James M. Dressler
19/03/2018 | Para Onde Vamos?
Sou um atento ouvinte de rádio, principalmente das rádios jornalísticas, que dão notícias vinte e quatro horas por dia. Estes dias, ouvi um comentário bastante interessante, que não trouxe exatamente uma novidade, mas me chamou atenção por dimensionar melhor algo que para mim não era tão claro e tão grande como os fatos apontam. Falava do crescimento de Brasil e China de 1980 para cá.
O comentário de Eduardo Oinegue na Band News FM chamava atenção para o fato de que em 1980, já no início de outubro, o Brasil já tinha produzido tudo que a China iria produzir durante aquele ano inteiro. Corta para 2017. No final de fevereiro (!) do ano passado, é a China que está produzindo tudo que o Brasil produzirá em todo o ano que acabou há três meses. Questionava então Oinegue, ao final de seu comentário: o que é que estamos construindo em termos de país, que projeto nós temos?
Pois é. Os números são chocantes. Sempre podemos lembrar que a China não é uma democracia, que o trabalho por lá é “escravo”, que a grande maioria é pobre, e outras desculpas que sempre achamos para nossa vocação em permanecermos subdesenvolvidos. Adiciono um pouco mais de pimenta aos números: em 1980, o PIB per capita da China era de apenas US$ 195 e o do Brasil era de US$ 1.940, portanto dez vezes maior. Em 2016, o PIB per capita da China foi de US$ 8.123, e o do Brasil US$ 8.650, portanto quase um empate técnico. A China segue crescendo a um ritmo de 7% ao ano, enquanto o Brasil espera-se que cresça 3% em 2018. Supondo que ambos mantenham este ritmo nos próximos cinco anos, a China terá crescido 40% e o Brasil apenas 16%. Ou seja, o PIB per capita estará em torno de US$ 11.370 na China, e no Brasil em torno de US$ 10.034. E seguindo nesta toada, a distância só fará aumentar daqui para frente: em dez anos, a China terá crescido 96% e o Brasil somente 34%! O ano de 2018 é mais ou menos o ponto de inflexão, onde o chinês passará a produzir mais que o brasileiro, na média.
Para não ficar no comparativo com a China, cujas restrições ao seu modelo de produção e de política são conhecidas, que tal comparar com nossa vizinha, Argentina, de quem volta e meia tiramos uma onda pelo populismo, golpes e calote da dívida? Pois bem, em 1980, o PIB per capita da Argentina era de US$ 2.738 e o do Brasil US$ 1.940, como já indicamos, e em 2016, o da Argentina foi de US$ 12.450 e o do Brasil US$ 8.650. A Argentina multiplicou seu PIB per capita por 4,5 e o Brasil por 4,45. Ou seja, apesar da Guerra das Malvinas, e outras maluquices dos “hermanos”, como o calote da dívida externa, ainda assim eles ficaram um pouquinho à nossa frente. Se compararmos com o Chile, o resultado é pior: o PIB per capita dos chilenos foi de US$ 2.577 em 1980, e em 2016 subiu para US$ 13.793, um multiplicador de 5,35. Cresceu 20% mais que o PIB per capita brasileiro! Se quisermos ser ridicularizados, comparemos então com a Coreia do Sul: em 1980 o PIB era de apenas US$ 1.705, e em 2016 foi de US$ 27.539, crescendo nada mais que 16 vezes!
Resta-nos refletir: o que aconteceu de 1980 para cá com o Brasil? Uma Constituição que dá mais direitos aos seus cidadãos que os dos ricos países desenvolvidos? Falta de reformas? Crescimento da violência devido à leniência com bandidos? Ou tudo isso junto nos levou ao sufocamento produtivo que experimentamos nestes últimos 40 anos, criando um estado inchado e pesado, que consome tudo que é produzido e nos entrega muito pouco comparado ao que nos tira?
Talvez um bom projeto ajudasse, mas é difícil entregar bons resultados com qualquer projeto quando se carrega tamanho peso nas costas, como estes que nós mesmos escolhemos carregar.
Para onde vamos não sei, mas deste jeito não iremos muito longe.
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