Carlos Mello
25/05/2011 | A utopia de Giordano Bruno – Crime Hediondo
Giordano Bruno nasceu em 1548, em Noli (Itália), era um teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano. Foi um dos grandes pensadores do seu tempo. Era uma época em que pensar era pecado, diferente de hoje em dia que pensar é uma opção, infelizmente não escolhida pela maioria das pessoas.
Sempre contestador, logo atraiu opiniões contrárias e perseguições. Em 1576 abandonou o hábito ao ser acusado de heresia por duvidar do ridículo dogma da Santíssima Trindade. Iniciou, então, uma peregrinação que marcou sua vida, visitando Gênova, Toulouse, Paris e Londres, onde passou dois anos (1583 a 1585) sob proteção do embaixador francês. Em 1585, Bruno retornou a Paris, indo em seguida para Frankfurt, onde conseguiu publicar vários de seus escritos.
Giordano Bruno apresentava uma visão filosófica do Universo, diferente de todos os seus contemporâneos. Afirmava no seu livro, Del Universo Infinito et Mondi , que em torno desses sóis (estrelas) haveria planetas como aqueles que giram à volta do nosso sol. E naturalmente afirmava o “absurdo” de a terra ser esférica também.
Tal como Galileu e Kepler, Bruno acreditava que a Bíblia era um texto moral, onde os autores haviam adotado uma linguagem adequada às pessoas comuns (entenda-se seres não pensantes). Que a Bíblia nunca havia sido pensada como meio de ensinar Astronomia ou Leis da Natureza.
Naquela época a Igreja católica defendia os dogmas bíblicos relativos à Astronomia, hoje espertamente sumidos do livro “sagrado”, que para a Santa Madre Igreja era uma heresia contra Deus. Suas idéias revolucionárias e “absurdas” o levaram a ser condenado a morrer na fogueira da Santa Inquisição.
Como em toda a história da igreja, existem os covardes colaboradores, nesta tem o Giovanni Mocenigo, membro de uma ilustre família veneziana, encontrou Bruno em Frankfurt em 1590 e convidou-o para vir a Veneza, a pretexto de ensinar a mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, em que Bruno era perito. Segundo o autor Will Durant (História da Civilização, volume VII), Bruno fora há muitos anos posto fora da lei pela Inquisição, ansiosa por prendê-lo por suas doutrinas subversivas, mas Veneza gozava da fama de proteger tais foragidos e o filósofo sentiu-se encorajado a cruzar os Alpes e regressar. Segundo Durant, Mocenigo, católico “piedoso”, perguntou a seu confessor se devia denunciar Bruno à Inquisição. O sacedote recomendou-lhe esperar e reunir provas, mas quando Bruno anunciou seu desejo de regressar a Frankfurt, o nobre Mocenigo trancou-o num quarto e chamou os agentes da Inquisição para levarem-no preso. Bruno foi preso no San Castello no dia 23 de maio de 1592.
Em 27 de fevereiro de 1593 ele chegou à prisão papal. Interrogou-o Roberto Bellarmino, o jesuíta que, anos depois, em 1616, já Cardeal, iria também acusar Galileu Galilei. Sujeitaram-no a vinte e uma entrevistas. Ocorreu que nestes anos em que passou encarcerado, Bruno não mudou sua posição. O confinamento, a má comida, o frio permanente, ao invés de enfraquecerem-lhe, tiveram um efeito contrário. Além de aumentar o desprezo de Bruno pela Igreja, endureceu-lhe a posição: "não creio em nada e não retrato nada, não há nada a retratar e não serei eu quem irá se retratar!".
Por estas opiniões que Giordano Bruno foi condenado pela Inquisição.
Descrição da época:
Às 5:30 da manhã do dia 19 de Fevereiro, uma quinta-feira e dia festivo em Roma, Bruno foi levado acorrentado de Santa Úrsula. Envergava vestes brancas até aos tornozelos, realçadas por uma cruz de Santo André e salpicadas com demônios com longas caudas de pontas em flecha sobre um fundo de chamas grosseiramente pintadas. O caminho estava cheio de religiosos e curiosos. Havia uma grande expectativa para este suplício na fogueira. Uma forma primitiva de boletim informativo fora impresso pelos religiosos para informar as pessoas da cerimônia: “cremos ser esta uma fervorosa execução na fogueira judicial”, declarava. Cópias do boletim informativo foram sendo distribuídas pela multidão agitada que se acotovelava ao longo da estrada molhada.
À medida que o cortejo passava, Bruno ia-se mostrando cada vez mais agitado. Reagia à multidão grosseira, respondendo aos seus brados com citações dos seus livros. Os membros da Confraria de São João tentaram silenciar a troca de palavras, poupar Bruno de mais sofrimento e indignidade, mas ele ignorou-os. Assim, decorridos alguns minutos, o cortejo parou junto aos oficiais de justiça. Seguraram com firmeza a cabeça de Bruno e enfiaram uma longa pua com pregos em sua boca, depois enfiaram mais outro pedaço igual formando uma cruz, assim estraçalhando sua língua e trespassando-lhe os lábios. Enormes jatos de sangue esguicharam para as suas vestes e salpicaram os rostos dos que estavam mais próximos dele. Foi a forma mais eficiente que a Igreja encontrou para calar Bruno.
Passados alguns minutos, o cortejo chegou ao local da execução no Campo di Fiori. Os guardas levaram Bruno até o grosso poste, impeliram-no vigorosamente contra ele e prenderam-lhe todo o corpo com uma corda grossa, firmando-lhe os ombros, peito, a cintura e as pernas. Os feixes de madeira foram empilhados até ao pescoço e a tocha colocada a seus pés. Depressa as chamas se propagaram sob a leve brisa da manhã. Bruno tinha 52 anos.
Muitas das vítimas da fogueira da igreja foram poupadas a uma morte lenta graças a um pagamento que davam ao carrasco para, furtivamente, lhes cortar o pescoço enquanto eram atadas ao poste. Mas isto não aconteceu a Bruno. Quando o fogo começou a subir, os irmãos da Confraria da Caridade de São João tentaram uma última vez “salvar a alma” de Bruno e desafiando as chamas, um deles inclinou-se para o fogo empunhando um crucifixo, mas Bruno limitou-se a virar-lhe a cara. Segundos depois, o fogo chegou às suas vestes e queimou-lhe o corpo sobrepondo-se aos gritos e a crepitação das chamas, tornou-se audível a sua agonia abafada.
Depois das chamas se terem extinguido, o que restou do corpo de Bruno foi reduzido a pó com martelos e as cinzas foram lançadas ao vento para que ninguém pudesse guardar nada do herege como relíquia. Para a inquisição, os seus membros tinham conseguido eliminar Bruno, destruir o seu corpo, banir a sua memória, as suas idéias, os seus escritos, até o seu pensamento, e ele fora mandado para o inferno. Como dizem até hoje: Graças a Deus.
O cardeal italiano Roberto Bellarmino, em reconhecimento por sua ação como inquisidor, mais tarde atuou também no processo de Galileu, foi beatificado em 13 de maio de 1923 e canonizado em 29 de junho de 1930 pelo Papa Pio XII e declarado Doutor da Igreja em 1931, celebra-se a sua memória a 17 de Set. É o São Roberto Francesco Romolo Bellarmino.
Em 1940, outro cardeal do Vaticano, Angelo Mercati, reuniu e publicou algumas peças do processo de Bruno, justificando a condenação.
A obra de Bruno somente só foi retirada do Index dos livros proibidos aos católicos em 1948. Deviam ter deixado nesta relação, pois não alterou nada para quem pensa e sabe da história cristã.
Em 1992 o Papa João Paulo II desculpou-se pela infelicidade do processo contra Galileu, reabilitando-o. A Igreja Católica só deplorou a execução, mas não os motivos da sua condenação. Nenhuma novidade para quem conhece a história do mundo.
Desde 1889 que há uma estátua de Giordano Bruno no Campo dei Fiori, o que irrita muito os coitados dos papas, pois está na cara deles.
Quando foi inaugurado, o papa Leão XIII, “sofrendo muito”, passou o dia todo de jejum aos pés da estátua de S. Pedro. A imprensa católica falou de “orgia satânica”, descrevendo a manifestação da inauguração como o “triunfo da sinagoga, dos arquibandidos da Maçonaria, dos chefes do liberalismo demagógico”, “O máximo da ignorância e da malignidade anti-clerical”. Nenhuma novidade a reação da Santissima Madre Igreja.
Em 1929, Mussolini, depois de ter assinado a concordata “Patti Lateranensi”. O papa aproveita para pedir ao seu amigo ditador que destrua a estátua de Giordano Bruno. O ditador declara à Câmara de Deputados que “A estátua de Giordano Bruno, melancólica como o destino desse monge, ficará onde ela está”.
Irritadíssimo, o papa usou esta negativa como argumento para canonizar o criminoso cardeal Bellarmino.
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