e um solo de Chopin ou Mozart, meio assustada, naquele enorme palco. Não deixa de ser um mico para quem não tem vocação e estuda por modismo. O que sempre lembro desse episódio é que a direção do Theatro cedia o estabelecimento, mas não emprestava o piano de cauda. Como era exigência da escola que cada formando fizesse um solo, o piano do Diretor João Schwarz era transportado por uma empresa de mudanças com muito zelo.


Subindo ao palco pela mão do paraninfo, Dr. Francisco Juruena e ao piano. A formatura foi em 19 de dezembro de 1952.

Eu tenho outra carta com data de 29 de maio de 1951, quando ele me trata por querida noivinha. Já eram quase dois anos de noivado e o casamento estava combinado para dezembro. Eu passava uns dias em casa de uns primos muito queridos, Terezinha e Lauro, em Arroio do Meio. Ele diz ter uma boa notícia para me dar: foi nomeado Fiscal do Instituto de Carnes. Diz ainda: minha vida está melhorando e por conseguinte a nossa. Pelo jeito, o casamento estava garantido.


Foto do dia do casamento no sofá da sala de recepção juntamente com meus pais, Guido e Alzira.

Assim foi o noivado da bisa à moda antiga. Um ano de flerte, namoro no muro, passeios de mãos dadas na calçada, diversão com a turma da Visconde e algumas reuniões dançantes; dois anos de namoro assumido a partir de 7 de janeiro de 1947; dois anos de aliança na mão esquerda e, enfim, o casamento sonhado. Casamento religioso na Igreja São Pedro e civil na sala de recepção do casarão com direito a uma festa na própria residência e a muitas fotos com os familiares e os amigos. Aqui eu termino minha história simples de amor do século passado, e que hoje me dá saudades e emoção.


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