Carlos Mello
08/02/2012 | Dia do orgulho ateu – Mais uma bobagem
Escolher um dia para homenagear o que se acha importante é costume antigo em todas as civilizações. Como são milhares de motivos para serem distribuídos em 365 dias, temos várias comemorações por dia durante o ano. O problema é que entre eventos históricos, personalidades, datas religiosas, comerciais, profissões, etc, a maioria não tem qualquer mérito para serem comemoradas, mas estão colocadas como datas importantes por grupos que, na maioria das vezes, representam uma pequena parte do universo que dizem representar.
Na luta contra os preconceitos e discriminações foram criadas datas comemorativas com objetivo de se apresentarem como orgulhosos do objeto de sua segregação frente a sociedade em que vivem.
O problema é que estes que criam e comemoram, às vezes de forma ostensiva, geralmente são os que têm problemas mal resolvidos e se consideram vítimas buscando forçar artificialmente uma naturalidade.
Por exemplo, os negros competentes, de sucesso, não precisam desfilar e berrar na rua no dia da Consciência Negra, eles estão inseridos naturalmente pelo que são e não pelo que dizem que são, eles não precisam alegar um passado de injustiça baseado na raça, como se um branco com um passado de miséria, por exemplo, fosse diferente ou tivesse sofrido menos.
Tenho vários amigos homossexuais que jamais se juntariam num desfile do dia do Orgulho Gay, acredito que a maioria dos gays, que não tenho nada contra, não se sentem discriminados, as suas vidas são respeitadas independente de suas opções sexuais. São respeitados pela sua personalidade e competência passando longe de se considerarem vítimas. São pessoas maravilhosas.
Estas são duas datas, entre milhares, que considero desnecessárias e até acho que fazem aumentar um possível preconceito devido a sua exagerada e forçada exposição de alguns em nome de todos, em qualquer espaço possível.
Para mostrar como estas datas são destituídas de significado, basta imaginar um “Dia do orgulho branco” ou “Dia do heterossexual”. Não tem sentido algum nos dias atuais.
O que alegam é que estão lutando por “seus direitos”. Direitos de que? De quererem vagas independente de suas capacidades? Como se a cor fosse uma desvantagem intelectual. De quererem que as pessoas não notem dois gays se beijando, não raras vezes escandalosamente? Impossível não chamar atenção, se nota até quando não são gays, isto porque paixões demonstradas em publico são ridículas, ainda mais vinda de um casal “diferente” da maioria.
Estas situações não têm nada a ver com preconceitos, e sim com esperteza e demonstrações de ridículo.
Seria bem diferente se pessoas fossem agredidas devido a cor de pele ou escolha sexual, isto é crime, independente de qualquer coisa e já está previsto nas leis.
Houve épocas em que estes movimentos se justificavam para os negros, as mulheres e religiosos que não seguiam a maioria da sociedade que frequentavam, ateus nem se fala, mas isto no nosso mundo ocidental já está, felizmente, superado.
Neste contexto, um grupo de ateus, que não são os mais inteligentes nem a maioria, está querendo criar o “Dia do ateu” ou mais dramático ainda o “Dia do orgulho ateu”. Estão pretendendo que esta celebração, entre outras sugestões, seja no dia 12 de fevereiro, que é o aniversário de Charles Darwin.
O ateísmo é simplesmente uma característica intelectual, não existe razão para forçar esta convicção criando mais uma data sem sentido. Se os religiosos tem centenas de datas, que também considero ridículas, os ateus não deveriam agir igual. Não existe qualquer motivo para alardear um orgulho de uma coisa que é intrínseca à cultura de um grupo dentro de um universo maior.
Alegar orgulho de ser ateu é o mesmo que um crente se orgulhar de acreditar em algum Deus, nem por isto qualquer um dos dois deixa de estar numa posição respeitável, daí criar um dia para comemorar é bem diferente.
Daqui a pouco vão querem fazer uma mobilização pelos direitos ateístas. Quem sabe mostrar indignação pela forma como os ateus tem sido tratados historicamente ou reinvidicar alguma vantagem por isto do Estado. Pura bobagem.
Os ateus só precisam de um espaço, como todos, para expor suas idéias em um Estado laico, sem fazer lavagens cerebrais e proselitismos obrigatórios como fazem as religiões há séculos.
Há uns meses atrás morreu um filho de um amigo, fui à missa de sétimo dia porque sei que eles acham isto importante. Para minha surpresa, fui dos mais cumprimentados, exatamente porque sabem de minha posição de ateu, mas reconheceram que estava lá por consideração ao amigo. Isto sim considerei um motivo de orgulho para mim, não me senti nem um pouco segregado no ambiente religioso.
Sou ateu, tenho orgulho TODOS os dias de ser assim. A comemoração de uma data como o “dia do ateu” é assumir uma inferioridade igual a vários outros grupos que propagam um falso orgulho. Acho que os ateus sempre foram superiores, por isto eram perseguidos e nunca tiveram chance de expor suas idéias, pois os inquisidores jamais teriam argumentos para superá-los. Por isto o Dia do orgulho ateu, na verdade dos ateus que se consideram inferiores, não é meu dia.
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