James M. Dressler
01/07/2015 | Lava-jato
Tenho aquela sensação de que já não há mais como ser surpreendido com as revelações oriundas da Operação Lava-jato, mas a realidade teima em contrariar meu cérebro. Quando penso que já existem todos os indícios e quem sabe até provas apontando para o cabeça do “petrolão”, eis que sempre aparecem novidades oriundas de novas delações fechando cada vez mais o cerco em torno da quadrilha que assaltou o país. Todo mundo tem o mesmo personagem como suspeito principal, mas parece que sempre se espera que apareça o próprio dizendo que “fui eu” para que finalmente seja preso.
Tudo isto que vejo agora, faz me lembrar da época de Collor. Parei um pouco para pensar depois do impeachment, e uns três meses depois tinha uma idéia formada em minha cabeça: nada iria realmente mudar, exceto que os esquemas de corrupção seriam aperfeiçoados o suficiente para que não fossem descobertos tão facilmente. Não deu outra, e quando o “mensalão” foi descoberto, mais de dez anos depois, tive apenas a confirmação do que eu suspeitava. E repeti a frase: não se enganem, nada vai mudar, neste exato momento está sendo tramado um novo sistema para substituí-lo e que será ainda mais difícil de desvendar.
Com as revelações desta semana, já se pode dizer com absoluta certeza que o “petrolão” já existia talvez antes mesmo do “mensalão” vir à tona. Mas eu diria que ele realmente deslanchou depois que o esquema do “mensalão” foi desativado, pois passou a ser a fonte principal de dinheiro para alguns partidos políticos. E vejam só, a sofisticação é tanta que o esquema foi montado de forma a que tudo pareça apenas doações legais para campanhas políticas, sobrando para as empreiteiras e seus donos o ônus da culpa de formação de cartel e de superfaturamento de obras, enquanto os políticos e partidos são apenas pobres inocentes que não tinham idéia de onde o dinheiro saía... É quase o crime perfeito.
Agora a luta é entre a verdade e a aparência. Entre se conseguirão colar a tese de que meia dúzia de diretores inexpressivos, alguns donos de empreiteiras e alguns políticos do baixo e médio clero conseguiram roubar um valor estimado por alguns em quase cem bilhões de reais da principal empresa do país sem que ninguém percebesse, ou se havia gente muito mais graúda envolvida nisso, da presidência da empresa, do conselho de administração, chegando até palácios de Brasília.
Nos últimos movimentos, tivemos primeiro a ameaça bombástica de Marcelo Odebrecht: “não haverá república na segunda-feira”. Parece-me que ele apenas queria confirmar a máxima de que cão que ladra não morde. Já suspeitava que ele não iria dizer absolutamente nada, depois de alguns dias na cadeia, racionalizando entre o que perderia e o que ganharia ao entregar o que sabe. Não deu outra, e preferiu ficar calado. Apenas deu o sinal para aqueles que temem que ele diga o que sabe. E neste último final de semana, outro “homem-bomba”, Ricardo Pessoa, dono da UTC, envolveu (mais uma vez) diretamente as campanhas à presidência do PT de 2006, 2010 e 2014 no esquema de repasse de dinheiro desviado da Petrobrás.
Duvido que dê em alguma coisa. A desculpa já estava pronta: foram doações legais, registradas e aprovadas pelo TSE. Tudo dentro da maior normalidade. Vamos ver como a turma de procuradores e o juiz Sérgio Moro tentarão desmontar esta tese. Meu temor é quando ouço que este ou aquele suspeito não estão sendo investigados na Operação Lava-jato. Fica parecendo que o crime-perfeito realmente aconteceu.
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