James M. Dressler
26/10/2016 | A Prisão de Cunha
E o juiz Sérgio Moro, como já se previa, acabou decretando a prisão do ex-presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, para delírio daqueles que querem na cadeia todos os envolvidos com os escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava-Jato. Também não foi surpresa a reação esquizofrênica de algumas figuras políticas de nosso país.
Houve quem dissesse que Cunha jamais seria preso, que ele seria recompensado por ter “comandado” o impeachment de Dilma Rousseff com a leniência da Justiça. Depois do fato consumado, que a prisão do ex-deputado seria um “balão de ensaio” para prender um “peixe maior”, o ex-presidente Lula. Não adianta, certas figuras querem martelar a realidade para se encaixar em seu discurso, e depois tem que arranjar novas teorias da conspiração para explicar o revés lógico que tiveram. E eles têm uma criatividade! Ignoram o princípio conhecido como “Navalha de Occam”: "se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor". Será? Duvido, o problema é que estão mais interessados na versão do que no fato.
Há outros que passaram condenando a Lava-Jato até agora, dizendo que era perseguição a determinados partido de esquerda, que se queria apenas derrubar um governo democraticamente eleito, e depois da prisão de Cunha, passaram, sem nenhum pudor, a saudar a Lava-Jato com frases do tipo “todos corruptos de todos partidos na cadeia! Viva a Lava-Jato!”, como se até agora apenas políticos de um único partido estivessem sendo investigados e/ou indiciados. O difícil vai ser mais adiante, quando um “grande líder” acabar também sendo preso, e os mesmos acabarem tendo que voltar ao discurso de outrora. Se bem que este pessoal mais cegamente ideologizado muda de opinião com muita facilidade, não tem muito compromisso nem com o que disseram ontem.
Também não faltaram os que agora dizem que um deputado preso por corrupção comandou a derrubada de uma “presidenta” democraticamente eleita, como se o impeachment não tivesse sido votado na Câmara por mais de 500 deputados, e depois no Senado, duas vezes, por mais de 80. Quanta mistificação da verdade! E lembremos que as investigações sobre a compra da refinaria de Pasadena ainda não terminaram, então talvez sobrem acusações semelhantes às de Cunha para os membros do conselho da Petrobras que autorizou o pior negócio da história da empresa, até agora absolutamente inexplicável.
O fato é que Cunha sabe muito, esteve envolvido em muita atividade política nos últimos 20 anos, várias campanhas, indicações, e acabou envolvendo a família em alguns negócios agora sob investigação. Ou seja, os familiares podem acabar também respondendo aos mesmos processos que ele. Imagina-se que ele possa fazer algum acordo para assumir sozinho a culpa e acertar uma delação premiada, livrando os familiares de qualquer pena. Fico pensando se isso interessa a nós, contribuintes. A mim, não! Quero todos que cometeram crimes na cadeia, se delatarem gente maior ou muito mais gente, até podemos aceitar um acordo, mas ninguém sai livre assim no mais. Que tenham pena reduzida sim, mas livres sem pena alguma, não!
Resta-nos aguardar agora as próximas semanas. Veremos o que os procuradores acertarão com Eduardo Cunha depois de todos mostrarem que cartas têm para jogar. Enquanto isso, acredito que Brasília e o Rio de Janeiro vão ter uma crise no fornecimento de ansiolíticos.
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