James M. Dressler
22/05/2017 | Nova Crise
Na semana passada fomos todos surpreendidos com a delação premiada dos donos da JBS, os irmãos Batista, e a divulgação dos áudios e fotos que envolviam o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves em novo escândalo de corrupção. Alguns aspectos me saltaram aos olhos diante de tudo que aconteceu.
Em primeiro lugar, a assimetria entre o acordo que beneficiou Joesley Batista e irmão e o que foi feito com Marcelo Odebrecht. O ex-presidente da empreiteira está há um bom tempo na cadeia, vai passar mais algum tempo ainda, e sua empresa vai pagar quase oito bilhões de reais à Justiça. Já o dono da JBS não será preso, nem sequer será monitorado (não terá que usar tornozeleira), nem no Brasil vai ser obrigado a morar, e terá que pagar tão somente 220 milhões de reais em multas à Justiça, o que poderá ser coberto facilmente por uma operação bilionária de compra de dólares pela JBS horas antes da divulgação das denúncias (CVM, alô?). Parece-me muito pouco diante do que envolveu o crescimento da JBS durante os governos do PT, somados às vultosas doações de campanha (que os irmãos Batista disseram serem propinas) ao partido depois que obteve financiamento bilionário do BNDES durante os governos deste partido. Fica a impressão que havia urgência em fechar tal acordo esta semana, coincidentemente uma semana antes de um período de extensas votações de reformas no Congresso, e para isso os procuradores foram extremamente generosos com a JBS e seus proprietários.
Em segundo lugar, ficamos sabendo também os Batista venderam suas ações da JBS à própria JBS enquanto acordavam sua delação premiada. Ações, que com a delação, teriam tendência de uma forte queda. Parece claro que os demais acionistas da JBS saíram prejudicados nisso tudo. E o Ministério Público? Deixou isso passar batido para não atrapalhar o timing da delação, que reitero, parece que tinha um prazo fatal para ser tornada pública?
Em terceiro lugar, por que motivo, já que estão citados em evidentes casos de propina pelos irmãos Batista em sua delação, os ex-presidentes Lula e Dilma não foram presos nesta operação, pois não tem foro privilegiado, como tem Aécio Neves?
Em quarto lugar, a impropriedade da reunião de Michel Temer e Joesley Batista. Seja qual fosse o assunto, havendo uma gravação, o que quer que fosse dito seria suspeito. Se falassem de futebol, por exemplo, todos diriam que era uma conversa cifrada sobre atividades ilícitas. O problema não é o que dizem, e sim a reunião em si. Impressionante a ingenuidade de Michel Temer e de sua assessoria. Duvido que alguém chegue perto do presidente dos Estados Unidos sem ser verificado acerca de escutas e dispositivos semelhantes. Repito: mesmo que se falasse de futebol, daria margens a interpretações. E dadas as gravações, embora não tenham sido o que se divulgara num primeiro momento, não são propriamente conversas muito republicanas. Deixam Temer embaraçado diante de uma situação em que deveria ter denunciado Joesley, mesmo sabendo que a JBS já estivesse na mira da Operação Lava a Jato. Ficou numa saia justa, para a qual é difícil ele encontrar explicações.
O que sobra para nós, brasileiros, é o prolongamento da crise econômica, que já dava sinais de estar sendo debelada. As reformas que poderiam permitir ao país voltar a um forte crescimento econômico certamente serão prejudicadas, pois duvido que agora o governo Temer consiga aprová-las. Sem elas, o déficit do governo dificilmente será revertido, gastaremos cada vez mais com Previdência e menos em infraestrutura, saúde, educação e segurança, e o mercado de trabalho continuará paralisado. E nesta toada, em alguns poucos anos, os parcelamentos que vemos no Rio Grande do Sul passarão a acontecer em nível federal.
Como sair desta crise? Só com a saída de Temer e com a assunção de um governo também reformista. Sou pela observância da Constituição, caso Temer renuncie ou caso o TSE casse sua chapa, que uma eleição indireta eleja o novo presidente. Neste caso, acho que o nome mais indicado para tocar as reformas seria o de Henrique Meirelles, o mentor da reforma da Previdência. Seria o nome ideal, sem qualquer citação em delações e que também passou incólume pelo mensalão. O problema é alguém aceitar o cargo agora tendo que aprovar reformas impopulares, cujo apoio prejudicará qualquer intenção de no futuro ser eleito diretamente para continuar na presidência.
Resta-nos agora esperar os desdobramentos desta crise. Acho que teremos mais momentos trepidantes em breve.
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