Mafalda Orlandini
17/10/2016 | Sem consenso I
Quando vejo, pelos meios de comunicação, as discussões, as ofensas, as agressões entre as pessoas por diferenças políticas, religiosas ou por preferências futebolísticas sei que são próprias do momento e do contexto social. Só me arrepio quando chegam ao extremo de matar-se por ideias que, em um futuro próximo, poderiam nem defender. Embora muitos exagerem, isso nunca vai acabar. Faz parte da vida em sociedade.
Por outro lado, tenho o hábito de me atualizar sobre temas polêmicos que, volta e meia, voltam à baila pelo mundo afora. Inclusive, procuro saber as opiniões de outras pessoas, mesmo que não sejam compatíveis com a minha. Sempre é para contrabalançar.
RACISMO é um tema recorrente, principalmente agora com a facilidade de divulgação instantânea pelos meios de comunicação. A própria pessoa ofendida ou agredida expõe sua revolta pelos sites. Às vezes, me vem à memória o que pensava em outros tempos. Por exemplo, na década de sessenta, participei de um debate na Faculdade sobre o racismo. Questionava-se a situação da população negra no Brasil.
Eu era convicta de que não havia racismo no Brasil. Hoje sei que minha avaliação era muito pessoal. Eu tinha uma afilhada negra, filha da mulher que lavava nossas roupas do dia a dia (não havia máquina de lavar). Convivia com os empregados negros da Granja e tinha amigos de outras raças.
Minha cabeleireira, uma negra com muito orgulho, me convidou para a festa do seu casamento na Sociedade Floresta Aurora, quando conheci toda a sua família e a do noivo. Desde então, não perdi mais nenhuma festa de aniversário, formatura ou batizado, virei convidada frequente da família. Eram festinhas muito descontraídas, divertidas, movimentadas, alegres. Sempre aparecia alguém para cantar ou tocar e, às vezes, até se dançava. Era diversão garantida. Já se passaram cinquenta anos daquele casamento. Ela teve cinco filhos e vários netos. Eu já tenho bisnetos. Durante muitos anos, confidenciávamos nossos problemas e nos aconselhávamos. É minha amiga até hoje.
Foto de aniversário de 15 anos da Luciane (ao centro), filha daquela a que fui ao casamento.
Tenho outros amigos, mas vou comentar só sobre mais dois. O primeiro é o porteiro do consultório do meu dentista. Já me atende há tantos anos que já me tira dos carros, me dá um beijinho, brinca com meu filho e o neto que é meu noivo e futuro padrasto. Faz questão de me levar pelo braço até o elevador. Deve ter uns sessenta anos e é muito divertido com seu vozeirão característico. Outra amiga que vem me visitar sempre que pode dar uma fugidinha do serviço é a faxineira do meu prédio. No verão, eu sou a fornecedora de uma água sempre geladinha.
Naquele tempo, na década de sessenta, eu defendia que havia um “certo” preconceito: havia sociedades e clubes de negros e brancos. Era e é um costume herdado de seus antepassados que vieram de partes muito diferentes do mundo. Só isso, mas na vida diária o convívio era natural. Eu me baseava no meu mundinho particular. Pelo que vi no decorrer da minha, hoje sei que existe, sim, um racismo mascarado na cabeça de muitos que teimam em se achar superiores pela cor de sua pele assim como existem ricos que se acham melhor que os pobres. Acredito que essa mentalidade tacanha não vai mudar nunca.
Acabei escrevendo mais do que pretendia. Na próxima semana, vêm mais temas que nunca chegam a um consenso.
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