James M. Dressler
26/02/2015 | Petrolão
Observando os desdobramentos da Operação Lava-Jato e o comportamento do Judiciário e da Promotoria envolvida no caso do chamado “petrolão”, me parece estar se formando um perigoso consenso de que o esquema desvendado seria um conluio de empreiteiras para assaltar os cofres da Petrobras e talvez de outras estatais, todas vítimas de malvados empresários dispostos a enriquecer (ainda mais) ilicitamente.
Teríamos que acreditar então, que tal esquema sempre existiu, desde que existem empreiteiras e desde que existem estatais para serem suas vítimas. E que quem dirige uma empreiteira é provavelmente um bandido, e que estas empresas são, na sua grande maioria, organizações criminosas. Por outro lado, teríamos que aceitar que estatais são entidades acima de qualquer suspeita, dirigidas apenas por políticos honestos, e também muito tímidos e/ou medrosos que, apesar de terem todo o aparato policial estatal a seu lado, silenciam diante de esquemas de corrupção, aceitando propina talvez para não prejudicar a imagem da empresa ou talvez para não prejudicar os projetos da empresa. Haja imaginação para inventar motivos para alguém aceitar propina, embolsar boa parte dela e repassar boa parte para o partido a que pertence.
Tal conto de fadas se assemelha à seguinte situação: você reúne uns amigos, vai a um cassino e acha que lá vocês é que comandarão jogo, e não a casa de apostas. Qual a diferença entre isso e algumas empreiteiras se reunirem e acharem que entrarão na Petrobrás para mandar na empresa, ela que tem todo o poder na mão, inclusive político, de rejeitar quem quiser e até mudar a lei, se a Presidência do Brasil assim entender que é do interesse do país? Ora, é mais do que claro quem dá as cartas e quem extorque quem nesta história. Se não houver quem se corrompa na empresa (e tem que ser um bom número de pessoas em cargos-chave), não há corruptor que consiga fazer seus negócios na base da propina. É uma via de duas mãos. Resta saber de quem foi a iniciativa de iniciar o esquema agora desvendado. Os relatos de vários delatores, confirmando que o esquema começou a partir de 2003, e sabendo que tanto as empreiteiras como a Petrobrás já existiam antes desta data, podem dar um indicativo. Quem sabe foi algo que mudou exatamente nesta época?
Temos que ter cuidado neste momento. Já temos o exemplo do mensalão, onde o empresário Marcos Valério acabou pegando uma pena de quarenta anos de prisão, enquanto políticos considerados chefes do esquema já estão soltos, e pior ainda, já suspeitos de estarem envolvidos novamente com outras situações comprometedoras. Meu temor é que a mesma coisa acabe acontecendo na Operação Lava-Jato, e minhas suspeitas aumentam tanto quanto mais se adia a divulgação oficial de todos políticos envolvidos. O fato é que a legislação brasileira de certa forma favorece a preservação dos políticos envolvidos em tramóias de qualquer tipo, não seria a primeira vez nem a última em que escapariam de penas duras por crimes cometidos. Então, a estratégia correta para enquadrá-los de forma a que respondam por eventuais crimes cometidos pode ser tortuosa, mas temos que ficar vigilantes para que não escapem mais uma vez. Se a estratégia for apertar os corruptores, ricos empresários acostumados ao luxo de suas casas, jogando-os na prisão pelo maior tempo possível para que entreguem os corruptos, até pode dar certo.
Os próximos meses serão decisivos para vermos que rumo tomarão as investigações. Fiquemos atentos e utilizemos as redes sociais para marcarmos nossa posição: que a verdade seja apurada e os culpados sejam exemplarmente punidos, sejam empresários, funcionários da Petrobrás ou políticos.
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