James M. Dressler
11/09/2017 | Pressa
Os novos áudios entregues por Joesley Batista à Procuradoria Geral da República acabaram por escancarar o pouco caso dos executivos da JBS com as instituições nacionais, e a manipulação a que foi submetido Rodrigo Janot, no caso da delação premiada da empresa. Agora, a questão é por que Janot teria caído nessa cilada tão facilmente?
Como já havia imaginado na época, aparentemente Janot simplesmente não estava satisfeito com os rumos do governo de Michel Temer, seja lá por quais motivos. Ao tomar conhecimento do que Joesley tinha a oferecer contra o atual governo, parece que Janot se afobou, oferecendo condições de inimputabilidade nunca antes vistas a um delator, além de até mesmo deixar de fazer o básico em relação a provas, mandar periciar as gravações feitas por Joesley com o presidente. Tudo feito às pressas, afoitamente, indicando que não havia tempo a perder, nem um dia, nem uma hora. Pior ainda, foi tudo homologado no STF, sem objeções. A “bomba” explodiu uma semana antes que a principal reforma proposta por Temer, a da Previdência, fosse votada no Congresso. Uma semana de atraso nesse processo, e a reforma estaria aprovada. Dá o que pensar, não dá? Para que tanta pressa? O fato é que a pressa agora se voltou contra Janot.
Primeiro, Temer acabou escapando, justamente por estas imperfeições no processo todo. Ficou parecendo que uma arapuca fora armada para pegar Temer, e agora os novos áudios reforçam esta impressão, insinuando que o braço direito de Janot, Marcelo Miller, teria tratado do assunto com Joesley ainda como procurador, e até o instruído em como obter provas contra Temer. Miller, não bastasse isso, logo depois saiu da procuradoria para atuar na defesa do mesmo Joesley por uma firma privada. A suspeição ficou no ar, mesmo que Marcelo Miller negue veementemente as acusações. De qualquer forma, ficou muito mal para Janot tal situação ter acontecido sob suas barbas e ele não ter percebido. Mas acho que pior ainda foi ter aceitado como prova gravações que não estavam sob controle da Polícia Federal e sim de Joesley. Ele poderia tê-las editado, ou entregue apenas aquelas que lhe eram convenientes. Aliás, como de fato ficou comprovado semana passada, quando, por descuido, Joesley acabou entregando os áudios comprometedores que revelaram a verdade. Para tentar corrigir o grave erro que cometeu, Janot pediu a prisão de Joesley, a de um executivo da JBS, Ricardo Saud, e do próprio ex-procurador Marcelo Miller, sendo que Fachin aceitou apenas as duas primeiras. Menos mal.
Mas o pior foi o que aconteceu depois dessa trapalhada toda, a poucos dias de Janot deixar o cargo. Veio a tal “limpeza” de gavetas, fazendo só agora o que, pela ordem cronológica, Janot deveria ter feito há muito tempo atrás: denunciar Lula e Dilma. As situações que os envolvem aconteceram (no mínimo) há mais de ano, muito antes da delação da JBS, e muito mais evidentes, com dezenas de testemunhos já prestados na Lava Jato por vários delatores. Por que Janot não fez as denúncias contra Lula e Dilma com a mesma pressa com que tentou enquadrar Temer? Por que fazê-las só agora, a alguns dias de deixar o cargo?
Eu não sei por que, só sei que acho difícil achar respostas para estas perguntas que aliviem a situação difícil em que Janot se meteu.
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