James M. Dressler
03/06/2015 | Voo de Galinha
Tenho ouvido as manifestações da presidenta Dilma Roussef e já posso afirmar com certeza que estamos encerrando um ciclo de populismo econômico com as medidas de austeridade fiscal implementadas pelo ministro Joaquim Levy. Isso até seria ótimo, não fosse o fato de que das mesmas manifestações é possível afirmar também que assim que passada a “crise”, voltaremos ao populismo econômico com muita alegria e esperança.
O populismo econômico, como descrito por Rudiger Dornbusch e Sebastián Edwards em “Macroeconomic Populism” (1990), se caracteriza por uma intervenção estatal na economia de forma intensa, incentivo ao consumo e déficits orçamentais. Acho que qualquer pessoa que lê regularmente jornais ou acessa sites de notícias já está familiarizado com estes termos, eles são recorrentes nas notícias sobre a economia brasileira. Infelizmente, passamos de governos que vinham se afastando destas práticas a partir do Plano Real, inclusive com a chegada de Lula à presidência, para voltar a experimentar, desde o segundo mandato do mesmo Lula e em doses crescentes, medidas governamentais que nos encaixaram perfeitamente no grupo de países que praticam o populismo econômico.
O citado artigo de Dornbusch e Edwards caracterizava o populismo econômico como passando por quatro estágios, bem definidos:
Primeiro estágio: o governo implementa medidas de intervenção econômica, subsidiando áreas que considera de “interesse nacional”, escolhendo “campeões” e subsidiando crédito a eles, taxando importações e restringindo o comércio internacional. O efeito imediato é um crescimento do PIB, diminuição do desemprego, crescimento dos salários e a inflação se mantém sobre controle. Tudo parece ir bem e o país parece entrar num círculo virtuoso.
Segundo estágio: como não há estímulo à poupança e sim incentivo ao consumo, o investimento é baixo. Começa a haver uma pressão de demanda, a inflação começa a subir. Como o governo subsidia setores econômicos, ele tem que aumentar os subsídios de acordo com a inflação, e a situação fiscal das contas do país começa a se deteriorar. O governo evita tomar qualquer medida corretiva, pois acredita no que está fazendo e evita contrariar seu discurso.
Terceiro estágio: a inflação acelera, há desvalorização da moeda e fuga de capitais. Quem pode, procura o refúgio no dólar, realimentando o ciclo. A economia começa a declinar, diminuindo a receita de impostos e agravando a situação fiscal do país. O governo é forçado a cortar subsídios para evitar uma rápida deterioração da economia. Os salários ficam defasados e fica difícil obter reposições salariais.
Quarto estágio: um novo governo acaba eleito e põe em prática medidas de economia ortodoxas, ajustes fiscais para tentar salvar a situação, e nos casos de extrema deterioração econômica, sob a supervisão de órgão como o FMI. A situação econômica do país, neste estágio, já regrediu ao que era no início do ciclo populista, e acabamos com o que chamamos de “década perdida”.
Como destaquei no início, esta caracterização do populismo econômico foi apresentada em 1990. Não, não é uma descrição baseada no que aconteceu na última década no Brasil.
Minha tristeza é que ouvindo as declarações da presidenta, concluo que estamos no quarto estágio, apenas nos preparando para podermos voltar ao primeiro. Alguém já caracterizou estes ciclos como voos de galinha e, sinceramente, não há o que descreva melhor esta vocação brasileira para o populismo econômico e para ser o eterno país do futuro, que nunca chega.
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