Carlos Mello
15/05/2013 | Lavanderias Madalena.
Quando se pensa que já foram contadas todas as histórias desabonadoras que as religiões queriam esconder se descobre que nem a ponta o iceberg foi ainda divulgado.
Atualmente, com a acessibilidade cada vez maior das informações, estão aparecendo o que antes era muito mais fácil esconder, e assim milhões de pessoas estão descobrindo que foram enganadas, em grande parte devido a sua própria ingenuidade, pois deixaram de acreditar em coelhinho da páscoa e Papai Noel e continuaram acreditando em seres igualmente absurdos de existir como deuses, anjos, santos e mães virgens.
A história a seguir se passou na Irlanda, que há menos de dez anos era o País mais católico do mundo, atualmente é o que mais rapidamente se tornou no mínimo agnóstico. Só para terem uma ideia dessa queda, uma pesquisa realizada pela WIN-Gallup International mostra que de 2005 até 2010, o percentual de irlandeses que se definem como religiosos passou de 69% para 47% da população: Uma queda de 22%.
Esta virada a um Estado mais laico deveu-se aos descobrimentos do até então lado oculto da Igreja Católica, como abusos de menores, pedofilia e outros.
Em 1993, em Dublin, capital da Irlanda, uma ordem religiosa vendeu um imóvel para uma construtora que, ao iniciar a escavação do terreno, descobriu os corpos de 155 mulheres sem identificação.
Este descobrimento repercutiu na mídia fazendo-se questionamentos sobre o acontecido.
Sempre houve denuncias a respeito, mas a hipocrisia típica de lugares onde alguma religião tem poder sobre o Estado fez com que as autoridades se mantivessem silenciosas. Este achado, divulgado em todos os meios de comunicação, obrigou a que averiguações fossem feitas, o que resultou numa explosão de denuncias contra a Igreja Católica irlandesa.
O relatório da investigação mostrou que governo irlandês sempre esteve diretamente envolvido com estas instituições.
Por volta de 1960, na Irlanda, existia uma forçada mentalidade que restringia a mulher à lavanderia e à cozinha da casa e sua função era somente de reprodutora de filhos. Fora do contexto familiar padrão, qualquer mulher que fosse diferente como ser bonita ou feia demais, mãe solteira, não seguir a religião católica, ter alguma debilidade, etc..., era marginalizada e estigmatizada como tendo algo de errado.
Neste contexto era muito bem aceita que houvesse uma instituição que se propunha a salvar essas “pecadoras” e assim assumiam como parte dos mecanismos que a sociedade, Estado e ordens religiosas usavam para tentar adaptar as mulheres tidas como fora do modelo cultural da sociedade irlandesa.
Estas instituições eram verdadeiros presídios femininos que prestavam serviços de lavanderia para casas comerciais, governo e órgãos militares. Era um negócio muito lucrativo para as religiosas.
Eram administradas por freiras católicas que tratavam as internas sob regime de escravidão, pois trabalhavam desde o amanhecer até a noite sem receber qualquer pagamento pelo trabalho. Mas usavam a desculpa que seu objetivo seria de “reconduzirem as mulheres caídas aos verdadeiros valores cristãos através do trabalho”.
As horas que paravam eram para praticarem rezas, se alimentarem e dormirem. Não havia dignidade no tratamento, eram sujeitas a todo tipo de humilhações e abusos morais.
As mulheres ficavam em media três anos, muitas passaram a vida toda trancafiadas, não saíram nem mortas.
Estas mulheres escravizadas eram compostas de mães solteiras e suas filhas; vítimas de abuso sexual; prostitutas; portadoras de deficiência física ou mental; vítimas de estupro; malquistas pela sua família; orfanatos; indicações do serviço social; etc.
O governo irlandês, pressionado pela opinião pública mundial, investigou o período entre 1922, ano da independência da Irlanda, até 1996, ano em que encerrou a última lavanderia destas “esposas de Cristo”. Nesses 74 anos, cerca de onze mil mulheres passaram oficialmente pelas instituições pesquisadas. Estima-se que trinta mil mulheres trabalharam nestas casas desde o século 18.
O governo reconheceu que o Estado irlandês encaminhou oficialmente para essas lavandeiras 2.124 mulheres. No mesmo relatório informou ter descoberto que aproximadamente 900 mulheres morreram nesses locais de trabalho forçado, a mais nova tinha apenas 15 anos.
Atualmente existem organizações de ex-internas e seus descendentes que estão organizadas e exigindo reparações pelos abusos sofridos.
O Estado irlandês, através de seu primeiro ministro Enda Kenny, muito tardiamente pediu desculpas pelo sofrimento destas mulheres, por endossar o estigma de “caídas” e por ter demorado para assumir parte da responsabilidade pelo sofrimento destas infelizes.
Em 2001 foi produzido o filme “The Magdalene Sisters”, em português "Em Nome de Deus", que conta a história de quatro jovens que foram enviadas para uma dessas lavanderias ou, asilos católicos, como eram chamados.
Também interessante é uma filmagem de uma dessas lavanderias, atualmente abandonada, na cidade de Cork, que é a segunda maior cidade irlandesa:
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