James M. Dressler
08/04/2019 | Esquerda ou Direita?
Instalou-se nas redes sociais, nas últimas semanas, uma discussão interessante: seria o nazismo uma ideologia de esquerda ou de direita? Apesar de esta ser uma discussão que já vinha acontecendo há alguns anos entre cientistas políticos e intelectuais nas próprias redes sociais, a polêmica ganhou notoriedade com as recentes declarações do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, caracterizando o nazismo como uma ideologia de esquerda.
Eu já tinha uma opinião formada há coisa de dez anos, desde que me dediquei a pensar sobre o assunto e a trocar ideias com outras pessoas interessadas em política. Li bastante sobre o que os outros pensavam sobre o nazismo, muitos de direita como eu, pois o que os militantes de esquerda pensam sobre ele é o que domina a mídia em geral, já que a esquerda controla as redações, principalmente no Brasil. Sempre identifiquei no nazismo características típicas de um regime totalitário de esquerda, principalmente o coletivismo (de raça, no caso), o tolhimento da liberdade e a planificação da economia. Mas por que, então, não é pacífico para todos que o nazismo seja uma ideologia de esquerda?
De tanto me fazer esta pergunta, cheguei à conclusão que só teria uma resposta clara e definitiva se eu deixasse de ouvir o que os outros diziam, fossem de direita ou esquerda, e conferisse eu mesmo o que o próprio Hitler teorizara sobre o nazismo, como ele houvera definido as bases de sua ideologia sinistra. Então, me empenhei em ler o livro “Minha Luta”, de 1924, onde Hitler lançara o nacional-socialismo, ou abreviadamente, nazismo.
E no decorrer da leitura, ficou claro o porquê da dificuldade das pessoas classificarem o nazismo. Em inúmeras oportunidades, Hitler se autoproclama antimarxista, mas também anticapitalista. Para ele, marxismo e Capitalismo eram uma estratégia de dominação global dos judeus sobre os outros povos, o que obviamente é um absurdo, mas ele entendia dessa forma. Aliás, essa era a justificativa dele para odiar os judeus.
Sobre o marxismo, dizia que a luta de classes era uma ideia estúpida, que levaria apenas à guerra de todos contra todos e à destruição da economia, e até mesmo a vida inteligente na Terra. Para evitar a guerra de classes, ele pregava um sindicato único, que harmonizaria as relações entre patrões e empregados, levando a um desenvolvimento econômico harmônico. Batize este “sindicato único” de “ministério do trabalho”, e o efeito prático é que não haveria mais sindicatos na Alemanha. Por outro lado, tal estrutura de gerenciamento do trabalho implicava também na planificação da economia, tal qual num regime socialista, só que sem a extinção da propriedade privada. As empresas continuariam a existir, mas perderiam sua autonomia do que, como, quando e quanto produzir: isso caberia aos burocratas nazistas definirem. Isso não parece em nada com o Capitalismo. Aliás, sobre o mercado de capitais, a Bolsa de Valores, Hitler era taxativo: não passa de uma jogatina, de especulação financeira, uma coisa sem qualquer utilidade e que deveria ser banida da face da Terra.
Então, se o próprio ideólogo renega as bases do marxismo e do Capitalismo, muita gente terá argumentos para negar que o nazismo era de esquerda ou de direita, olhando apenas para o lado que lhe interessa, jogando a culpa pelo nazismo a seu adversário político.
Mas por que então eu digo que o nazismo é de esquerda? Por dois motivos: (1) Por que ele é anticapitalista; (2) Por que o marxismo não é a única vertente da esquerda, é apenas uma delas, pois a esquerda e o socialismo já existiam antes de Marx. Apesar de Hitler refutar o marxismo, isso não o torna antiesquerdista, apenas que ele não considerava ser esse o melhor caminho para que o socialismo prosperasse.
Por outro lado, há diversos monumentos, moedas comemorativas e outros símbolos que mostram a ligação direta entre o nazismo e a esquerda. Até mesmo o nome da ideologia e do partido (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) trazem as palavras socialismo ou socialista como adjetivo. A imagem abaixo, de um botton nazista de 1934, traz a foice e o martelo ladeando a suástica. Com tantos símbolos para escolher, associados à direita (veja as costas de uma nota de um dólar americano), os nazistas foram escolher justamente aqueles associados ao socialismo?
Muito se pode dizer sobre a disputa política entre nazistas e comunistas na Alemanha, que não havia disputa ideológica, só de poder. Discordo, havia ambas. E não se pode deixar de citar também a vingança de Hitler contra quem considerava traidores da pátria alemã, os comunistas, que haviam deixado os soldados alemães na mão na Primeira Guerra Mundial, ao fazer uma revolução que os deixou sem munição no campo de batalha, levando a Alemanha à derrota.
Também pode se dizer que associar os termos “socialismo” e “socialista” ao nome da ideologia e do partido seria um golpe de publicidade de Hitler para roubar simpatizantes do comunismo na disputa política entre os dois partidos. Até poderia ser, mas a prática de Hitler no governo demonstrou que o nazismo era realmente muito semelhante a qualquer outro regime de esquerda. Hitler mesmo disse que havia aprendido muito com o marxismo, o que não quer dizer que ele o admirasse. Ele mesmo dizia que se interessou em estudá-lo para entendê-lo, e acabou por refutá-lo por achar que suas teorias levariam a ruína o país que o adotasse. Por isso mesmo, procurou outras soluções que, nos pontos em que ele considerava cruciais, afastavam o nazismo do marxismo, mas não do socialismo.
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