Mafalda Orlandini


15/01/2018 | Cinquenta Anos de Viuvez

Estamos em 2018. O final 8 me lembrou de uma data muito triste para mim: 1968. Fiz uma rápida conta. Sou boa em Matemática. Como assim? Já se passaram cinquenta anos que minha família ficou reduzida a três pessoas. Até então, eu era uma jovem senhora que tinha um casamento feliz e as finanças da casa administradas por um pai e marido zeloso. E agora, José? como diria Carlos Drummond de Andrade. Além da enorme dor, veio o susto de passar a ser o cabeça da família com dois pré-adolescentes para educar.

Meu marido era muito organizado e tinha um excelente amigo advogado que me orientou no momento mais crítico. Fez tudo como manda a lei: providenciou o Inventário, a Partilha, a liberação da venda de um dos carros para as primeiras despesas e a pensão do INSS que, naquela época, foi muito boa. A Previdência, então, era pródiga (depois foi criando novas leis e cortando vantagens). Eu fiquei com uma linda residência que acabáramos de construir com muito amor e muitas economias e uma casa de veraneio no Imbé. Cada filho recebeu o seu apartamento, como era desejo do pai. Tudo tranquilo para uma mulher que soubesse o mínimo de administração.

Hoje, meio século depois, resolvi fazer uma análise dos meus erros e acertos. O meu primeiro e maior erro foi vender a nossa casa que havíamos construído com tanto “esmero” (conforme o programa do Luciano Huck). Não aguentei ficar um tempo naquele “ninho” até amainar a minha dor e cair na realidade. Nem coloquei à venda, mas os corretores descobriram um prato cheio, uma viúva confusa. Apresentaram um simpático senhor que logo trouxe a família que adorou o imóvel. Ofereceu uma entrada razoável e dois apartamentos de dois dormitórios em Petrópolis. Foi tão fácil negociar que pensei que seria sempre assim. Ledo engano, diria o poeta.

Nunca esqueci o nome do comprador da minha casa: Manoel Soares Leães. Só soube muitos anos depois, quando li uma entrevista dele a ZH. Não era nada menos que o piloto, fiel amigo, confidente e procurador de João Goulart. Aquela era a morada ideal para trazer a família do Rio de Janeiro mais perto do Uruguai onde permanecia assessorando o ex-presidente. Não fiz um mau negócio, mas, se soubesse a importância da compra para aquele senhor, com certeza, conseguiria melhorar a oferta.

A sucessão de erros foi acontecendo e me forçou a passar por dez residências desde aquele infausto 1968. Durante décadas, o único bem imóvel conservado foi a casa do Imbé. Bendita casa que abrigou a união e os melhores momentos de minha família em muitos verões. A porta sempre esteve aberta para todos os que nasceram e os que se agregaram à família: companheiros, companheiras e netos. Quando nos reunimos (os quinze), sempre nos lembramos com saudades daquela época.


Fachada da casa do Imbé

A besteira seguinte foi pensar que poderia adquirir um imóvel que não era para o meu bico. Dei um a razoável entrada e cai nas garras do malfadado BNH. As prestações subiam desenfreadamente e tinham ainda um tal de seguro compreensivo que surgia de seis em seis meses (se não me engano), uma mensalidade dupla. Os apartamentos dos meninos ficaram desalugados. Havia o condomínio para pagar. A venda dos apartamentos que havia recebido não foi suficiente. Era o tempo da inflação descontrolada. O jeito foi vender aquele em que morava e me e mudar para um dos deles. Quando aquele filho, casou, fui morar no outro que, depois de um tempo, também casou. Daí fui mudando, mudando, alugando um atrás do outro. Parecia praga: depois de um tempo, os proprietários solicitavam a desocupação imóvel por um ou outro motivo.

Em um dado momento, resolvi que era hora de tentar comprar um imóvel. Outra bobagem: comprei um imóvel na planta. Entre paradas, brigas e mudanças de construtores, se passaram 12 anos para ficar pronto. Desde 2000, moro aqui, dando bom dia para o rio, almoçando, jantando vendo os barcos e os velejadores passarem, curtindo o pôr-do-por do Guaíba e dando boa noite para o meu Rio querido.


Alguns familiares em meu aniversário.

Creio que as mulheres de hoje são mais preparadas para a vida. Administrariam melhor os bens herdados, seriam mais vivas. O que importa é que cheguei até aqui. Fiquei muito feliz em poder comemorar meus 88 anos, cercada de todos os meus familiares. Meu coração e a razão me dizem que consegui conservar o tradicional e descontraído clima da “casa da mãe”. com muito espírito de união e amor”. Obrigada por viver.


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