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Carlos Mello
27/04/2011 | 415 - O início do obscurantismo
No século V, a ignorância e desconhecimento predominavam nas populações humanas, surpreendentemente existia uma civilização em que estava florescendo uma cultura científica. Sua base era a biblioteca de Alexandria, que era a maior cidade do Egito. Nesta época a dominação romana sobre o Egito estava em decadência. Esta biblioteca, construída por reis gregos no século III a. C. durante sete séculos, de 280 a.C. a 415, reuniu o maior acervo cultural e científico então existente, milhares de rolos de papiro e livros guardavam todo o conhecimento até então conseguido, igualava-se culturalmente a Atenas, mas Alexandria era o cérebro cultural do mundo antigo, era o local preferido dos interessados em ciência. Poderia ter deixado notável contribuição para o desenvolvimento se não fossem as hordas cristãs, eivadas de inveja, intolerância e total ignorância, terem iniciado a época de obscurantismo para a humanidade.
Nesta cidade tinha uma exceção, uma mulher excepcional, chamava-se Hypatia, (370-415 d.C), filha de Theron, um importante funcionário do Museu de Alexandria, do qual ela herdou o conhecimento transmitido pelo pai, ministrou aulas de Matemática, Filosofia e Astronomia no próprio museu. Era uma cientista, além de matemática e astrônoma era líder da escola de filosofia neo-platônica e diretora da Biblioteca de Alexandria. Foi uma das primeiras mulheres a fazer uma contribuição significativa ao desenvolvimento da matemática.
Numa época em que as mulheres eram artigo de 3ª categoria (atualmente ainda continuam assim em lugares com governos teocráticos), o pensamento de Hypatia estava muito além do seu tempo. Ela foi precursora numa área sempre dominada pelos homens e foi corajosa em contrariar os dogmas que estavam sendo impostos pelos fanáticos cristãos. Esta posição, de ser uma brilhante professora de matemática e astronomia, representava uma ameaça para a difusão do cristianismo, pois ela fazia defesa da ciência e do neoplatonismo. O fato de ser mulher e carismática fazia a sua existência ainda mais intolerável aos olhos dos cristãos.
Cirilo, o patriarca e arcebispo de Alexandria, odiava Hypatia por ela ser um símbolo da ciência e da cultura que, para a igreja, como sempre, representavam o paganismo e um perigo, pois fazia com que as pessoas pensassem, o que era inadmissível aos incipientes dogmas que estavam pregando à população completamente ignorante. Ele a detestava mais ainda porque não tolerava a idéia de uma mulher (nenhuma novidade os padres cristãos não gostarem de mulher), ter influencia sobre Orestes, que era o prefeito de Alexandria.
A indignação de Cirilo se fazia através de ameaças e pressão incitando os estúpidos seguidores sempre que podia, criando um clima de antagonismo para com a cientista. Ela foi acusada de bruxaria e paganismo, o que seria uma acusação natural dos cristãos, nos próximos séculos para qualquer mulher que se sobressaísse em algum assunto não religioso. Apesar do clima hostil criado por Cirilo e seus seguidores, ela continuou seu trabalho, o que era insuportável à tropa seguidora do Bispo.
No ano de 415, Hypatia, então com 45 anos, quando retornava da biblioteca, foi cercada pelos monges de Cirilo, levada a uma igreja, despida e esfolada até a morte com cacos de cerâmica. Seus restos foram queimados. A biblioteca, que era o maior referencial cientifico e cultural do Mundo Antigo, foi incendiada e suas obras, tesouros da cultura mundial, destruídas.
Hypatia, a primeira mártir do conhecimento (nenhuma outra mulher matemática foi registrado em mais de mil anos), foi assassinada devido à intolerância pelo fato de ser mulher, anti-religião, influente e principalmente por defender o livre pensamento, demonstrando o desprezo das religiões pela condição feminina. O que torna incompreensível que atualmente ainda existam mulheres razoavelmente inteligentes seguindo alguma religião.
Com este crime iniciou-se a idade média, melhor denominada de Era das trevas, dirigida por ignorantes religiosos que predominaram através do medo, aniquilando qualquer atividade que fosse mais sábia e avançada. O questionamento, que é a base da liberdade, foi transformado em pecado mortal, e em seu lugar foi instaurado o medo como forma de governar, mostrando a abismal diferença entre religiosidade e ciência e como é o verdadeiro “espírito cristão” de justiça.
A expansão do Cristianismo foi uma imensa derrota para a ciência, que era considerada bruxaria, mergulhando a humanidade no obscurantismo medieval por mais de dez séculos, onde a dúvida era pecado mortal devidamente “corrigida” com as chamas da inquisição. Mais uma vez evidenciando que a fé religiosa leva ao fanatismo, que se opõem à inteligência e evolução, sendo consequentemente uma inimiga da paz e prosperidade.
Cirilo, em reconhecimento pelos seus méritos de expandir a crendice do cristianismo, através da perseguição da comunidade científica e dos judeus de Alexandria, para a glória da Santa Madre Igreja, em 1882 foi canonizado e recebeu o título de "Doutor da Igreja". É o Santo Cirilo.
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