James M. Dressler
17/05/2017 | O Depoimento
Fiquei até um pouco entediado com a ausência de qualquer surpresa no depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro. Nada de novo! Como sempre, ele não sabia de nada, o triplex não é dele, não comprou, não tem escritura, só faltou dizer que estava sendo traído novamente.
Acho que de certa forma, Lula até foi bem. Quem esperava que ele ficasse nervoso, tremesse, deve ter ficado decepcionado. Ele até conseguiu transferir o palco do comício que se seguiu no centro de Curitiba, para o próprio recinto onde fazia o depoimento. Mesmo a contragosto do magistrado, fez os autoelogios de sempre, e encenou o papel de vítima de perseguição, que tanto aprecia. O que poderia ter sido um interrogatório ficou mais com cara de depoimento.
Houve algumas passagens hilárias, como Lula querendo ensinar aos procuradores e a nós, meros mortais, como é “governar um país”. Fiquei com a impressão que parece mesmo que ele considera que ser presidente é como ser uma espécie de rei absolutista, que tem direito a tudo, inclusive de não ser questionado, e mandar os súditos calarem a boca para não serem insolentes. E que o presidente pode dispor do que bem entender porque está acima da lei, pode cobrar o que bem entender de quem achar que deve, e entregar o que achar necessário para quem achar que mereça. Outro momento divertido: Lula afirmando que desde 2002, quando foi eleito presidente pela primeira vez, não tem qualquer influência no PT. Não sei como os presentes não caíram na gargalhada.
Lula também foi questionado sobre suas declarações alguns dias antes do depoimento, em que disse que prenderia quem agora quer o prender. Não quis comentar sua declaração, mas combina perfeitamente com a impressão que fiquei do rei absolutista, que uma vez no trono, mandava cortar cabeças de quem achava que pudesse representar-lhe algum perigo. Ainda bem que não temos mais guilhotinas à disposição, senão já viu...
Lula tentou repassar a culpa que pudesse ter para a falecida mulher, Marisa, e para o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Há quem pense que Vaccari poderia ficar indignado com o ex-presidente, e de repente optar por uma delação premiada. Dado o histórico de petistas em situação semelhante, como José Dirceu e Delúbio Soares, duvido muito. Este pessoal conta, ingenuamente, com a volta de Lula ao poder para sair da enrascada em que se meteram. Não sei o que Lula poderia fazer, mas delatá-lo seria desistir desta aposta. Acho que jamais acontecerá.
Lá pelas tantas, Lula quis passar a ideia de que a Operação Lava Jato não quer apenas derrubá-lo, mas sim o “projeto” que permitiu às “camadas mais necessitadas” uma vida melhor. Como já dizia um velho companheiro de Lula, ele sempre operou em cima desta lógica do “nós contra eles”. Infelizmente, é fácil para um populista operar dentro deste cenário. Quando há crescimento, ele assume ampliando gastos de forma insustentável, que minam aos poucos a economia do país, normalmente explodindo no mandato do presidente seguinte, que acaba como culpado pela catástrofe. Então, o populista lembra ao povo que “com ele era diferente”, e se o povo não for suficientemente instruído e consciente, na próxima eleição ele acaba voltando ao poder. É a cara do Brasil.
Não sei o que acontecerá com Lula, como Sérgio Moro avaliará as provas que o Ministério Público reuniu contra o ex-presidente, e se encaminhará uma sentença absolvendo ou condenando-o. Fico pensando até onde a condição política de Lula influenciará ou não este julgamento. Deus queira que não, porque se ela não influir, acho que a justiça será feita. E ainda há outros quatro inquéritos aos quais Lula terá que responder.
A sentença sai em um mês, aproximadamente. Até lá, suspense...
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