Mafalda Orlandini
29/07/2013 | Rua da Praia, e o Sonho de Consumo
Rua da Praia é a mais antiga de Porto Alegre. Iniciou às margens do Guaíba e estendeu-se, através dos anos, até a Praça Don Feliciano. Como o cais ficava no início da rua, ali desembarcavam as mercadorias para a cidade. Logo foi surgindo a Praça da Alfandega, onde se estabeleceram os primeiros vendedores atacadistas. O tempo foi passando, fizeram inúmeros aterros e moradias. Historiadores dizem que havia casas de até três andares. Comerciantes abriram lojas elegantes, surgiram cafés, confeitarias cinemas, restaurantes bancos. Tornou-se o centro comercial, cultural, financeiro da cidade. Em 1865, passou a chamar-se oficialmente Rua dos Andradas, mas o nome que ficou na memória popular é o antigo.
Na década de 40, sempre tínhamos hóspedes em casa. Ora os parentes do interior, ora os amigos do Rio de Janeiro. Todos eles queriam conhecer a Rua da Praia, passear, fazer compras, ir ao cinema, até só para olhar vitrinas e fazer “footing”. Seguidamente, os do interior, mesmo nunca tendo vindo a Porto Alegre, pediam que comprássemos algo que sabiam existir em determinada loja porque alguém já comprara. Os tecidos deveriam ser da Casa das Sedas: As bijuterias, bolsas, roupas íntimas deveriam ser compradas na Casa Sloper: Os perfumes e os produtos de maquiagem mais procurados eram da Casa Krahe: Encomendavam sapatos da Casa Louro e relógios da Casa Masson. E assim ia a lista de exigências.
Havia muitas outras lojas cujos nomes não me ocorrem no momento. Rapidamente foram surgindo novos varejistas que ficaram conhecidos. Lembro-me da Loja Guarani da dona Mafalda, na Rua Doutor Flores, onde comprava peças para meu enxoval. Também ficou famosa a Casa X, na Rua Doutor Marechal Floriano Peixoto pela variedade de seus tecidos e pelo preço. As ruas transversais encheram-se de estabelecimentos para todo tipo de cliente.
Minha mãe tinha uma comadre, que sempre que vinha do Rio, queria levar uma joia da Joalheria Foernges. Mamãe embarcava na onda e também queria ganhar uma. Arrumavam-se com capricho, iam para uma confeitaria famosa da Galeria Chaves tomar um chá com doces e fazer compras. Elas aproveitavam para comprar chapéus numa conhecida chapelaria daquele tempo, cujo nome não lembro. Depois os maridos pagavam as contas.
Alzira Orlandini e Isaura Ferrari (irmã de Fernando Ferrari). No canto da foto (esq.) vovó Ana
Uma tia, irmã mais moça da minha mãe também vinha passar temporadas em nossa casa. Vovó Carolina já havia casado os outros nove filhos, temia que ela ficasse solteira e desamparada. Vinha para o Portinho ver se arrumava marido. Preocupação infundada: acabou casando duas vezes. Desfilar na Rua da Praia era o jeito de colocá-la na vitrine. A tia Araci foi muito querida. Era alegre e adorada pelo meu marido e meus filhos pelas piadas que costumava contar. Deixou ótimas lembranças.
Alzira e sua irmã Araci Voges, com trajes da época, desfilando na Rua da Praia.
Nós, adolescentes, também adorávamos desfilar. Muitas vezes, saíamos do Colégio Bom Conselho e íamos fazer uma comprinha ou degustar uma banana Split nas Lojas Americanas. Não éramos de gazear aulas, mas, às vezes, íamos até de uniforme do Bom Conselho para ouvir as piadas dos estudantes que ficavam junto às calçadas. Eram sempre comentários respeitosos, diferentes das cantadas de hoje.
Alunas do Colégio Bom Conselho fazendo “footing”: Lilian Wild, Mafalda e Dolores Scholz.
Havia fotógrafos que estavam sempre de plantão porque ganhavam um bom dinheiro com suas fotos. Os turistas sempre iam fazer compras nas lojas elegantes do então coração de Porto Alegre. Nós também gostávamos de guardar aquelas lembranças. Todas as fotos que estão aqui são dos fotógrafos de plantão da querida Rua da Praia.
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