Mafalda Orlandini
01/08/2016 | Comunicar-se
Quando vejo a polêmica criada em torno do bloqueio do WhatsApp e do estrago que faz na comunicação e nas finanças populares em poucas horas, eu me reporto à minha adolescência. Na década de 50, nós tínhamos, com muito orgulho, um telefone instalado em nossa residência. Isso era considerado um luxo das famílias mais abonadas e de certos estabelecimentos comerciais e repartições públicas. A comunicação obsoleta, precária e inoperante, era proporcionada pela ITTC, uma companhia americana. Para uma ligação fora da cidade, era necessário acessar uma central telefônica e entrar na fila por algumas horas. A telefonista era quase sempre estressada com as reclamações e as demoras. Era tão difícil falar e escutar que sempre me lembro do vovô Vasco (avô do meu marido) falando para a estância dele em Guaíba. Uma filha dele (a. tia Clory) era minha vizinha. Ele precisava berrar para ser entendido na outra localidade e toda a vizinhança acabava a par do assunto.
Nosso telefone daquele tempo ficava em um nicho na parede do hall de entrada.
Obter um telefone, naquela época era utopia. Quando Leonel Brizola se tornou Governador, percebeu que aquele descaso da companhia americana (ITTC - International Telephone and Telegraph Corporation) era um entrave ao desenvolvimento do Rio Grande e causava enormes prejuízos comerciais e culturais, começou um movimento para encampar a Companhia Telefônica Nacional (nome da ITTC no RS). E conseguiu, depois de muita polêmica, assinar o decreto de encampação da referida companhia em 16/02/1962.
O governador Leonel Brizola, assina o decreto 13.186 de fevereiro de 1962, nacionalizando os serviços de telefonia no RS, dando origem à CRT.
Mas não foi tão simples assim. Trocar toda tecnologia antiga, treinar pessoal para operar corretamente e levar os telefones até o público levou um tempo considerável. Eu havia me casado em 1951. Nós começamos a sonhar em adquirir um telefone para nossa casa em 1964. Assinamos um contrato com a CRT em maio desse ano. Guardo até hoje a documentação (reconhecida pelo Cartório Trindade) em que assumimos o compromisso de pagar prestações de CR$ 10.000 cruzeiros mensais até chegar a CR$ 220.000. Nada menos que 22 meses.
Mercadoria paga, mas não recebida. Terminamos de construir nossa casa e nada de telefone. Ele só foi instalado em fevereiro de 1968. Justamente quando voltava da missa do sétimo dia do falecimento do meu marido. Lembro-me bem. Quando chegaram os funcionários da CRT, revoltada, corri com eles. Meu marido queria tanto esse telefone, agora morreu, não precisa mais. Os funcionários ficaram espantados. Ainda bem que meu pai estava em minha casa e interferiu. Argumentou que agora era o momento em que mais iria precisar, pois estava sem meu marido e responsável por duas crianças.
Fiquei só com esse telefone da CRT até a década de 90, quando todos começaram a comprar celulares. Eu resistia porque pensava que não seria capaz de domar aquele aparelho que era complicado demais para o meu gosto e não me obedecia. Meus filhos viram que eu estava ficando para trás no tempo e me presentearam com um “lindo” celular. Não o troquei até ficar obsoleto e ganhar outro.
O que acontece hoje com a comunicação, todos conhecem. A novidade de ontem será velharia amanhã. A criançada de hoje já nasce dominando toda a parafernália que lançam no mercado. As pessoas ficam esbravejando quando ficam umas horas sem o WhatsApp e nem sonham que esperávamos anos para obter um simples telefone. Como éramos conformados!!!
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