James M. Dressler
30/11/2016 | Plano Real “Reloaded”
Já escrevi em outras oportunidades que a herança maldita destes 14 anos do petismo no poder foi o desvirtuamento quase que completo do Plano Real, aquele conjunto de medidas estratégicas que, em meados da década de 90, derrotou o dragão inflacionário que havia levado a inflação anual ao patamar de inacreditáveis 5.000% ao ano.
Muitos brasileiros já nasceram depois do Plano Real e se acostumaram com preços relativamente estáveis até 2010, com a inflação acelerando um pouco mais depois disso, mas ainda assim em patamares que a gente ainda consegue ter uma noção razoável do valor das coisas. Muito diferente de 1992, em que a inflação andava em torno de 40% ao mês, ou seja, os produtos praticamente dobravam de preço a cada dois meses. E isso de forma completamente descoordenada: enquanto uns subiam toda hora de preço, outros subiam em ondas, de tal forma que se perdia muito da noção dos valores relativos entre um produto e outro. Está caro? Está barato? No dia seguinte um produto estava um pouco mais caro e o outro já tinha quase dobrado de preço. Era difícil ter noção se estava fazendo um bom negócio ou não.
E mesmo sabendo como as coisas eram naquela época, flertamos com a inflação o mais que podíamos. De 2003 para cá, o tripé que manteve o Plano Real foi aos poucos sendo minado: metas de inflação, câmbio flutuante e superávit fiscal primário foram sendo destruídos um por um. A meta de inflação foi alargada, passando o centro da meta para 4,5%,e depois, o que era o topo da meta, passou a ser encarado como o centro. Claro, quando se entra nesta lógica, em seguida se estoura até o topo da meta, como aconteceu, chegando a ultrapassar os 10% ao ano. O câmbio passou a ser dissimuladamente controlado, para conter a inflação que tendia a explodir. Um erro puxando o outro. Por fim, o superávit fiscal começou a ser escamoteado, com ginásticas contábeis cada vez maiores, para produzir um superávit fictício. Chegamos ao ponto em que nem um salto triplo contábil conseguiu esconder o enorme déficit que o governo começou a produzir. O desastre econômico era certo e não foi por acaso que encarreiramos dois anos de recessão.
Então, na situação em que nos encontramos agora, mergulhados neste mar de desemprego em que se afogam mais de 12 milhões de trabalhadores, vejo com muita satisfação esta nova situação em que o governo federal coordena com os governos estaduais a contenção de gastos, racionalizando as despesas, obrigando a todos uma volta à responsabilidade fiscal, abandonada nesta última década. O governo federal faz sua parte com a PEC 241/55, e aqui o governo estadual, depois de amplo estudo da situação do estado, encaminha um pacote para recolocar o Rio Grande do Sul nos trilhos. Acho que poderíamos batizar esta nova fase de Plano Real “Reloaded”.
Vai doer? Claro que vai. A ressaca sempre é mais difícil quanto maior o porre. E o que nós tivemos nos últimos 10 anos foi um imenso porre do que havia de pior para consumir. Agora, é hora de curar a ressaca.
Como venho repetindo de uns tempos para cá, espero que tenhamos aprendido de vez que a moderação e o conservadorismo nas despesas são melhores conselheiros dos que aqueles que vínhamos ouvindo ultimamente.
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