Carlos Mello
18/01/2012 | A precocidade cada vez mais cedo.
Entendo que a vida deve ser aproveitada de forma mais racional possível, já que acredito que não existe outra. Isto porque ela expira muito rápido. Mesmo já tendo esta visão quanto ao curto tempo de vida, me surpreende como se consegue alongar com qualidade esta nossa estada na terra.
Não acredito quando dizem que não se nota o tempo passar. Nota-se sim, tudo muda ao nosso redor, desde os animais, as edificações até a natureza. O que existe é um falso sentimento de que tudo é lento, pura ilusão.
Quando era jovem jamais imaginei que um dia chegaria aos cinquenta anos e ficaria igual aos “velhos” de roupas escuras e sem qualquer perspectiva de aproveitar a vida, na verdade pareciam que estavam numa espécie de corredor da morte. Hoje existem mulheres maravilhosas e homens inteiraços com 50; 60 anos ou mais, que não foi imaginado nem nos melhores filmes de ficção da época, pois a vida ativa praticamente findava por volta dos cinquenta anos. Hoje tenho bem mais que isto e me surpreendo com a expectativa que tinha quando guri.
Tenho um casal de filhos (Camila, 33 e Cássio, 30) mais uma filha (Cindy, 16), resultado de dois casamentos. Apesar de ouvir alguns dizerem que a educação piorou, que os filhos não nos respeitam mais e coisas do gênero, eu discordo completamente, se compararmos os jovens com seu pais quando tinham a mesma idade, a atual garotada está infinitamente mais bem informada, mais racional, tem mais liberdade, mais equipamentos, melhor nível cultural e são mais felizes.
Claro que não são todos, o problema é que os que roubam, causam acidentes, fumam crack, na maioria das vezes frutos de um mal ou inexistente planejamento familiar, são os que mais aparecem porque os “caretas” não vendem jornais.
Este intróito é para dizer da minha mistura de emoção, admiração e um pouco de remorso em ver minha filhota Cindy, de apenas 16 anos, estar indo trabalhar em Milão. Não me conformo com essa precocidade na vida desta garotada.
Emoção devido a uma estranha combinação de sentimento de perda com talvez um pouco de egoísmo de nossa parte (minha e dos familiares), por de repente se dar conta que temos uma filha com pouca idade em lugares onde não podemos protegê-la, ajudá-la, aconselhá-la. Enfim, está iniciando a voar com suas asinhas. Esta combinação nos causa um singular sentimento que nos faz chorar de felicidade. (Isto de dizer que “home” não chora é pura balela).
Admiração, misturado com um pouco de saudável ciúme, por ela estar fazendo o que gosta, de encarar um desafio difícil num lugar tão longe de casa, e estar se saindo bem numa área onde o sucesso mais parece uma utopia. Iniciou fazendo algumas fotos para propagandas e logo foi convidada para fazer parte da agencia Ford Models daqui de Porto Alegre.
Remorso, em eu não ter acreditado em sua capacidade. Pois ela tinha sido convidada no início do ano passado (2010) para viajar e fui contra devido ter que perder aulas ou até parar de estudar. Faltar um ou dois dias em São Paulo fotografando eu ainda admitia, não mais que isto. Por conta desta minha determinação ela não foi para o exterior antes. Fui preconceituoso em não acreditar na profissão de modelo, pois sempre dizia que o percentual de aproveitamento entre milhares de garotas lindas é muito pequeno, então fazia questão de só falar a respeito quando ela concluísse no mínimo o segundo grau. Na verdade eu acreditava que aquilo seria uma possibilidade muito remota e que depois de um ano a realidade seria outra. Me enganei. Felizmente me enganei, ela sabe que eu queria somente seu bem.
Sei que existem centenas de pais que deram a melhor educação possível aos seus filhos, mantiveram um bom nível familiar e principalmente tiveram consciência de terem o número de filhos que possibilitasse lhes dar boas condições de educação, e depois eles, como deve ser mesmo, abriram as asas e foram para o exterior, eu mesmo tenho outra filha que mora no exterior já há mais de dez anos.
Uma coisa que fico intrigado, e que não é muito notada, é que geralmente vão para o exterior o que temos de melhor aqui no Brasil, muitas vezes os mais bem preparados. Se não retornarem certamente farão falta nesse nosso oceano de mão de obra desqualificada.
Felicidades para a filharada de todos que também tem os seus fora do Brasil ou morando longe, é como se uma parte do nosso corpo tenha ido junto. Apesar de saberem que é a felicidade deles, a saudade é muito presente. Coisas da vida, dói, mas todos os pais, com o mesmo “problema” certamente estão satisfeitos por terem feito a sua parte corretamente.
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