James M. Dressler
10/05/2017 | A Reforma da Reforma
Depois de perder muito de seu conteúdo original, a reforma da Previdência caminha para apreciação no plenário do Congresso. Com as diversas categorias que foram premiadas com regras privilegiadas de aposentadoria, muito da essência da reforma necessária se perdeu. E agora?
Tentando medir o tamanho do estrago criado pelos parlamentares e suas concessões a determinados grupos de pressão e categorias mais organizadas, economistas do Bradesco fizeram um estudo que analisou a reforma original e a que está em vias de ser aprovada pelo Congresso. O projeto original do governo tentaria economizar R$ 800 bilhões num prazo de dez anos. Do jeito que ficou, a economia será de apenas 480 bilhões, pouco mais da metade pretendida.
Ruim para o país, que continuará aposentando alguns príncipes antes da hora, ainda jovens, enquanto em outros países, pessoas com ocupação idêntica não têm uma aposentadoria diferenciada. Qual a justificativa para aposentar um professor aos 55 anos, no auge de sua intelectualidade? A gente sabe como funciona no Brasil: quem é organizado e pode pressionar por um privilégio, o faz sem o menor constrangimento, e os deputados, bem eles são extremamente vulneráveis em suas opiniões a qualquer eleição mais próxima.
Já escrevi isso antes, não custa repetir: com a crescente longevidade da população, estamos chegando, para algumas profissões, à mesma situação existente hoje para jogadores do futebol, em que a carreira na profissão acaba antes do direito à aposentadoria chegar. Assim como o jogador de futebol encerra a carreira aos 35 anos em média e depois tem que procurar outro trabalho até o momento da aposentadoria, isto eventualmente acontecerá com outras profissões onde, depois de uma determinada idade, faltem condições físicas para o profissional continuar, mas sobrem condições para exercer outro sem número de profissões.
Seja lá como for que a reforma acabe aprovada, talvez mais “desidratada” do que já está, o certo é que daqui alguns anos (em torno de cinco), a reforma terá que ser reformada. Um segundo estágio onde estes que estão sendo privilegiados agora, percam seus privilégios e se juntem em direitos aos demais. Talvez as regras sejam também endurecidas um pouco mais para todos. Tudo dependerá de como o país vai sair da atual crise e como evoluirão as receitas da União até lá.
Perdemos a chance de fazer uma reforma mais duradoura, e não há como escapar. Gerou-se uma fatura para ser cobrada mais adiante. Ela virá como esta que estamos pagando veio. E será pagar ou pagar.
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