Carlos Mello
13/08/2015 | Rio Grande do Sul 2015 - Tempos bicudos
Eu era assessor e chefe de gabinete na segunda gestão do deputado federal Sinval Guazzelli, então praticamente todos os dias conversávamos sobres os problemas do Rio Grande do Sul. Naquela época, 1983, já era um grande problema enfrentar o custo da dívida gaúcha e principalmente o imenso peso da folha de pagamento do funcionalismo, em grande parte devido ao excesso de absurdos benefícios concedidos ao pessoal da ativa e aposentados.
Para o deputado eu era um radical sem noção, mas que estava corretíssimo.
Como ele sabia que eu tinha pertencido a um grupo de separatistas, ele adorava sentar de frente para o Sul (era uma mania dele) na varanda da bela casa onde residia no Lago Norte em Brasília e pedia que eu explicasse como seria um Rio Grande do Sul separado, era como um jogo, um divertimento.
Eu fazia conjecturas sobre Economia, Politica Externa, Forças Armadas, Educação, Tamanho do Governo, Impostos, Funcionalismo Público, Relacionamento com a Ex-Colonizadora, etc. Ele sempre questionava alguma coisa, mas não lembro de alguma vez ele dizer que eu não tinha razão, ponderava que a União não abriria mão, não aceitaria a independência de um Estado e certamente atacaria fazendo uma intervenção e nós não teríamos força para vencer, pois a nossa Brigada Militar até poderia neutralizar o Exercito Federal dentro do RS mas viria um ataque de outros Estados. (atualmente outros Estados também querem se independizar, então seria mais fácil)
Ou seja, para ele o problema de não podermos ser livres era estarmos despreparados militarmente. (Desarmados)
Uma vez, durante uma greve dos professores (sempre funcionários públicos) falei para ele me nomear Secretário da Educação que eu resolveria o problema. Quando perguntava como, eu apresentava a proposta mais lógica possível, agiria como uma empresa privada. Demitiria TODOS os grevistas e admitiria outros pagando por hora efetivamente trabalhada, e assim acabaria com o incentivo da farra de fazer greves e ainda receber os dias parados. Até como pagar as demissões eu tinha um plano, seria parcelado conforme a situação permitisse. Claro que teria problemas, provavelmente o RS ficaria um semestre sem aulas nos colégios estaduais devido a ação das gangs sindicais espernearem por acabar com o “tetão”, também uma parte da opinião pública talvez ficasse inicialmente contra, mas com o tempo amariam a solução, porque estaria resolvida a situação.
Ele achava interessante, se divertia, e depois falava dos problemas políticos como ações contra o governo, greves, apoio político e de opinião pública, etc. E como sempre nunca disse que a ideia era errada.
No inverno de 1990 ele fez uma janta para mim e minha esposa no “Palacinho” ali na Av. Cristóvão Colombo esquina com a rua Sto. Antonio. Enquanto as mulheres preparavam a janta ficamos conversando e me falou da situação difícil de manter os pagamentos em dia, que o Estado era praticamente uma massa falida, e ele estava usando captações no mercado de capitais, recurso iniciado por Euclides Triches, o que significava que buscava empréstimos para pagar dívidas. E então fez o que gostava: Perguntou como eu faria para resolver.
Falei que para solucionar primeiro eu teria que substituí-lo como vice governador e então esperar mais alguns meses e ficar no lugar do governador, que era Pedro Simon e estava quase certo que sairia para disputar o senado, assim que eu assumisse prepararia o Estado para sua independência, etc... etc... Ele riu como sempre e perguntou se havia outra opção.
A outra, na verdade outras, seriam mais plausíveis, mas não menos radicais. Primeiro teria que ser feito um trabalho de tirar o Judiciário de julgar assuntos financeiros e econômicos do Estado porque são partes interessadas e coniventes com as irresponsabilidades concedidas, pois sempre agem com corporativismo, portanto nada neutras. Mais adiante eu teria que ser nomeado Secretário da Fazenda que iniciaria privatizando TUDO que esta do Estado, 100% das empresas estatais. Junto com a venda das drogas do Estado pararia de pagar à União a mensalidade da parcela referente a parte da nossa dívida até fazer uma auditoria do que realmente é devido e suspenderia qualquer pagamento de salários e aposentadorias que ultrapassassem dez salários mínimos. Seria um novo RS.
Em seguida faria um plebiscito para quem paga a conta (o povo) opinar se aprovava ou não as novas medidas, já que democracia deve ser a vontade do povo e não de alguns poucos privilegiados. Justificava dizendo que não tem como um Estado ser espoliado sob o falso argumento de direito adquirido, foi adquirido de quem? Se quem paga não consentiu, este direito não existe, pois o povo, que é quem paga, não foi consultado e não concorda com isso. Só com isto reduziria em mais da metade os valores jogados fora e se poderia começar a realmente progredir e até baixar alguns impostos.
Certa vez, numa reunião de aniversário de dez anos da Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul – FAMURS, em Brasília, o deputado pediu que eu falasse um pouco sobre minhas ideias para os prefeitos reunidos, mais para ver a reação deles. Falei exatamente o que expus acima, no final ganhei uma medalha de reconhecimento da entidade entregue pelo também deputado federal Odacir Klein.
Ou seja: NUNCA apareceu alguém argumentando contra ou apontando algum erro.
Atualmente, segundo dados da Secretaria da Fazenda, a nossa dívida, incluindo os precatórios e Previdência (que acho serem dívidas questionáveis) ultrapassa R$ 55.000.000.000,00 (bilhões).
Fugindo ao máximo de colocar números e transformar uma crônica num texto técnico, chato e cheio de conceitos econômicos, mas só citando em valores arredondados: Se considerarmos a população do RS (11 Milhões), cada gaúcho, sem ter autorizado, deve R$ 5.000,00. Se considerar somente a população ativa este valor salta para R$ 8.000,00 por trabalhador.
Na arrecadação do ICMS, em torno de 25 bilhões (previsão para 2015), mais a parte roubada para a Imperialista União de 22 bilhões, totalizam cerca de 47 bilhões. Isto equivale a que cada trabalhador do RS seja espoliado em mais de 4 mil reais em impostos anualmente. Foras outras receitas como taxas, contribuições, multas, etc.
O pior disto tudo é saber que da arrecadação do ICM, principal tributo do RS, mais de 70% vai para a folha de pagamentos, onde a irresponsabilidade enraizada nos governantes criou supersalários, aposentadorias absurdas, vagabundas solteiras, etc.
Quando aparecem economistas dizendo que tem que ser feita uma mudança profunda no sistema de gestão do Estado, pode ter certeza que resolverão NADA, principalmente se for do funcionalismo público, pois são especialistas em sugerir planos de AUMENTAR A RECEITA e Nunca para DIMINUIR A DESPESA. Os da iniciativa privada sim podem ter algum crédito
Se atualmente me fosse perguntado qual a saída. Continuaria com a mesmíssima e nada nova proposta. Talvez agora o saudoso deputado não acharia mais graça e considerasse que estava chegando a hora que eu preconizava.
O ideal para deixarmos um bom lugar para as futuras gerações seria um separatismo onde se começaria tudo de novo e da forma correta. Fora disto a perspectiva será sempre um conserto para durar mais algum tempo.
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