James M. Dressler
10/09/2018 | Sobre o incêndio do Museu Nacional
Assistimos estarrecidos o incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro na semana passada. Muito se falou de má gestão, de incompetência e de falta de recursos. Acho que há algo mais por trás disso e de muitas outras mazelas de nosso país. Vamos a ele.
A verdade é que o Brasil, há muito tempo já escolheu suas prioridades: salários e auxílios (moradia, paletó, combustível, etc.) do funcionalismo, aposentar pessoal com menos de 50 anos ou em torno disso, SUS universal e gratuito, adicional de aposentadoria para cuidadores de aposentados, remédios de graça que custam milhares a dose, e por aí vai, a lista é interminável. Não entrarei no mérito do que é justo ou não é. Não é este o ponto.
A questão é: com tantas demandas, querem que sobre para manter museu? Ora...
Só para constar, entre outras demandas urgentes, estruturais (sem elas o país não cresce e não há dinheiro para mais nada), 79% das estradas do Brasil são de chão batido, verdadeiros lamaçais a cada chuva que cai. Tal descalabro encarece demais todos nossos produtos, inclusive os que são exportados, diminuindo nosso mercado consumidor e limitando as divisas que o país poderia obter.
Focando apenas na nossa capacidade de custear tantas demandas, precisamos entender de uma vez por todas que o nosso PIB não é o dos EUA, é dez vezes menor! Em algum lugar vai faltar dinheiro, ou em muitos, se há tantas demandas! Países com um PIB per capita maior que o nosso não tem um estado tão gastador, que se obrigue a dar tantos direitos a seus cidadãos. O resultado é óbvio: está simplesmente faltando dinheiro para tantos direitos (muitos questionáveis) e tantas carências reais, como as péssimas estradas que temos. Eu acho que o museu tinha que ser preservado, mas não há dinheiro porque muitos dos gastos mencionados não podem ser cortados e, se para a infraestrutura básica para o país funcionar está faltando, imagine para um museu. Ah, eu sei. Agora que incendiou, apareceu dinheiro. Sim, mas e as estradas? E os hospitais lotados com gente espalhada em macas pelo chão? E esqueceram que só este ano teremos um déficit fiscal de R$ 139 bilhões? E que no ano que vem tem de novo? E em 2020, provavelmente?
E aí aparecem aquelas falácias, do tipo “com o dinheiro de uma (ou todas) das joias da mulher do Cabral o problema do museu estaria resolvido”. De novo o dinheiro da corrupção? Se o Cabral não tivesse desviado o que desviou, teria ido para estes outros gastos: hospitais sem vagas com gente no chão esperando atendimento, remédio de graça que está atrasado há seis meses e o estado não compra, cirurgia de mudança de sexo e bariátrica grátis pelo SUS, aumento do funcionalismo, arrumar estradas que estão caindo aos pedaços, etc., jamais teria ido para o museu. E podem ter certeza: dados os gastos que temos, nem todo o dinheiro da corrupção acumulado em dez anos cobriria o que é necessário para suprir estas carências durante apenas um ano.
Fazer de conta que todas estes outras demandas estão em dia e só estava faltando dinheiro para o museu, que as joias da mulher do Cabral ou o todo o dinheiro da corrupção no Brasil inteiro resolveriam, é ridículo.
Todo dinheiro da corrupção não daria nem para começar a solucionar todas as carências legítimas e abusos de gastos que o Brasil tem, pois eles são de outra grandeza, infinitamente maior. Não que não tenhamos que combater e acabar com a corrupção. Sem dúvida que sim, com penas duras e confisco dos bens dos ladrões e corruptos. Mas só isso não vai resolver o problema.
Precisamos urgentemente é repensar o tamanho do estado brasileiro, antes que ele nos engula. Completamente.
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