Carlos Mello
14/03/2012 | A retirada dos crucifixos e o conveniente desespero.
Para os crentes não existe coisa mais odiosa e revoltante do que ter certeza de estar com a razão e ver pessoas não acreditarem nas suas verdades absolutas. Para piorar eles não tem, e NUNCA tiveram, absolutamente NADA para comprovar suas certezas e os descrentes vivem de evidências, o que não existe no mundo espiritual.
Quando contrariados, pessoas aparentemente inteligentes saem do seu estado normal e de suas áreas de atuação mostrando um lado tolo típico de desesperado perdendo alguma coisa.
Isto tem acontecido nas duas últimas semanas com relação à retirada dos crucifixos dos prédios públicos.
Vários articulistas, escritores, filósofos que posam de inteligentes, mas, encolerizados, mostram que são o contrario do que se imaginava, ou a proibição de pensar, necessariamente imposta pela religiosidade, os fazem dizer bobagens misturando coisas com um nível muito alto de infantilidade.
Os que não gostam de esquerdistas afirmam que a aprovação da retirada dos crucifixos é porque os “petralhas” estão no comando. Ou seja, ateu é automaticamente esquerdista. Um absurdo.
Os que não gostam de gays, também misturam sua cólera afirmando que ateísmo é coisa de gay. Assim misturam ateísmo com aumento do banditismo, falta de amor, etc., mas espertamente, ou por falta de pensar, não atrelam a um aumento de liberdade, de conhecimento e informação.
O pedido de retirada dos horrendos crucifixos de prédios públicos no Rio Grande do Sul foi feita por um grupo de lésbicas, mas poderia ter sido feita por um grupo de ciclistas, de tomadores de chimarrão, de jogadores de bolinhas de gude, etc.
Na verdade este grupo se adiantou a outros com muito mais representatividade perante a sociedade para fazer esta solicitação, pois é certo que não representam nem a maioria das lésbicas.
O que ocorre é que os ateus pertencentes aos grupos de gays, lésbicas, mulheres favoráveis ao aborto e em mais alguns outros, são os mais radicais, e com justificável razão: Foram e ainda são os mais perseguidos pelos religiosos que não poupam palavras ofensivas a estes grupos querendo-lhes impor seus pontos de vista.
As “ovelhas de Jesus”, em seu ato desesperado de assegurar um tipo “direito adquirido” para manter o cara torturado e ensanguentado nas paredes, apelam para o “valor histórico”, das “raízes da nossa cultura cristã” e até de nossa “tradição histórica”
É muito interessante quando apelam para nossas “raízes históricas” para impor seu pensamento. Se for assim então aqui vai uma lista de valores históricos que fazem ou fizeram parte de nossa história:
A exploração do Brasil pela Santa Madre Igreja.
A escravidão faz parte das nossas raízes históricas.
A submissão da mulher à posição de reprodutora e objeto sexual.
Lavar a honra com sangue está em nossos valores históricos.
Caçar índios no mato está em nossas raízes históricas.
A sociedade patriarcal é uma tradição histórica.
Assim como furar fila, o desrespeito às leis, as extorsões, a falta de educação, os políticos ladrões, infanticismo e canibalismo por parte dos índios, etc,. A lista de nossas tradições históricas é bem grande.
Nunca esquecer de que torturar e matar pessoas por intolerância também está nas raízes históricas religiosas.
Então buscar explicações históricas para um mundo que não é estático, bem ao contrário, está em constante evolução, não tem o mínimo sentido.
Outros inconformados com o avanço do laicismo sugerem fazer um plebiscito para ouvir a voz do povo que espertamente consideram a “voz de Deus”.
Estes “democratas” são os estelionatários da fé, querem jogar com a ignorância e ingenuidade do povo a seu favor. Estes mesmos são os saudosistas da inquisição. Naquela época se fizessem um plebiscito a “voz do povo” teria mantido a queimação das bruxas, que o sol girava em torno da terra, a forma redonda do nosso planeta e outros absurdos.
A vontade da maior parte dos cidadãos é um elemento importante da democracia, mas não é absoluto. Então um plebiscito aplicado num povo que entende mesmo é de futebol e carnaval seria fácil direcionar para manter os crucifixos, a lenda de Adão e Eva, aulas de catecismo e toda a sorte de crendices populares.
A questão é bem simples: O Brasil é um Estado formalmente laico, isto desde a Constituição de 1891, portanto há 121 anos; todavia, ainda existe quem não aceite esta realidade e prefiram viver sob manto do conservadorismo monárquico que mantinha a crença católica como religião oficial.
Se tem quem insiste em dizer que o crucifixo “não faz mal a ninguém, que se a pessoa não gosta, basta ignorar”, provavelmente eles não ignorariam se um magistrado, adepto da umbanda, colocasse uma imagem do Preto Velho no Tribunal.
A retirada, tardia, destes símbolos religiosos de tortura e morte deve ser felicitada porque é muito ruim reverenciar o sofrimento, está na hora de se cultuar a vida, esta sim deve ser aprovada por todos.
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