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Mafalda Orlandini
13/05/2013 | O Almoço de Duas Irmãs Bisavós
Tenho uma única irmã, Leda. Meus queridos irmãos já não estão mais conosco. Nós sempre nos falamos periodicamente e nas inúmeras comemorações familiares. Houve um tempo, quando eu ainda dirigia, que ia buscá-la para um cineminha. No sábado, dia quatro de maio, ela me telefonou perguntando se eu tinha algum compromisso para o domingo. Tanto ela como eu, sempre temos a agenda cheia por: convites de filhos e netos. Agora ainda vamos ter os aniversários dos bisnetos. O domingo, excepcionalmente, estava livre para ambas. Convidei-a para almoçar.
Claro, só chegou às duas horas porque esperou carona de um filho e o trânsito trancou na altura do Beira Rio. Não importa, domingo é hora de relaxar. O almoço foi preparado pela Jane que cozinha muito bem: medalhões de filé ao molho madeira e cogumelos, purê com creme de leite, arroz branco e salada verde. Nós começamos a nos divertir, quando nos serviu a sobremesa, porque, para ela, prata ou cristal, dourado ou prateado é a mesma coisa. Pedi que servisse em umas taças de cristal com filete dourado. Ela foi à prateleira de antiguidades e pegou duas taças de prata de mais de cem anos que são herdadas da minha sogra e nunca foram usadas. Só mando polir de vez em quando. Afirmou que tinha lavado bem antes de colocar a finíssima sobremesa: sagu com creme de leite. Não parou aí. Pedi que trouxesse um cafezinho sem açúcar como minha irmã gosta. Veio ela, solícita, com uma minúscula xicara de porcelana chinesa em uma bandeja em que caberia uma dúzia. Foi também da minha sogra e não é lavada nunca. Só tiro o pó toda semana. Mas uma coisa ela acertou: a colherinha de prata que eu recomendo para as visitas. Então nós três demos boas risadas e ela nos tirou uma série de fotos, porque disse que não fazia click e ela foi apertando, apertando...
A tarde foi proveitosa, pois tínhamos muito para conversar, já que estávamos “enfim sós”, sem a prole. Ficou um rico material armazenado para futuras crônicas. Também entendemos nosso pai que herdou o pensamento de vovô sobre o papel social das mulheres. Elas são donas de casa, seu lugar é no lar. Os homens devem ganhar dinheiro e trabalhar para sustentar a família. E foi isso que fez conosco. Quando os filhos foram terminando o ginásio, encaminhou os homens para continuar os estudos. Nós duas fomos aprender piano, gaita, balé, costura, bordado, culinária. Fizemos tudo certinho. A Leda largou o balé porque atrapalhava os estudos, perdeu o ano, ainda estava no ginásio. O papai a trouxe de avião do Cassino, onde estávamos passando o verão para fazer exame de segunda época. Rodou em Português. Eu fiz o curso de oito anos no Conservatório Mozart e cheguei a tocar duas peças de Chopin no Theatro São Pedro, quando me formei.
Voltei a estudar, incentivada pelo meu marido, aos trinta e dois anos. Hoje sou professora aposentada, aguardando o tão chorado piso do magistério que os governantes prometem e nunca chega. A Leda nunca mais estudou, mas não fez falta, com o marido e os filhos abriu lojas. Hoje ela é empresária e matriarca do clã das Lojas Trópico. Podemos, enfim, afirmar que ambas cumprimos o papel social das mulheres modernas: profissionais, empresárias, donas de casa, felizes e cercadas do carinho dos familiares.
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