Mafalda Orlandini
22/10/2018 | Ainda o Casarão da Família Orlandini
Continuando: ao lado da sala nobre, bem no centro do amplo hall da entrada, apareciam majestosas mais duas portas brancas. Elas davam acesso a uma sala de jantar fora de série. De imbuia escura, sua mesa de tamanho especial, aberta em mais dois estágios, permite a acomodação de 10 a 12 convidados. Tem seis cadeiras comuns e mais duas cadeiras com braços. O balcão é mais alto e mais comprido que outro de qualquer sala comum, tem quatro portas. Também faz parte desse conjunto uma cristaleira que, quando cheia de cristais, é uma verdadeira joia. Meus pais, quando se mudaram para o interior, deixaram a sala comigo. Minha mãe quis levar a minha que era mais simples. Ficou comigo enquanto cabia no apartamento em que eu morava até então. Ficou na garagem da sogra do Ricardo enquanto ele terminava de construir a casa em Viamão. Então juntou-se à cristaleira que eu ainda conservava comigo. Desde então abriga nossos encontros familiares lá na casa do Ricardo.
A cristaleira.
Eu nunca havia pensado nisso. Talvez eu seja a única pessoa viva capaz de reproduzir como num filme aquele cenário de um passado tão distante. Os filhos do casal formaram outras famílias e sei em cada um vive. E sei também em que cada canto da cidade estão as relíquias que permanecem intactas daquele saudoso tempo. O meu dormitório está comigo. Minha irmã conserva em seu próprio quarto algumas peças preciosas do dormitório de meus pais: duas mesinhas de cabeceira e uma linda penteadeira estilo clássico. O irmão mais moço de mamãe, tio Edgar, negociou com ela a outra sala de jantar que havia no casarão, quando ele foi demolido. Era a sala das refeições diárias. Se não me falha a memória é de madeira laqueada em preto, balcão com um tampo de mármore com respingos vermelhos e uma cristaleira com vidros trabalhados em pedacinho retangulares. Minha prima Rosane convidou-me para vê-la, quando voltou impecável do restaurador.
Ainda havia espaço na sala para meu piano. Eu, depois de nove anos de estudo, ia me diplomar no Conservatório Mozart. Precisava treinar muitas horas por dia para saber interpretar sem partitura uma peça de autores clássicos que seria sorteada na hora do exame entre uma lista que os professores me mandaram preparar. Colocava o Oscar para dormir lá no andar de cima, no meu dormitório. Não levavam 15 minutos para ele acordar, botar a boca no mundo. Alguém tinha que trazê-lo. Não sossegava enquanto não vinha até o piano para bater nas teclas. Fim do estudo. Não sei como consegui aprovação e ainda interpretar uma bela peça no piano de cauda do Conservatório que era transportado ( sob mil cuidados ) para o Theatro São Pedro, local da formatura. Parece que isso é história de outra pessoa.
Eu, subindo ao palco do Theatro São Pedro e ao piano.
Minha irmã e eu tivemos nossas festas de casamento no próprio casarão como seria o óbvio. Era luxuoso e espaçoso o suficiente para oferecer uma bela comemoração. E não poderia faltar uma foto dos noivos com o bolo. Eis a minha na mesa principal da sala.de jantar.
Foto dos noivos com o bolo.
Minha festa teve menos convidados porque a família do noivo era pequena e vieram poucos parentes nossos do interior. A sala deu conta de todos. A família italiana do Schifino, ao contrário, é numerosa e festeira. O casarão ferveu. Espalharam-se convidados pelas duas salas de jantar, pelo jardim de inverno (belíssimo, com samambaias escorrendo pelas paredes), e até no jardim do palacete. Foi uma festa e tanto, inesquecível. Em 1953, começaram a chegar os novos moradores. Vou contar na próxima vez. Por hora chega.
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