Mafalda Orlandini


08/04/2013 | O Casal Vinte da Rua Visconde

Meu pai era um homem muito bonito. Tinha uns olhos azuis de fazer inveja a qualquer um. Era elegante, vaidoso e mandava fazer seus ternos, às vezes, brancos (era moda) em uma alfaiataria muito conhecida na época. Era, o que se chama hoje, um gato; naquele tempo, um pão. Empresário bem sucedido, sempre desfilava com um carro do último ano.

Minha mãe era elegante, sempre bem vestida, com roupas exclusivas, feitas pelas melhores modistas da Capital. Comprava seus chapéus em uma chapelaria famosa na Rua dos Andradas. Também estava sempre bem penteada, pois tinha uma cabeleireira que vinha em casa todas as semanas. Sempre era a mesma cabeleireira que não era dispensada nem quando ia veranear. Meu pai pagava a cortesia de um veraneio em Capão da Canoa ou no Cassino. A vida social de minha mãe se resumia aos jantares no Clube do Comércio ou a desfiles na Rua da Praia com as amigas para fazer compras. Também ia a uma Confeitaria na Galeria Chaves para tomar chá com doces ou degustar uma Banana Split.


José Guido e Alzira Orlandini em Capão da Canoa-RS (1944)

Tudo corria tranquilo com o casal e quatro filhos que viviam em uma bela casa na Rua Visconde. Um dia, encontrei minha mãe aos prantos. Mal podia falar, mas disse que meu pai tinha uma amante. Naquele tempo, era muito diferente. As mulheres eram mais submissas, dependentes em todos os sentidos, temiam o desquite como uma segregação social. Por isso, aguentavam caladas as escapadelas dos maridos. Ela era apaixonadíssima pelo meu pai e temia as consequências se reclamasse. Esse era o drama.

O pior é que minha mãe tinha motivos para desconfiar. Meu pai vinha, muitas vezes, de madrugada porque ficava jogando no Clube do Comércio. Naquela época, o carteado era permitido nos clubes. Ele trazia para os filhos os baralhos usados na noite e barras de chocolate Diamante Negro. Costumo dizer que esse foi o chocolate mais caro que comi na minha vida, já que as más línguas falavam que, não raro, ele perdia muito dinheiro.


Casa na Rua Visconde do Rio Branco, 734. Na sacada as irmãs Aracy e Alzira. Na varanda Lony Maria e Lourenço Orlandini.

No outro dia, ela não aguentou e enfrentou o marido. casa tremeu e a relação do casal vinte mais ainda. Vou matar essa mulher foi o que bradou meu pai. A Rosinha, a empregada fofoqueira, era muito viva e se escondera no terraço de uma construção nos fundos da casa. Meu pai procurou na casa, em todos os cantos, na rua, mas não se lembrou do terraço. Como era dia de jogar, foi acalmar sua ira no Clube. A Rosinha arrumou sua malinha e sumiu na vida.

Veio a calmaria depois da tempestade, entretanto o ambiente era tenso. Certo dia, papai me levou à aula de costura na Avenida Farrapos, como era costume. De repente um anjinho me cochichou ao ouvido e eu liguei tudo. Não via hora de chegar em casa e perguntar para mamãe como era essa amante .Ela explicou que era muito jovem, bonita, loira de cabelos compridos e que ele a levava , pela manhã, a uma casa na Avenida Farrapos. Comecei a rir, dizendo que a amante, com certeza, era eu, que ele levava para a aula de costura.


Mafalda Orlandini aos 16 anos.

Hoje fico refletindo em cima dessas maledicências corriqueiras que ponteiam nossas vidas. Penso também como a situação da mulher evoluiu desde então e lembro o pavor que significava a separação e o desquite. Neste século XXI, o casa-descasa é até piada. E tem mais, nem tudo que parece é. Eu era o tipo descrito pela empregada e tinha 18 anos e meu pai 39. Era um prato feito para uma fofoca que, naquele tempo, ia aumentando de boca em boca muito depressa. Hoje, com a internet que não corre, voa, é preciso pensar muito no que se divulga nela, no que, realmente se viu, pois pode causar muita confusão e sofrimento.


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