Carlos Mello
29/05/2013 | Tu e você.
Alguns dias atrás, conversando com uma pessoa na fila de uma banca do mercado Público de Porto Alegre, o sujeito me contou que achava aquele lugar o melhor do RS para comprar, que era um orgulho para nós gaúchos e, com ufanismo me perguntou: “Eu tenho orgulho de ser gaúcho, e você?”
Eu não consegui me conter e respondi:
O quêêêêêêê? Tu me perguntas isto usando o pronome “VOCÊ”? Orgulho de ser gaúcho desta forma? E o “TU” quando usas?
Ele ficou paralisado alguns segundos, e pensativo e me respondeu:
“TU tens total razão, obrigado pelo alerta, sou um ....”
A conversa durou mais um pouco com ele quase se desculpando por ter ofendido nosso brio gaudério.
Não sou a pessoa indicada para falar do nosso idioma, até porque não gosto dele e sempre estudei o básico para passar nas provas, mas vivo aqui, então procuro não errar (muito) ao me comunicar. Nunca ouvi uma justificativa que fosse honesta em explicar a existência de verbos com:
IINDICATIVO: Presente; Presente Perfeito; Pretérito Imperfeito; Pretérito Mais que Perfeito; Futuro; Futuro do Pretérito.
SUBJUNTIVO: Presente, Pretérito Imperfeito; Futuro.
INFINITO: Pessoal e Impessoal.
IMPERATIVO: Afirmativo e Imperativo.
GERÚNDIO e PARTICÍPIO.
Isto me aprece um idioma de loucos. Mas o pior, e que me incomoda, é ter que usar os ridículos gêneros para coisas sem sexo, como dizer que Armário é masculino, porque masculino? Ou Areia ser feminina, como se coisas tivessem sexo.
Por isto entendo que idiomas deveriam sempre evoluírem, nunca tentarem manter uma “tradição linguística” se fechando à mudanças, como fazem com o idioma francês, e por isto não sou contra o uso do “você” e suas declinações.
Mas eu uso sempre o “TU” por achar que é uma marca, um símbolo de ser gaúcho.
Quando estou fora do RS, mesmo sabendo que o resto do Brasil tem um preconceito linguístico em usar o pronome "TU" eu faço questão de manter esse hábito.
Aliás, não usar esse pronome é uma coisa brasileira, pois os demais povos latinos o usam normalmente.
Já o “VOCÊS” no lugar do "VÓS" eu uso sem qualquer preocupação, nunca uso o “VÓS”.
Tecnicamente acho que o uso do você e suas variações como o pronome possessivo “seu” em lugar do “teu”, podem induzir a erros na interpretação. Por exemplo, segue um trechinho bem característico de erro de interpretação.
Um sujeito chamado Rodrigo estava preocupado com a presença de um jovem de nome Jurandir, que ele via rondando pela vizinhança e contratou um detetive para verificar o suspeito.
O detetive, despois de alguns dias, foi informar o que tinha verificado:
“O Jurandir sempre ao meio-dia, pega o seu carro, vai a sua casa almoçar, transa com a sua mulher, bebe um dos seus vinhos e então sai da sua casa para trabalhar”.
O Rodrigo responde: - Ah, bom, ótimo. Não há nada de mal nisso.
Vendo que o diretor não tinha entendido pergunta:
- Desculpe. Posso tratá-lo por TU?
- Sim, respondeu Rodrigo.
- Bom, então vou repetir:
“O Jurandir sempre ao meio-dia, pega o TEU carro, vai a TUA casa almoçar, transa com a TUA mulher, bebe um dos TEUS vinhos e então sai da TUA casa para trabalhar”.
Então, além de eu gostar de usar o pronome “TU” ainda tenho a convicção de que provavelmente faço um uso mais correto e principalmente mais lógico deste nosso idioma. E confesso não gostar de ver este tal de “você” estar sendo usado pelo pessoal do sul, incluindo os irmãos catarinenses e os sulistas do Paraná.
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