James M. Dressler
25/12/2014 | Cuba
Esta semana fomos surpreendidos (ou nem tanto) pela reaproximação de Cuba e Estados Unidos, depois de mais de meio século sem relações diplomáticas entre os dois países. A pergunta agora é: o que exatamente isso significará para o futuro de Cuba?
Sinceramente, acho que poderia ser um primeiro passo na direção de uma abertura econômica e política do regime castrista. Os irmãos Castro talvez tenham percebido que é melhor conduzir uma transição para o Capitalismo de forma controlada do que ser conduzido por ela (ou melhor, arrastado). Normalmente, a segunda opção se dá com consequências não muito favoráveis à saúde dos detentores do poder, daí a conclusão de que é melhor entregar os anéis e preservar os dedos.
O fato é que, com o colapso da União Soviética, acabou a mesada que sustentava a fantasiosa prosperidade cubana, que se viu pobre de uma hora para outra, e viu sua saúde econômica minguar rapidamente. Com o recrudescimento do socialismo na América Latina e a ascensão de Chávez ao poder uma década depois, Cuba obteve uma nova fonte de mesadas que deu uma sobrevida ao regime ditatorial. Como todo regime socialista já traz no seu âmago a sua própria sentença de morte, a inexistência do cálculo econômico, mesmo tendo a maior reserva de petróleo do mundo, a Venezuela soçobrou e Cuba acabou sofrendo os danos colaterais. O Brasil, passando também por dificuldades econômicas e com uma oposição ainda ativa, não poderia assumir o papel da Venezuela, por mais simpático ao regime comunista que o atual governo possa ser. Cuba ficou sem opções.
Não tendo outra opção melhor, os irmãos Castro, aproveitando o viés um tanto socialista de Barack Obama e a ajuda do Papa Francisco, conseguiram articular uma reaproximação com os EUA. Até não vejo problema nisso, se vier acompanhada de uma abertura política e econômica. O problema reside justamente aí. Será que haverá tal abertura? Nestes mais de cinquenta anos, aprendi a não confiar em ditadores em geral, e menos ainda nos irmãos Castro. Acho que estão tentando ganhar tempo e gás, mas sem abrir mão do controle político e econômico da ilha. Algo a conferir nos próximos anos. Do ponto de vista dos Estados Unidos, duvido que se revogue de imediato (2015) o embargo econômico imposto à Cuba. Raúl Castro vai ter que apresentar mais serviço do que apenas boas intenções, se quiser que o embargo seja retirado, coisa que não depende da vontade de Obama e sim da disposição do Partido Republicano. O furo é bem mais embaixo.
Uma coisa é intrigante, ao menos. Segundo se sabe, o povo cubano fez festa com a notícia. Ou seja, gostou da reaproximação com o “império capitalista”. Então, como o regime comunista se mantém no poder há tanto tempo? Cheguei a pensar que o povo era adepto do comunismo, tinha fé no regime e por isso não derrubava o governo. Mas esta festa fez-me pensar se o povo realmente não é oprimido e refém do sistema, que se mantém porque Cuba é uma ilha e isso torna muito mais fácil a logística para o regime submeter os cubanos. Não há fronteiras para contrabandear armas para uma resistência, por exemplo.
Por outro lado, só rindo da manifestação do governo brasileiro, gabando-se de ter gasto nosso suado imposto na construção do porto de Mariel em Cuba. Até parece que o porto vai trazer divisas para o Brasil e não para Cuba, ou como se Cuba fosse parte de um estado brasileiro, como Fernando de Noronha. Só se a lente usada for a do Foro de São Paulo, aquela entidade que quer transformar a América Latina numa grande união soviética latino-americana. Nunca se sabe o tamanho do delírio ao que pessoal já chegou em Brasília.
Entrementes, independentemente de levar mais dois, três, cinco ou dez anos para mudanças econômicas e políticas efetivas na atual ilha-presídio, lembro-me da frase de Roberto Campos: “o socialismo é o caminho mais longo para se chegar ao Capitalismo”. A União Soviética levou setenta anos para chegar lá, será que Cuba bate este recorde ou decidiu pegar uma carona com o Tio Sam?
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