James M. Dressler
23/09/2015 | Cleptocracia
Lembro-me bem do impeachment de Collor e o quase êxtase que se seguiu, quando se imaginava que havia se passado o Brasil a limpo. Já escrevi antes, repito mais uma vez agora, nunca compartilhei desta idéia, sempre suspeitei que apenas haveria um aperfeiçoamento dos mecanismos para fraudar tudo que fosse possível fraudar.
E assim não fui surpreendido quando da descoberta do mensalão. Quando Roberto Jefferson denunciou o esquema, não só para mim, mas para qualquer observador atento, cristalizou-se aquela sensação de que havia algo errado e que o adesismo estava além do imaginável. Como gato escaldado tem medo de água fria, já imaginava que outro esquema estava sendo gestado, mais refinado, mais engenhoso, mais difícil de detectar.
E assim chegamos no petrolão, iniciado enquanto ainda se investigava o mensalão. Praticamente indetectável, mesmo descoberto, ainda assim difícil de provar, já que os coordenadores se escondem atrás das doações legais de campanha, através das quais o supostamente dinheiro desviado da Petrobras pelo suposto superfaturamento de obras e serviços prestados teria sido usado para abastecer campanhas eleitorais. É muita suposição numa frase só, e embora tudo tenha muito de jeito ser verdade, dá muito espaço para recursos e manobras para evitar-se punições.
O que fico imaginando é qual o novo esquema que substituirá o petrolão. O que parece é que ele ainda não existe, isso talvez explique as dificuldades do governo no Congresso. Mas não me iludo que não surgirá algum novo esquema em breve, principalmente se o mesmo grupo continuar no poder. Como bem citou Gilmar Mendes: “na verdade o que se instalou no país nesses últimos anos e está sendo revelado na Lava-jato, é um modelo de governança corrupta, algo que merece o nome claro de cleptocracia. Isso que se instalou!".
O importante é entender o que proporcionou as “condições ideais de temperatura e pressão” para que tal governança se instalasse no país. Pergunto: se o Brasil não tivesse estatais como a Petrobras (ah, mas o petróleo é “nosso”!) e tantas outras (são mais de 140), se não tivesse bancos públicos (os Estados Unidos não tem nenhum!), só para ficar nesse quesito, tal governança teria prosperado? E além dela, a má gestão simbolizada nas pedaladas fiscais teriam acontecido? Pois é, aí você já entendeu por que, volta e meia, políticos dão abraços em bancos e empresas estatais: como é bom ter uma estatal para poder chamar de sua...
Sendo assim, ou mudamos completamente de governo e mudamos também de mentalidade, que as pessoas parem de querer viver às custas do Estado e passem a querer a viver de suas próprias energias, onde paremos de demandar do Estado tudo que deveríamos nós mesmos nos encarregarmos de conquistar, ou sistematicamente acabaremos elegendo políticos assistencialistas que incharão o Estado mais e mais, demandando uma carga tributária crescente e sufocante. E um Estado inchado e rico, acima de um povo inculto e pobre, é onde tudo de ruim se inicia: poder e dinheiro demais na mão de políticos, donos do mundo, que tudo podem (“em nome do povo”).
É a receita perfeita para desvios, corrupção e má gestão, com resultado oposto àquele que desejaríamos.
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