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James M. Dressler
06/01/2016 | Relembrando
Começam a pipocar, à medida que a inflação recrudesce, mais e mais reportagens sobre a escalada de preços de produtos e serviços e de como os jovens que já nasceram sob a era do Plano Real estão reagindo a esta “novidade” chamada inflação.
Como eu já sou mais velhinho, tendo começado a trabalhar no distante ano de 1983, peguei inflação como dependente de meus pais e depois a hiperinflação já trabalhando como empregado. Vou fazer um exercício de memória para relembrar como era a vida nesta época, de passagens que parecerão até piada para os jovens com menos de 30 anos.
Lembro quando era criança, coisa de 7 anos, lá por 1969, que meu pai estava me ensinando o que era dinheiro, e me dava umas notinhas de “cruzeiros novos”. E eu fui formando um bolinho daquele dinheiro, não tinha muita noção de quanto valia, mas gostava de ir juntando aquilo, me fazia sentir um pouco como o Tio Patinhas, de quem eu era fã das histórias em quadrinhos. Mas elas tinham um carimbo circular, onde estava escrito “cruzeiro novo” e o valor da nota. Por exemplo, a nota com a imagem de Pedro Álvares Cabral tinha o carimbo de um cruzeiro novo, enquanto a nota estampava originalmente o valor de mil cruzeiros. Um dia perguntei e meu pai me explicou que o governo tinha dividido o valor do dinheiro por mil, porque já não valia mais nada, e impresso novas notas com valor maior. Era por causa da inflação, e foi a primeira vez que eu tomei conhecimento que ela existia.
O tempo passou e no início da década de 70 a moeda voltou a se chamar apenas cruzeiro, mas a inflação só fez aumentar. Na época, tal como nos últimos 10 anos, o governo dizia que um pouco de inflação não faria mal e geraria empregos. Como expliquei em um artigo recente, para as coisas saírem de controle não é muito difícil, e uma vez descontrolada, a inflação galopa rapidamente para se tornar hiper.
E assim chegamos à década de 80, com a situação econômica se tornando cada vez mais grave com a abertura política, onde o sindicalismo voltou a mostrar sua força pressionando por aumentos e reajustes para repor as perdas salariais causadas pela inflação, o que foi num crescendo até se tornar proeminente na década de 90. Não há nada melhor para fazer explodir a inflação do que reajustes automáticos de salários pela inflação. Chegamos, naquela época, ao que se chamou de “gatilho salarial”, ou seja, quando a inflação acumulada, independentemente de qualquer período, ultrapassasse 10% (por exemplo), os salários eram automaticamente reajustados na mesma proporção. É como querer apagar fogo com gasolina, e só poderia redundar na hiperinflação da década de 90.
Lembro que nesta época, apesar dos péssimos serviços telefônicos da CRT, recebíamos os holerites e ligávamos imediatamente para o gerente do banco para confirmar o saldo e aplicar o dinheiro no “overnight”, um fundo que rendia diariamente como os fundos de hoje, porque a inflação em apenas um dia podia passar facilmente de 1%, e não dava para deixar o dinheiro parado. À medida que se emitiam cheques (não havia cartões de crédito), o resgate era automático do fundo. Claro que o povo pobre que vivia de salário mínimo não tinha acesso a estes fundos, a maioria, aliás, nem tinha conta em banco. A inflação é perversa com os mais pobres, sendo conhecida como o “imposto sobre a pobreza”.
E depois de sair do trabalho era aquela corrida ao supermercado, antes que os preços aumentassem mais. Fazer as compras de todo o mês enchendo dois carrinhos e depois correr para casa para guardar tudo no freezer. Energia elétrica barata e preços que eram remarcados todos os dias, essa era a melhor estratégia para economizar. Já hoje em dia, com a energia elétrica com preços nas alturas, não sei se valeria a pena. Provavelmente ainda não.
Essa geração da virada do século que não presenciou nada disso e que se sente incomodada agora com a inflação de 10%, imaginem se ela atingir um patamar maior. E dadas as políticas econômicas que estarão sendo possivelmente retomadas com a chegada de Nelson Barbosa ao Ministério da Fazenda, não sei se não será exatamente este o cenário que teremos daqui para frente.
2016 vai nos apontar que rumo a inflação tomará.
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