Mafalda Orlandini
17/12/2018 | A vida que eu vivi.
Ler o livro que o Oscar me trouxe foi mergulhar no passado do bairro. Parece que foi escrito para mim. Tudo é autêntico, verdadeiro e comprovado por imagens que eu conheço muito bem: Moinhos de Vento - Memória e Reconhecimento. Ali estão contadas partes da história do bairro e relatos sobre instituições que surgiram a partir da década de vinte mais ou menos. Ora, eu vivi ali desde a minha infância até 1960. Sou testemunha viva de tudo aquilo. Vale a pena recordar.
Minha residência ainda não era no bairro Moinhos de Vento, mas eu já tinha uma ligação com ele. A Rua Visconde do Rio Branco termina no morro Ricaldone e defronte à casa da Família Corbetta. Eu morava a meia quadra dali. Costumava levar meus hóspedes a tirar fotos ali, junto à escadaria
Foto com a prima Therezinha.
Foto de minha mãe apoiada no parapeito no final da década de Quarenta
Minhas aulas de bordado foram no Chalé Suíço. Estudava no Colégio Bom Conselho e, em 1946, concluí ali meu Curso Ginasial. Pegava o bonde da Carris, pagava a passagem com um tíquete amarelinho, adquirido com antecedência e chegava à Ramiro Barcelos. Subia a ladeira correndo porque sempre estava meio atrasada e levava um pito da irmã da portaria. Em 1962, voltei a fazer o Curso do Magistério, mas, então, já era casada e meu marido me dava carona. Portanto o CBC está nas minhas mais doces memórias de estudante.
O que mais me emocionou foi o relato da criação do Hipódromo e o documentário fotográfico do que conhecíamos como Prado. As fotos panorâmicas da bacia me levaram ao tempo em que íamos aos domingos ver as corridas. Meu pai nos levava de carro e estacionava em um ponto reservado aos sócios junto à pista. Ali torcíamos para os cavalos de sua escuderia. Amávamos curtir esse programa.
Foto da minha irmã Leda com a potra Dragonisa, o jóquei e o tratador em 28/03/54
Ao ver o jóquei, me lembrei de que meu pai me pediu para fazer uma camiseta (não sei se foi essa). Trouxe um modelo e um boné. Argumentei que nunca fizera nada igual. Daí me questionou sobre as aulas de costura que ele sempre me levara. Que remédio!!! Quando estreou a minha obra de arte, eu quis saber se dera certo. Disse que sim, mas que o jóquei fora multado porque perdera o boné. Jamais esqueci. (risos).
Foto panorâmica da bacia. (Foto Prado Moinhos de Vento)
No final da década de quarenta, mudamos para bem pertinho do Prado, o casarão da Vinte e Quatro de Outubro. Provavelmente, foi para ficar mais perto do Jockey, paixão do meu pai. Continuamos indo ao Prado todos os domingos até ele se transferir para o Cristal. Daí passamos a ir raramente porque já tínhamos o Haras Realce onde passávamos os finais de semana com os filhos que tinham outras diversões. O Oscar já tinha um petiço.
Ouvi muitas histórias sobre os contratempos da construção do Hospital Alemão durante a II Guerra. Foi muito bom comprovar os esforços da comunidade para que a obra saísse mesmo com o Brasil em guerra contra a Alemanha. No, hoje, Moinhos de Vento, nasceram meus dois filhos: um em 1953, outro em 1958. Grandes alegrias da minha vida.
Acompanhei a evolução da Hidráulica na década de 50. Ia caminhando pela 24 de Outubro para levar meus visitantes para conhecer a Caixa D’água e tirar fotos. Era missão obrigatória levar nossos hóspedes até a Caixa D’água.
Ao relembrar essa época tão excepcional e feliz da minha vida, tenho a convicção de que eu vivi num mundinho à parte. Sabia das reviravoltas que o mundo dava (guerras, ditaduras, revoluções, tragédias, terremotos, etc. etc. etc.) mas nada disso chamuscava o meu pedacinho de Brasil que ainda eu acreditava ser um paraíso neste mundão de Deus. Só tomei meu banho da realidade, quando meu marido faleceu em 1968.
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