Carlos Mello
30/05/2012 | Pessoas especiais - Uma maravilhosa experiência de vida.
Normalmente não gosto de textos pessoais, mas fui convencido de expor esta narrativa devido ao maravilhoso exemplo que é de se encontrar pessoas maravilhosas.
A vida normal:
Em janeiro deste ano (2012), estava na fila de uma loja de telefone celulares na Rua da Praia, aqui em Porto Alegre e, na minha frente, estava um casal que, por estas coisas da vida, acabei conversando. Ela uma mulher bonita chamada Adriana, uns 40 anos, daqui de Porto Alegre, me contou que morava em Milão, que estava de passagem para visitar os familiares e iriam passar alguns dias no Nordeste.
Falei que tinha uma filhota de 16 anos que estava indo para Milão para trabalhar como modelo lá.
Então ela me contou que, por coincidência, ela também tinha ido como modelo, há mais de vinte anos atrás, e que acabou ficando e casando por lá. Me disse que sabia tudo sobre o trabalho de modelo, das dificuldades, da sensação de estar sozinha e que por isso se quisesse daria qualquer apoio para a Cindy (minha filha), que lhe procurasse, mesmo não precisando de nada, pediu para ela ligar só para conversar, “ainda mais sendo da minha terra” disse ela. Me deu um cartão e lembrou que estaria à disposição.
O marido, chamado Alberto, um cara muito legal e brincalhão, me falou num italiano misturado com inglês, que estavam de passagem por aqui para ele ver “as gostosas do RS” e ela para visitar a família. Tudo num tom de brincadeira. Gostei deles, custo a me enganar com pessoas.
A minha filha Cindy foi para Milão uns dias depois, antes falei que tinha conhecido um casal e que se ela quisesse seria talvez um bom contato. Passou três meses lá e não ligou. Nessa fase só se interessam por quem tem a mesma idade.
Imaginei que este casal seria talvez mais algumas dessas pessoas que se cruzam na vida e nunca mais se têm contato.
O Inesperado:
A Cindy ficou os três meses em Milão e retornou a Porto Alegre. No dia 18 de Maio, sexta, embarcou para mais uma temporada de trabalho em Milão, chegou no sábado. Na quarta a noite, quatro dias depois de chegar, ela nos liga se queixando de uma dor forte no estômago, recomendamos remédio para cólicas, a dor continuou e consultamos a ginecologista dela, nossa amiga, que recomendou tomar uma segunda dose do remédio. Ela tomou ainda um remédio para dor. Como a dor insistia e estava piorando, desconfiamos de algo mais grave. Quem tem filho imagina a nossa aflição, depois de um exame simples, orientado por um amigo médico, tivemos a quase certeza que poderia ser apendicite.
Pedimos então que ela fosse urgente para algum hospital buscar assistência, que depois se resolvia tudo, mas que saísse dali e fosse rápido procurar ajuda. Isto já era duas horas da madrugada.
A Cindy optou por avisar a sua coordenadora da agencia, esta agiu corretamente enviando um médico para examiná-la, o resultado foi que a enviou imediatamente para um hospital.
Nessa correria a nossa filha passou uma mensagem antes desligar o computador avisando que estava sendo levada para o Ospedale Niguarda, e a seguir perdemos contato.
A dor da impotência:
Qualquer um imagina o desespero que os pais sentem nessa situação. Total impotência, a distância, a falta de notícias. Tínhamos certeza que ela deveria estar assustada e desejando um de nós ao lado. Estávamos chorando, pois tínhamos a horrível sensação da perda do controle da vida de nossa filha.
Como um náufrago procurando uma balsa salvadora, me lembrei daquele casal que tinha conhecido há meses atrás. Eu não tinha mais o cartão, pois tinha deixado com a Cindy, e não recordava mais o nome. Então me lembrei que, de curioso, tinha “visitado” o endereço deles e marcado no Google Earth. Fui lá no mapa e achei a marcação e como tenho o hábito de colocar alguma observação, lá estava o nome dela.
Dei uma investigada no Google (sempre o Google) e achei o site dela e, mesmo com a minha esposa não acreditando muito, liguei e falei com o marido dela, o Alberto. Expliquei quem eu era e porque estava ligando, ele disse se recordava de mim porque eu havia dito que minha filha iria para Milão, o que lembrava a esposa dele, ela não estava e pediu que ligasse dentro de meia hora.
O encontro com pessoas iluminadas:
Uns vinte minutos depois a Adriana ligou (pegou o número do celular que ligamos) e foi muito querida, falou que imaginava a nossa situação e que iria apoiar a nossa filha, disse que iria ligar para o hospital e que retornaria em seguida. Ligaram depois de uns minutos avisando que a Cindy estava passando por uma bateria de exames e que ela iria até o hospital dar uma olhada.
Eu não imaginava que fossem tão maravilhosos assim. Eles moram a 35 Km do centro de Milão, menos de uma hora depois estavam ligando do hospital para avisar que chegaram a tempo de verem e falarem com a Cindy, que estava acompanhada de uma colega de quarto, as duas assustadas com aquela situação, na verdade duas pirralhas. Nos disse que a Cindy estava numa maca, indo para a sala de cirurgia, confirmaram que era apendicite, mas que ficássemos tranquilos porque estava sendo bem atendida e o hospital era muito bom. Nos avisaram que tirariam umas horas de trabalho para visitá-la após a cirurgia.
Conversaram com a Cindy, disseram para ficar tranquila, que eram nossos amigos que estavam ali para acompanhá-la e dariam todo apoio que precisasse.
Nós imaginamos a tranquilidade que transmitiram para uma guria entrando para uma cirurgia há milhares de kilometros de casa, num ambiente onde todos e tudo era estranho.
Esta amiga repentina conversou com o pessoal do hospital e com a agencia de modelos que a Cindy está vinculada se colocando à disposição para o que precisasse.
Horas depois eles retornaram ao hospital levando pijama, escova de dentes, material para cuidar do cabelo, etc. para alguém que estavam recém conhecendo.
Alem disto nos ligaram pelo Skype e, através de dois IPhones, ela e o marido nos mostraram o quarto, o corredor, ela sentada ao lado da cama conversado com a Cindy, nós pudemos ver e conversar olhando o rosto da filhota, então já bem mais tranquila. Os médicos entraram e ela os colocou na câmera para dizerem que estava tudo bem, que estava se recuperando bem rápido e sem problemas, isto já era quinta, próximo do meio dia.
Eles foram ainda na sexta e nos informaram da boa recuperação da filha.
Final feliz:
Minha esposa saiu sexta daqui de Porto Alegre e depois de 18 horas no ar, sábado à tardinha, estava abraçando a Cindy no Hospital em Milão. Horas antes de a Adriana e o Alberto estarem lá.
Atualmente a mãe está num hotel com a filhota, que se recupera bem e até vai continuar neste centro da moda para dar continuidade a seu trabalho, provavelmente num ritmo menor.
O susto passou.
O objetivo deste texto é mostrar como a vida pode surpreender com passagens tão marcantes e neste meu caso, de onde não se espera. Jamais imaginaria que este encontro, despretensioso com um casal numa fila de uma loja, meses depois me daria uma ajuda tão importante.
Estamos acostumados a ver notícias dos maus exemplos dos políticos, dos crimes, da falta de consideração generalizada, mas isto porque este tipo de noticias é comercialmente interessante, mas fora das páginas espetaculosas existem pessoas e histórias que deveriam ser referencias pela sua nobreza, mas que infelizmente são raramente noticiadas.
Motivo do texto:
Escrevi um email para alguns parentes contando este relato, acharam tão emocionante que me convenceram de colocar aqui.
Não dou o nome completo deste casal porque acho que não tenho este direito, já estou arriscando em colocar a foto dela junto à minha filha no hospital.
Ele é um italiano boa pinta, simpático que se revelou um companheiro à altura dela.
Ela é uma mulher linda, ex-modelo famosa que mora já há mais de vinte anos em Milão e ainda atua na área de moda e design de interiores.
Agradecimento:
Reconheço que não tenho como agradecer à altura.
Embora acho que não chegarão a ler este texto, quero dizer que me sinto muito feliz ter conhecido estes admiráveis representantes da raça humana, Adriana e Alberto, pelo altruísmo com que nos ajudaram e pela rica lição de humanismo da melhor qualidade que deram para nossa filha, ela certamente levará esta lembrança para toda a vida.
Eu e minha esposa ficaríamos muito felizes se nossa filha tiver uma vida balizada pelo exemplo que vocês deram de forma tão carinhosa.
Observações:
1 - Isto ocorreu entre os dias 18 de Maio 2012, sexta, dia em que a Cindy embarcou para Milão, até 26 maio 2012, sábado, dia em que a mãe da Cindy chegou ao Hospital Niguarda, onde ela estava.
2 - Desconsiderei a diferença de fuso horário, que é de 5hs a mais em Milão que Porto Alegre.
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