James M. Dressler
18/06/2018 | FPC
FPC, ou o Futebol Politicamente Correto, parece ter definitivamente tomado conta do imaginário das pessoas. A primeira vez que eu notei a existência do FPC foi numa final de campeonato entre Corinthians e Palmeiras, em que o corintiano Edílson resolve fazer um domínio da bola mais elaborado, fazendo uma graça, e os adversários correm em sua direção para praticamente agredi-lo pela ousadia.
De lá para cá, esse “movimento” só cresceu. Ainda pode se vencer o jogo, mas olha, cuidado para não ofender o adversário mostrando que você é muito superior, hein? Então, maneire na categoria, no bom futebol, nada de excessos. Se fizer como o corintiano Romero, ousar dominar a bola com a cabeça mais de uma vez... Pronto! Já vai ter gente ofendida com a “humilhação”. O futebol anda cheio de ofendidinhos e muito mimimi ultimamente.
Vitória de goleada tem que ser assim, sem muito brilho individual, mais baseada na tática coletiva do que em qualquer outra coisa, como fez a seleção alemã naqueles 7x1 aplicados na seleção brasileira. Ninguém se lembra de um jogador que “abusou” da categoria ou do individualismo, como seria de se esperar de um Messi, Cristiano Ronaldo ou Salah. Tudo foi feito assepticamente, friamente, com muito respeito, quase constrangimento dos alemães. Ficou-se com a impressão até que “tiraram o pé” para não fazer mais.
E o futebol perdeu muito da sua graça. Lembro-me da década de 70, onde não tinha nada disso e a alegria da torcida eram os malabaristas que divertiam a torcida tentando fazer a jogada ao mesmo tempo em que humilhavam os adversários, com dribles desconcertantes e irreverência. Que gremista não se lembra do ponta-esquerda driblador Ortiz, que deixava o adversário caído, só para chamá-lo para levar outro drible e cair de novo? E ninguém via nada de errado nisso. Não se ganhava nada de útil para o time na maioria das vezes, mas a gente ria na arquibancada. O coitado do lateral levantava, sem dar um pontapé, e tomava outro drible, sem nenhum problema maior, exceto errar a tentativa de desarme e acabar fazendo a falta. Alguns anos depois veio o Jésum, outro ponta-esquerda no mesmo estilo, que levantava a torcida com dribles cujo maior objetivo era fazer os torcedores rirem do infeliz marcador.
Não sei onde vamos parar, mas para rir um pouco mais, imagino o dia em que será ofensivo um time priorizar a posse de bola, que passará a ser considerada uma prática “antidemocrática”. Haveria então um cronometrista assessorando o juiz para assegurar que cada time ficasse 50% do tempo com a bola, para evitar jogadores adversários frustrados por não ter oportunidade de mostrar todo seu futebol. E nada de tentar desarmar enquanto o outro tem a bola, isso poderia não ser bem visto pelo “fair play”. Como efeito colateral, minimizaria a chance de haver o “olé” de um time no outro, outra prática que também deixa jogadores traumatizados pelo mundo todo.
Outra ideia interessante seria limitar o jogador a tocar na bola só uma vez, marcando falta caso o jogador ouse passar disso querendo a bola só para si. Isso evitaria jogadas individuais (futebol é um esporte coletivo!), dribles desconcertantes e outros atrevimentos que possam humilhar os adversários. E estimularia os jogadores e técnicos a serem mais criativos para descobrir como vencer sem quaisquer destas jogadas exibicionistas e egocêntricas.
Indo um pouco mais além, outra prática ofensiva seria a marcação de um gol. É visível que os jogadores do time que leva um gol ficam frustrados e até humilhados se for um golaço. No caso de inadvertidamente marcar um gol, o jogador que cometeu essa barbaridade não deveria ir comemorar com seus companheiros, mas ir pedir desculpas aos companheiros do outro time. Observe que não se deveria chamar de adversários, isso não é politicamente correto! Para compensar, o jogador deveria então marcar um gol contra e aí sim ir confraternizar com seus companheiros e a torcida, que seria única, torcendo tão somente para que ninguém saísse triste depois do jogo.
E se ainda assim alguém terminasse derrotado, para evitar qualquer mal-estar, que tal modificar a pontuação por vitória, empate e derrota? Três pontos para quem vence, dois pelo empate e um pontinho de consolação para os derrotados!
Depois dessa brincadeira, já não sei se não dei ideias demais para esses loucos do politicamente correto do futebol... Vai que gostem da brincadeira...
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