James M. Dressler
02/03/2016 | Herança
Têm circulado nas redes sociais, frequentemente, comentários e posts de pessoas que tem filhos ou amigos, na sua maioria jovens, que não veem futuro no Brasil e que têm em mente sair do país e ir morar no exterior, em algum país de primeiro mundo. Seguem-se outros comentários acusando-os de falta de civismo, antipatriotismo, egoísmo e por aí vai. Será isso mesmo?
Minha posição em relação a este desejo de pessoas das novas gerações é de autocrítica. Como qualquer um de nós faz diante de uma oportunidade, o jovem irá avaliar os prós e os contras de encará-la. Ele com certeza pesará o que ganha e o que perde continuando no Brasil e tomará sua decisão. Cabe a nós, das gerações anteriores, avaliarmos então: o que é exatamente que estamos entregando para eles e a que custo?
Em primeiro lugar, podemos reconhecer que estamos deixando uma dívida pública imensa para as novas gerações por justamente refutarmos todas as reformas que há décadas já deviam ter sido feitas, e que por isso mesmo, só fazem tal dívida crescer como bola de neve. E esta conta será paga por alguém, e este alguém provavelmente são os jovens de hoje.
Em segundo lugar, estamos entregando um país com um sistema tributário manicomial, com uma carga tributária escorchante, e que ainda desestimula o empreendedorismo, uma tendência principalmente em países de primeiro mundo, e principalmente entre os mais jovens. Tire-se esta perspectiva deles, é mais um empurrão que damos para que não queiram ficar por aqui.
Em terceiro lugar, minguam, a cada dia, as vantagens que já houve de ser um funcionário público, ainda o sonho de muita gente jovem que pretende entrar no mercado de trabalho. Embora ainda haja muito atrativos, sem comparação com a iniciativa privada, o encolhimento da economia brasileira, asfixiando a administração pública pelo encurtamento das receitas, está tornando cada vez mais difícil se tornar um membro de primeira classe da sociedade brasileira, com aquelas vantagens que não existem para os cidadãos comuns. Esta porta para o “sonho” está cada vez mais difícil de abrir. Menos uma opção para os jovens, uma que sempre esteve entre as mais apreciadas. Cá entre nós, para o bem do Brasil esta festa está acabando, mas é um atrativo a menos para projetar um futuro em terras brasileiras.
Em quarto lugar, olhando para o Estado brasileiro, que “produto” estamos entregando às novas gerações? Além de uma economia em declínio, nem o mínimo funciona direito:
- Não se tem segurança, saímos de casa e não temos certeza de voltar vivos;
- A educação ocupa os últimos lugares no mundo, conforme classificações de diversos organismos internacionais;
- A saúde é abaixo do precário, com atendimento ruim e falta de equipamentos;
- A infraestrutura do país está sucateada: estradas caindo aos pedaços, ferrovias inexistentes, cidades também em condições precárias de manutenção.
Resumindo: um produto muito ruim. E não, nós, das gerações anteriores, não temos desculpa. Em duas gerações (40 anos) a Coréia do Sul saiu da miséria para ser um país de primeiro mundo.
Dá para condenar alguém que recebe tal herança e diz “obrigado, prefiro seguir meu caminho”?
Sinceramente, eu não consigo.
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