Carlos Mello
17/12/2014 | A Petrobras sempre alimentou a corrupção.
Trabalhei na Petroflex, que era a fábrica de borracha da Petrobras, por mais de cinco anos. Tinha o cargo de economista e minha função era coordenar e controlar os investimentos e custos da empresa.
Meu trabalho era de fazer, junto aos vários departamentos, uma previsão anual dos gastos em investimentos e de manutenção das áreas, e depois fazer o acompanhamento destas previsões durante o ano.
Como gastos nos investimentos saiam sempre muito superiores às previsões, e minha sala era vizinha à de contratos e compras, onde buscava os motivos das diferenças, estava sempre informado do que realmente acontecia na sala vizinha.
Quanto ao custo, fiz uma visita de dois dias, um tipo estágio, na Refinaria Ipiranga em Rio Grande, onde pude analisar os custos operacionais. Na volta fiz um relatório mostrando que o nosso custo era superior em mais de 250%. Apresentei o resultado do trabalho na Petroflex e na Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP) com sugestões para diminuir o nosso custo, principalmente em itens suspeitos de superfaturamento.
Ao final pediram que eu esquecesse o trabalho porque não poderiam mexer no sistema Petrobras.
Quando a empresa estava na fase de investimentos para sua construção, que acompanhei desde a compra do terreno até a entrada em operação, alertei para o descontrole nas alterações dos preços de aquisição dos equipamentos e serviços informando que havia uma combinação fraudulenta entre as empresas para escolherem quem “venceria” as licitações, naturalmente com preços bem maiores, e a existência de um sistema de propinas, em forma de presentes, para aprovação dos orçamentos e equipamentos apresentados.
Me solicitaram provas do que afirmava.
Mostrei que, fora a realidade dos valores extrapolados que por si já seriam motivos de uma investigação, se quisessem mesmo esclarecer era só ver junto aos bancos e concessionárias, por exemplo, quem estava pagando por carros novos entregues a algumas pessoas na empresa.
Não apuraram nada e fiquei mal visto pela diretoria.
Devido a este sistema viciado a previsão para construir a unidade que era de Trinta e Seis Milhões de Dólares e acabou saindo por Cento de Vinte Milhões de dólares.
Quando terminou a fase de investimentos na estrutura, fiz um relatório final esclarecendo porque o preço final, em dólares, portanto já atualizado, acabou saindo 330% maior, apontando vários exemplos.
Como meu superior não quis receber oficialmente o relatório, tentei entregar para o Superintendente, que me solicitou entregar para seu assistente, então o fiz através de um protocolo.
Disto resultou que fui chamado à sede da empresa no Rio de Janeiro, e inacreditavelmente fui repreendido e intimado a não fazer nada que não fosse controlar os custos e os investimentos.
Sobre a corrupção apontada, apesar de mostrar perfeitamente como funcionava o esquema e como evita-lo, nem foi cogitado de esclarecer algo.
Me consideraram um inimigo na trincheira e fui despedido alguns meses depois.
Descobri que apontar os erros administrativos viciados do sistema, para quem tem interesse em não esclarecer, ganha como premio a demissão, isto apesar de eu ter passado num rigoroso e disputado sistema seletivo. Fiquei de Maio de 1984 até Junho 1989.
No alto escalão do governo atual tem uma pessoa que seria a ideal para fazer uma “detetizaçao” onde for necessária na Petrobras, é o petista Miguel Rosseto, que conheço porque também era funcionário na Petroflex, do qual tenho certeza de sua honestidade. Atualmente é Ministro do Desenvolvimento Agrário, se estivesse na direção da Super Estatal seria muito melhor aproveitado.
Se não privatizarem todas as empresas do governo, que seria o ideal, pois governo não existe para administrar empresas, e quiserem mesmo combater a corrupção endêmica da empresa, como sei o funcionamento do sistema, tenho certeza de que se não atingir o coração da empresa e investir numa nova filosofia de administradores dificilmente vão conseguir consertar a corrupção que sangra a maior empresa do governo brasileiro devido a existência de um sistema alimentado por erros históricos.
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