Carlos Mello
09/04/2014 | Refinaria de Pasadena e a falta de competência.
Fui economista da empresa Petroflex, no Polo Petroquímico do RS por mais de cinco anos, essa empresa era da Petrobras, era o mesmo sistema de gestão. Eu era encarregado de acompanhar a parte financeira de todos os investimentos para sua instalação e depois de funcionando acompanhava os custos de produção.
Isto para dizer que conheço muito bem como funciona a gestão da Petrobras.
O grande problema desta imensa empresa é que apesar de ter bons técnicos, a gestão fica a cargo de políticos, que administram sem escrúpulos e sem capacidade de administrar algo, todos eles sem qualquer experiência administrativa em empresas privadas.
Funcionava assim: Os técnicos e engenheiros entregavam a relação de materiais a serem adquiridos e os serviços necessários a sua instalação, eram relatórios bem feitos, a partir desse passo entrava a burocracia, quase toda dominada por quem não tem o menor compromisso com resultados e muito menos com preços e nunca ouviram falar em serem responsabilizados por algum erro. Existiam tomadas de preços feitas por um departamento de contratos, e quem ganhava alguma licitação, geralmente combinada entre as empresas, tinha um preço de 100, no final o preço passava para 1000 sem existir qualquer responsabilidade.
Todos os anos se fazia uma previsão de gastos e investimentos, que eram bem acima do necessário, então sempre, em geral pelo mês de junho, vinha uma determinação para cortar investimentos para o governo não ter déficit, como as previsões eram acima do necessário, cortar gastos era fácil.
Podia se perguntar se o governo não controlava isto. Não controlava, só fazia de conta.
Existia um órgão que “controlava” as estatais, se chamava Secretaria de Controle de Empresas Estatais (SEST), e uma vez por ano vinha alguém de Brasília conferir os investimentos, era sempre o mesmo, um baixinho barbudo. Então um colega engenheiro chamado Ruberval, que atuava há anos na Petrobras em orçamentos, quis provar que não havia qualquer controle e que o cara de Brasília sabia nada, sequer olhava os mapas de investimento. Para isto colocou no orçamento dois itens que jamais passariam despercebidos por alguém com competência mediana, colocou “Compra de Patos para o lago” e “engradados de refrigerantes”, o que era um absurdo. E assim mesmo o orçamento foi aprovado.
A direção da empresa adorava o palerma da SEST, pois em alguns anos em que o governo determinou alguns cortes nos investimentos, o representante da SEST era tão incompetente com orçamentos empresariais de verdade, que nem percebia que os investimentos eram financeiramente reduzidos, manipulação contábil, mas fisicamente não havia redução alguma.
Na verdade o inspetor enviado, além de incompetente era muito pouco profissional, ficava até madrugada na boate Madrigal, na Av. Farrapos, em Porto Alegre, e quando chegava na empresa, ainda estava com os reflexos das noitadas, não tinha como fazer um trabalho razoável, principalmente em cima de planilhas com milhares de itens.
Outra vez fui a Rio Grande visitar a refinaria da Ipiranga para ter uma ideia dos seus custos e ver como funcionava seu planejamento financeiro. Fui muito bem recebido pela família que era dona daquela unidade. Fiquei impressionado que o custo de produção deles porque era cerca de um terço do da Petrobrás e da Petroflex. Quando voltei fiz um relatório e algumas sugestões. Levei uma repreensão porque não tinham me pedido sugestões para diminuir custos, tive que tirar do relatório esta parte.
Doutra feita, fui até Camaçari, na Bahia, para ajudar a implantar o sistema de custo numa outra unidade da Petroflex, com a determinação expressa de que deveria me restringir a ajudar a implantar o sistema Petrobrás e dar nenhuma sugestão.
Com estas determinações questionei se como economista minha função não deveria ser de racionalizar melhor possível a parte financeira da empresa, fui avisado para que fizesse exatamente o que o sistema Petrobras determinava, qualquer sugestão seria considerado uma quebra de hierarquia.
Resumindo: A Petroflex custou US$ 120.000.000 (cento e vinte milhões de dólares) e foi vendida alguns anos depois (1997) para a empresa INNOVA por U$ 240.000.000 (duzentos e quarenta milhões de dólares), Tinha cerca de 420 funcionários. Atualmente esta unidade pertence a LANXESS e possui cerca de 90 funcionários.
Isto para mostrar que sei bem como funciona a administração deste elefante branco chamado Petrobras, onde quem efetua um negócio qualquer nesta estatal NUNCA se responsabiliza, sabe que está completamente impune e escondido atrás da empresa.
No caso de Pasadena ocorreu o mesmo desleixo por parte de administradores completamente incompetentes, profissionais políticos.
Quando pensaram em comprar a refinaria, deveriam ter se informado primeiro quanto custaria para fazer uma, isto é tão básico que até um carroceiro que vai a procura de uma peça usada para seu veículo, pelo menos se informa ANTES do preço da nova. Se tivessem feito isto provavelmente nem teriam iniciado algum negócio, a não ser que houvesse interesse em desviar dinheiro, que é o mais provável.
Nem juntando o mais esperto vendedor do mundo com o comprador mais idiota seria possível vender A METADE de um carro que vale R$ 42.000,00 por R$ 360.000,00 ou seja: 1.590% só nesta fase, que é a mesma proporção de 21,25 (custo da metade), para 360. No final o espertíssimo vendedor conseguiu vender a outra metade por R$ 820.000,00. Total da venda saiu por R$ 1.180.000.
Exatamente assim foi a compra da Pasadena Refining System Inc., que foi comprada por US$ 42,5 milhões e vendida aos super-otários com um acréscimo de mais de 2.600%. Digno de entrar para o livro Guinness de burrices.
Depois disso a Petrobras tentou revender esta refinaria e apareceu uma única proposta, da multinacional americana Valero, que ofereceu US$ 180 milhões. (Não é piada). Esclarecendo melhor: A Petrobras comprou por US$ 1,180 bilhão e na venda o valor real é US$ 180 milhões. É um milagre ao inverso, pois consegui reduzir o investimento à 15% do valor pago.
O que ocorreu? Pura incompetência!
As pessoas que decidiram eram todas provenientes de cargos políticos. Neste grupo não havia ninguém com capacidade administrativa para tomar decisões e sequer se assessoraram de quem pudesse realmente ajudar, ou pior ainda, se assessoraram muito mal.
A atual presidenta da república, que nunca seria aceita nem para chefe de portaria em alguma empresa séria, a única vez que tentou algo na iniciativa privada foi uma lojinha de R$ 1,99 em Porto Alegre chamada Pão e Circo, e conseguiu quebrar em 17 meses. Esta pseudo administradora só se deu bem em cargos públicos, e ainda assim “trabalhou” na FEE (Fundação de Economia e Estatística) que é um conhecido cabidão de empregos aqui no RS.
Em qualquer país sério essa Dilma, que tinha a falsa aréola de uma técnica planejadora eficiente, e todos seus amigos que endossaram a compra da refinaria de Pasadena estariam presos por incompetência e respondendo pelos erros. Na China provavelmente seriam fuzilados.
Mas aqui é Brasil e casos de incompetência e prevaricação, como este, dão direito aos trapalhões de usarem a covarde fuga de afirmar “que não sabia, fui traído, vamos apurar ...” Mas assumir sua incapacidade ou devolução do roubo, quer dizer: rombo, nem pensar.
Isto é o que acontece quando governos se metem a ser empresários. Sempre há corrupção pela simples razão de que são muitos a mandar e sempre dá margem a corrupção. Nas empresas privadas, uma burrice deste quilate dificilmente aconteceria, porque elas têm donos que PREZAM PELO SEU PATRIMÔNIO e se alguém mostrar alguma incompetência logo vai estar desempregado.
Numa estatal não existe responsabilização porque quem paga pelos erros é o povo através de impostos e nunca os administradores.
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