Carlos Mello
04/07/2012 | O Trágico Destino de Miguel Servet. 'O Médico que Calvino Mandou Matar'
Miguel Servet, nasceu em Aragão na Espanha em 1511 e foi assassinado pela Santa Inquisição religiosa em 1553, seu nome está ligado à história da medicina. Servet foi um estudioso e descobridor do funcionamento da circulação sangüínea. Foi quem primeiro descreveu a circulação pulmonar.
Era um devotado às questões transcendentais de natureza religiosa e filosófica, isto em meio às disputas resultantes da Reforma liderada pelo alemão Lutero e o frances Calvino.
Estudou leis em Toulouse, teologia e hebraico em Louvain, e medicina em Paris, tendo-se destacado por seu interesse pela anatomia.
Mas porque a religião o perseguiu? Pelo crime que mais a assusta: PENSAR.
Durante toda a sua vida Servet escreveu sobre questões religiosas. Pregava a volta a um cristianismo "puro", tal como fora ensinado por Jesus.
O que mais atraiu a ira religiosa foi sua ingênua ousadia em contestar o dogma da Santíssima Trindade. Aquele que diz que o Deus cristão é três mas é um ao mesmo tempo. Numa época em que Reformistas e Conservadores se defrontavam por toda a Europa, ele foi um daqueles infelizes que buscou alguma racionalidade em suas observações.
As suas arrojadas idéias foram expostas em julho de 1531, ele tinha 20 anos, publicou De trinitatis erroribus ("Sobre os erros da trindade"). No ano seguinte ele publicou Dialogorum de Trinitate ( "Diálogos sobre a Trindade"). Seus escritos desagradaram tanto aos católicos quanto aos protestantes.
Interessante é saber o motivo de seu interesse pela circulação pulmonar.
Está escrito na Bíblia que "a alma da carne é o sangue" (Lev. 17.11) e que "o sangue é a vida (Deut. 12.23). No livro dos Salmos (104. 29), por sua vez, a importância da respiração para a manutenção da vida é ressaltada nas seguintes palavras: "se lhes tira a respiração, morrem, e voltam para o seu pó".
Essas passagens bíblicas levaram Servet a estudar a circulação pulmonar, onde o sangue e o ar se misturam, pois no seu entender, o conhecimento da circulação pulmonar conduziria a uma melhor compreensão da natureza da alma. Fez uma descrição detalhada e correta da circulação pulmonar para a época.
A sua descoberta da circulação pulmonar foi divulgada em um livro sobre religião intitulado Christianismi Restitutio, que, como todo avanço científico, foi considerado herege pela Igreja e acabou lhe custando a vida. Estes livros foram confiscados e incinerados. Salvaram-se apenas três exemplares, um se encontra em Paris, outro em Viena e outro em Edimburgo. Uma segunda edição, publicada em Londres em 1723, foi novamente apreendida e incinerada.
Acusado de heresia, Servet foi preso e julgado em Lyon, na França. Conseguiu fugir da prisão e quando se dirigia para a Itália, através da Suíça, foi novamente preso em Genebra, julgado e condenado a morrer na fogueira por decisão de um tribunal eclesiástico sob direção de um dos fundadores do protestantismo, o próprio Calvino, que ainda hoje é venerado como Santo por alguns religiosos.
A sentença foi cumprida em Champel, nas proximidades de Genebra, no dia 27 de outubro de 1553. Ele tinha 42 anos.
Puseram-lhe na cabeça uma coroa de juncos impregnada de enxofre e foi queimado vivo em fogo lento com requintes de sadismo, bem ao gosto dos religiosos da época, para servir de exemplo.
A sua descoberta foi por muito tempo proibida pela Igreja e consequentemente ignorada pela medicina oficial.
Como sempre a Igreja faz, reconheceu tarde seu erro.
Um monumento em sua memória foi erguido em 1903, em Champel, na Suíça, assinalando o local de sua execução. Depois outras homenagens lhe foram prestadas em toda a Europa.
Miguel Servet é uma das milhares de figuras quase desconhecidas que foram silenciadas pela covardia religiosa e serve de exemplo do amor cristão que tanto propagam. Felizmente as religiões perderam muito o poder de impor suas verdades, mas exatamente os mesmos e empoeirados dogmas são ensinados através de lavagens cerebrais em aulas de catecismo à crianças, porque são as únicas que, por não terem discernimento, aceitam suas fantásticas estórias.
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