Carlos Mello
29/01/2014 | A cruzada dos mendigos
Partindo do princípio de que todos saibam o que foram as cruzadas, aquelas guerras criminosas promovidas pela Igreja Católica, e que aconteceram entre os séculos 11 e 13, com o objetivo alegado de reconquistar a terra Santa (Palestina) que nesta época estava de posse dos muçulmanos, que é outra “religião do amor”.
Se buscarem nos livros de história verão que sempre dizem que foram oito cruzadas, mas não é verdade, foram nove, porque a cruzada popular, ou dos mendigos estranhamente não conta.
As cruzadas eram normalmente formadas por cavalarias e custeadas por Nobres.
Mas antes de sair a primeira cruzada (1096-99), o populacho abestalhado e incitado pelas palavras de sua santidade, o sanguinário papa Urbano e sua padrecada, e ainda completamente iludidos com as promessas de conquista de terras e poder, conseguiram juntar milhares de incautos e formaram hordas para marcharem contra o Oriente Médio.
Sem planejamento, ordem e liderança adequada, este movimento foi responsável por saques e acabou sendo derrotada bem antes da chegada da Cruzada dos Nobres aos domínios turcos.
Pedro, o Eremita, pregando a Cruzada Popular. Ilustração: Gustavo Doré.
Esta desastrada expedição iniciou com Pedro, o Eremita, que favorecido pela irracional devoção popular cristã durante a Idade Média, conseguiu reunir milhares pobres, desvalidos, ladrões, camponeses e mendigos e ainda obteve apoio do cavaleiro Galtério Sem-Haveres.
Pedro O Eremita e Galtério Sem-Haveres, em 1096, partiram à frente desta imensa turba, um exército de maltrapilhos, de Colônia, na atual Alemanha, em direção à Ásia Menor. A cruzada se abasteceu de saques, esmolas e pilhagens, também perseguindo e massacrando os considerados “hereges”. Era uma considerável força militar
Em julho de 1096, a multidão de carentes conseguiu chegar até a cidade de Constantinopla, onde realizaram uma série de saques que deixaram a população em desespero. Visando contornar a situação, o imperador bizantino Aleixo Commeno, apoiador das cruzadas, exigiu que o bando se alojasse nas fronteiras muçulmanas da cidade. Para que outras desordens não ocorressem, este governante incentivou os cruzados a se voltarem contra os mouros que ali viviam.
Ao chegar à Ásia Menor, a frágil liderança de Pedro, o Eremita, se desfez parcialmente, ocasionando subdivisão e desordens. O conselho de Aleixo Commeno para que esperassem pela Cruzada dos Nobres foi ignorado e a Cruzada Popular invadiu, saqueou e matou nas cidades turcas com facilidade.
Kilij Arslan, o sultão da cidade de Niceia, enviou uma patrulha para barrar o saque dos maltrapilhos, mas não obteve êxito. Contudo, o sultão observou bem os cruzados e tomou as providências para que a ameaça fosse neutralizada.
No final de setembro de 1096, dois grupos deste exercito popular formados por italianos e germânicos partiram para saques ao norte da Anatólia e posteriormente tentaram capturar a fortaleza abandonada de Xerigordon, que serviria de base de operações por oferecer provisões de água.
Entretanto, a fonte de água não mais existia e os turcos logo os cercaram. Com sede e exaustos, os cruzados foram vencidos, todos foram mortos ou escravizados.
Espertamente o Sultão Kilij Arslan enviou espiões ao acampamento dos cruzados francos, para que divulgassem a falsa informação de que os cavaleiros italianos e germânicos haviam conquistado Xerigordon e Niceia.
Tratava-se de uma emboscada do sultão para atrair os francos às vastas planícies.
Na manhã de 21 de outubro de 1096, foi decidido que o exército deveria partir para tomar parte dos saques das cidades recém-conquistadas. O exército popular cruzado, de aproximadamente 20 mil homens, marchou em direção à cidade de Niceia.
Em campo aberto, os mal preparados cruzados foram trucidados pelos velozes arqueiros montados, que usavam uma técnica similar a das hordas mongóis de Gêngis Khan. O acampamento também foi atacado e todos, exceto crianças e os que se renderam, foram mortos.
Após o colapso total da Cruzada dos Mendigos, dentre os poucos sobreviventes, se encontrava o próprio Pedro, o Eremita, que buscou se juntar à Cruzada dos Barões ao retornar à cidade de Constantinopla.
Galtério Sem-Haveres foi crivado por flechas no início da batalha, na planície.
REFERÊNCIAS:
Fátima ReginaFernandes. Cruzadas na Idade Média. História das Guerras. 5 ed. São Paulo, 2011.
Phyllis Jestice. História das Guerras e Batalhas Medievais. São Paulo: M. Books, 2012.
Rainer Sousa. A Cruzada dos Mendigos. 2013.
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