James M. Dressler
15/07/2015 | A Crise da Grécia
Tenho a percepção que há a tentativa de alguns grupos ideológicos de incutir na cabeça das pessoas a idéia de que a Grécia é uma vítima de seus impiedosos credores, que o povo grego está sendo explorado pelo sistema financeiro internacional, que é justo que o povo grego dê um basta no “imperialismo” sem coração. Será mesmo que essa idéia corresponde à realidade? Vamos dar uma analisada no que levou a Grécia ao fundo do poço.
Atualmente, a Grécia deve em torno de 320 bilhões de euros, valor que o país não tem condições de pagar sem ajuda externa. É justamente esta ajuda externa que está agora suspensa pela insolvência grega, que está dando calote nos credores. Como a Grécia chegou a tal cifra? Durante muitos anos, o país gastou bem mais do que arrecadava, financiando os gastos através de novos empréstimos. Esta política de Estado já existia antes da Grécia adotar o euro, e foi extrapolada após a entrada do país na Zona do Euro, em 2001, aproveitando a farra de crédito disponível à época. O gasto público grego aumentou cerca de 50% entre 1999 e 2007, muito acima dos outros países europeus. Os crescentes gastos elevaram o déficit fiscal grego para muito além dos 3% do PIB, que é o limite para os países participantes da Zona do Euro. Somados a outros empréstimos que Grécia obteve fora da zona, a dívida total ultrapassou de longe os 60% de limite máximo impostos aos participantes do grupo. Dezenas de estatais, 20% da força ativa de trabalho empregados no serviço público, dezenas de categorias com aposentadorias especiais muito abaixo dos 60 anos, não é à toa que a dívida tenha crescido tanto.
Se levarmos em conta o valor total de juros pago pelo governo grego em relação ao estoque total de sua dívida, temos que, desde 2006, não houve nenhum ano em que a Grécia tenha pagado mais do que 4,5% de juros sobre sua dívida total. Considerando que a inflação grega foi de 2% no mesmo período, os juros reais não passaram de 2,5% ao ano, o que dificilmente pode ser considerado um juro escorchante. O governo brasileiro, por exemplo, paga quase o dobro disso. Apesar da sua resistência em fazer os ajustes necessários para acabar com o déficit público e reduzir a dívida, ainda assim a Grécia obteve um novo plano de resgate em 2012. O problema é que como a Grécia já tinha uma dívida enorme, os valores gastos com o pagamento da dívida, apesar dos juros baixos, acabam sendo elevados em termos absolutos.
A partir de 2008, com a crise financeira global, chegou a restrição ao crédito, tornando insustentável o “modelo” adotado pelos gregos. Neste período a dívida pública aumentou em quase 50%. As medidas de austeridade gregas (que não passam de adequar o estado a um mínimo de racionalidade, muito mais frouxas que as que são regras normais em países como a Alemanha) só começaram a ser adotadas tarde demais, em 2010, quando a dívida grega já era enorme. De lá para cá a situação foi se agravando de tal forma, que mesmo apesar do novo resgate em 2012, chegamos a este ponto de ruptura em 2015. Ou a Grécia faz as reformas que acabem com o déficit fiscal crônico, ou poderá até ser banida da Zona do Euro.
Olhando este quadro, fica claro que a responsabilidade pela atual situação da Grécia é dos políticos e do povo que os elegeu, que permitiram este elevado endividamento, como se não houvesse amanhã e como se pudesse empurrar a dívida indefinidamente para uma geração seguinte parar.
Um dia o amanhã chega.
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