James M. Dressler
14/08/2014 | Inflação
Imagine uma bacia cheia d'água e com uns patinhos de borracha boiando. Volta e meia bate uma brisa, pequenas ondas se formam, os patinhos balançam, sobem e descem, mas passados alguns minutos, tudo volta ao normal e os patinhos ficam sossegados. Agora imagine alguém botando mais água nesta bacia: há uma movimentação maior, e automaticamente, o nível da água sobe e os patinhos sobem junto, tanto quanto o nível da água subiu.
O mecanismo simples que todo mundo conhece, descrito acima, é exatamente o mesmo mecanismo que descreve a inflação. No lugar da bacia, ponha a economia do país, no lugar da água, o meio circulante (o dinheiro), e no lugar dos patinhos, os preços.
Até podem acontecer variações de preços com safras, clima, competição interna e externa, etc., mas a tendência é sempre de uma certa estabilidade. Só há uma maneira de os preços subirem consistentemente: alguém colocar mais dinheiro na economia, e até onde sabemos, só há um ente que tem este poder: o governo. E como ele faz isso? Ele manda imprimir mais dinheiro de forma a pagar suas contas ou libera os bancos de parte dos depósitos compulsórios que devem manter no Banco Central. Não se engane: não existe inflação gerada pelo aumento de custos de produção. Se os custos sobem, mas ninguém tem mais dinheiro no bolso para pagar pelos produtos, as únicas coisas que acontecerão serão a venda de menos produtos e provável perda de empregos na produção. Os custos maiores, se ocorrerem, só podem ser repassados se os compradores tiverem mais dinheiro para pagar.
Naturalmente, se há mais dinheiro circulando na economia, automaticamente há mais dinheiro na mão da população para comprar, e conforme a lei da oferta e da procura, com a procura aumentando consistentemente, o resultado será preços maiores ao longo do tempo. E da nossa longa é péssima experiência nas décadas de 70, 80 e início da década de 90, uma vez que se estabelece um círculo vicioso de mais injeção de dinheiro na economia e consequente aumentos de preços, é muito difícil de se re-estabilizar a economia. De nada adianta o governo tentar controlar ou congelar preços: isso no máximo fará com que as correções sejam mais lentas, mas aí elas serão maiores, ou ainda fará com que os produtores deixem de produzir, ou retenham a produção até que valha a pena produzir novamente ou recolocar os produtos à venda. O efeito, num prazo maior, é desorganizar completamente a economia, porque afeta a noção dos consumidores e produtores de qual o real valor dos produtos.
O tripé que comandou nossa economia nos últimos 15 anos, formado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, regime de metas de inflação e câmbio flutuante vem sendo pouco a pouco desmontado. A LRF aos poucos foi sendo afrouxada, as metas de inflação alargadas, o teto da meta de inflação foi transformado em centro e o câmbio flutuante acabou sendo usado para controlar a inflação. Um desastre. O resultado é o que estamos vendo: crescimento do PIB pífio, de menos de 1%, e inflação rondando os 7% anuais, embora quem vá ao supermercado perceba algo ainda maior que este número. Estamos beirando a estagflação, recessão ou crescimento pífio combinado com inflação alta.
Esperemos que haja um retorno aos fundamentos do tripé o mais breve possível, antes que a terrível espiral inflacionária tome a força que já teve no passado, que bem sabemos o quanto sofremos para revertê-la.
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