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Mafalda Orlandini
11/08/2014 | Saudades do Papai
Ouvir falar em “Dia dos Pais” deu-me muitas saudades do meu. Tive a graça de ver meus pais comemorarem setenta e dois anos de casados. E claro, desfrutei da infância e da adolescência protegidas e tranquilas de um casamento estável. Hoje, entretanto, quero fazer um retrato só do meu pai e recordar o que ele representou para mim, a filha mais velha.
José Guido Orlandini aos 30 anos
Era um homem muito bonito. Eu me orgulhava de ter o pai mais “gato” entre as minhas amigas. Podia constatar isso pelos comentários e admiração que demonstravam. Era um homem sério, que não abraçava nem beijava os filhos. Quando muito, colocava-os no colo. Confessou-me um dia, já idoso, que nunca tivera jeito de beijar um filho, pois pensava que isso eram pieguices, coisas de mulher. Disse-me que só conseguira fazê-lo, quando já era avô. Também nunca trocou uma fralda, fez uma mamadeira, levantou para atender um filho durante a noite. Eram obrigações da esposa. Também nunca deu uma palmada num filho. Fazia-se respeitar pela sua postura. A um homem, segundo pensava, cabiam outros deveres. Prover o sustento da casa, providenciar boa educação e saúde para a mulher e os filhos o que realizou magistralmente, e com muito orgulho de sua prole,
Foto da família em 1947
Sempre foi muito trabalhador e conseguiu ser um importante empresário na década de quarenta e cinquenta apesar de não ter conseguido estudar como gostaria. Falava um Português correto, lia o Correio do Povo atentamente todos os dias e ficava a par do que acontecia no mundo. Era excelente em Matemática e fazia cálculos com facilidade, naquela época, sem máquina de calcular. Caprichoso, sempre andava bem vestido e penteado no capricho.
Papai em jantar com amigos empresários. Ele é o segundo à esquerda.
Mas vou dar um salto no tempo e falar sobre seus sonhos. Assim que teve oportunidade, comprou um bom lote de terras no Beco do Cego (Lami), junto ao Guaíba. Era o lugar ideal para construir o Haras Realce e se dedicar à agricultura em pequena escala. Logo que foi possível, iniciou as construções que planejara. Papai não era de coisas pequenas. Mandou construir uma fieira de cocheiras individuais, uma casa para o tratador, um galpão, um lago para os puros-sangues fazerem exercícios. Estava sentindo-se realizado.
Cocheiras do Haras
Papai era um homem muito ativo e gostava de criar, de produzir. Fez muitas outras construções: moradias para os funcionários, para os japoneses que contratara para produzir hortaliças. Experimentou plantar arroz de mudas, criar codornas, tilápias em reservatórios e porcos de um modo inovador, em chiqueiros limpos. Foram anos em que experimentou tudo que poderia dar dinheiro e prazer. Nem tudo deu certo, mas era um empreendedor por natureza.
Papai em frente a última casa na fazenda
De cinquenta a setenta, foram anos de crescimento da família. Os quatro filhos casaram e todos enriqueceram a família com novos membros. Ao final, foram treze netos muito bem-vindos. Foi construída uma casa maior para acomodar a todos nos fins de semana. Na agenda de cada um, estava determinado: de sexta a domingo, todos no Beco do Cego. Foram anos muito felizes de convívio familiar.
Papai, mamãe e os filhos: Mafalda, Benito, Lourenço e Leda.
A mais doce lembrança que tenho do meu pai é das conversas de nossos fins de semana em que revelava sua alegria em ver todos juntos se divertindo. Era um pai diferente daquele empresário de pouca conversa dos anos anteriores. Nos últimos anos de convívio, fui sua companheira assídua e confidente. E eu me orgulho de ouvi-lo com paciência, contando suas histórias e abrindo seu coração.
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