James M. Dressler
05/02/2015 | Como Se Não Houvesse Amanhã
Fico pensando qual o norte do grupo de partidos que há 12 anos comanda os destinos do Brasil, qual o pensamento que guiou e guia subliminarmente todas as decisões em todos os ministérios e estatais, loteadas de militantes destes partidos, que estão dando as cartas desde 2003.
Desde essa época, vimos sempre a criação de novos direitos, que nada mais são que hipotecas em cima do nosso futuro. Não passam de distribuição de bondades que não tem correspondência com a realidade da economia do país à época em que foram distribuídas (e muito menos agora), em nome da correção de supostas distorções do passado. Como se erros pudessem ser corrigidos cometendo-se novos erros, e não retificando o que estava errado.
Hoje, com a crise econômica batendo à porta, até mesmo quem antes dizia que a vaca tossiria antes de retirar algum direito trabalhista, já a enforcou para manter a palavra. Mas os desmandos de ontem, combinados com os direitos que se adquirem e não podem mais ser atacados, deixam um peso que o país já não pode mais carregar, mas que também não tem como se livrar.
Em outra ponta, sendo generoso na análise, para poder fazer sua agenda de projetos andar, primeiro foi gestado o mensalão, que todos sabemos qual era o objetivo e por quem foi perpetrado. Uma vez descoberto, quase que imediatamente foi substituído por um esquema ainda mais sofisticado e rentável, o petrolão. Depois do dinheiro fácil do mensalão, a outrora poderosa Petrobras surgiu como o pote de ouro no fim do arco-íris, ou melhor uma mina de ouro, dado o seu tamanho. E montou se um novo esquema que deu razão a Delúbio Soares, que disse que um diria todos ririam do mensalão, como de uma piada de salão. Sábias palavras.
E a Petrobras afunda, mas ainda está longe de chegar ao leito do oceano de problemas em que mergulhou. Não bastassem todas as trapalhadas, a empresa solta um balanço numa madrugada, sem aprovação de uma auditoria, sem baixa contábil alguma relativa à corrupção na empresa, e em que se registra a maior dívida corporativa do mundo. Imagine quando a corrupção for contabilizada! Não sem razão foi rebaixada pela agência de classificação de risco Moody’s.
E como efeito colateral, no momento em que o governo precisa recuperar suas finanças, a Petrobras não poderá pagar dividendos a sua maior acionista, a União, e Graça Foster já avisou que dada a atual situação, aquele plano de investimentos, outrora o maior plano do mundo, já não poderá ser cumprido. E aí lembramos de que era a Marina que ia enterrar o pré-sal... Quase certo! Era a Maria... das Graças Foster.
E não esqueçamos do desastre energético que bate às nossas portas. Mais uma vez, seguindo o mesmo norte que tem guiado o país na última década, numa decisão intempestiva foi decretada a queda do preço da energia elétrica, quando já começava uma seca no país, altamente dependente da energia hidrelétrica. O resultado não poderia ser outro, dada tamanha imprevidência. Em pouco mais de um ano, o preço da energia elétrica vai quase que dobrar, com impacto inflacionário que é melhor nem pensar.
A inflação, para não fugir à regra, passou a ter como meta o que era teto, não deixando folga alguma para as incertezas da economia. Não surpreende que a meta tenha estourado agora em janeiro e isso que o impacto da energia e dos aumentos dos combustíveis nem estão totalmente contabilizados ainda. E olhe que a meta de 4,5% em si já era de uma inflação incompatível com uma economia civilizada!
Não bastasse isso, que já seria “o currículo”, some-se ainda a aproximação diplomática do país com países atrasados, ditaduras sanguinárias ou nada democráticas. Até aí, uma opção ruim, mas não desastrosa. Mas quando somamos isso ao desprezo e ojeriza a países como Estados Unidos e outros países ricos da Europa, por questões meramente ideológicas, aí é dar um tiro no pé. E justamente vai doer mais agora, com os americanos se recuperando economicamente e o Brasil afundando no baixo crescimento ou até mesmo na recessão.
E a conclusão a que chegamos é de que tudo sempre foi feito pensando em que o amanhã nunca chegaria, que todos os problemas poderiam ser empurrados para o futuro indefinidamente, que as reformas poderiam ser adiadas para mais adiante, e que o dinheiro e a saúde financeira só acabariam no longo prazo, aquele em que todos estaremos mortos.
É como se nunca houvesse o amanhã. Ele chegou. O amanhã é hoje. E tenho certeza que este amanhã durará muito mais que vinte e quatro horas.
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