James M. Dressler
25/09/2014 | Quem quer ser policial?
Fiquei perplexo com o acontecido esta semana em São Paulo, quando um vendedor ambulante acabou morto por um disparo de arma de fogo efetuado por um policial. Impossível ficar indiferente ao que aconteceu e da forma como aconteceu, o que pode diferenciar é o que, dentro da ocorrência, acaba causando tal sentimento.
A cena toda foi gravada e está disponível no YouTube, mas vou fazer uma breve descrição de como eu vi o ocorrido. Três policiais haviam imobilizado um vendedor ambulante que havia resistido (violentamente, mas isso é irrelevante) a uma abordagem. Neste ínterim, vários colegas do detido começaram a cercar os policiais, exigindo que o rapaz fosse liberado. Sentindo-se ameaçado, e me parece que claramente havia a iminência de um avanço da massa sobre os policiais, um deles sacou a arma. Alguns segundos depois, mesmo com a arma já sacada, um dos ambulantes que estava em meio à massa, avança sobre o policial armado para tirar-lhe o spray de pimenta que este tinha preso à altura da cintura. Neste momento, o policial atirou e acertou o ambulante em cheio, que teve morte instantânea.
Li e ouvi de tudo em sites, jornais, rádios e TV. Todos condenavam o policial como se um bandido fosse, e tratavam o ambulante detido e o morto como trabalhadores e “gente de bem”. Li, por exemplo, que a ação era desastrada e que os policiais eram despreparados porque três deles estavam imobilizando apenas um ambulante, que isso seria até uma “covardia”. Fico pensando o que a pessoa que escreveu isso pensa sobre uma ação policial. Deve imaginar que é uma espécie de luta de boxe ou MMA, deve ser um contra um e que vença o melhor... Ora, do ponto de vista policial, quanto a este ponto, a ação foi perfeita, de forma a preservar os policiais e a própria vítima, que poderia se debater e acabar ferindo-se (e/ou ao policial) gravemente no embate com um homem que sabe lutar e é muito bem preparado para isso na Academia de Polícia. Ouvi também declarações de outros ambulantes, reclamando genericamente das ações policiais contra o contrabando, com direito ao clássico “tenho quatro filhos para criar”, como se isso autorizasse alguém a cometer o delito de contrabando (e sabe-se lá que outros), e que obrigasse os policiais a fazerem vistas grossas para os crimes que comete. Ou seja, o sujeito acredita que sua situação de vida (que ele mesmo criou), faculta-lhe o direito de estar acima da lei. Mas sigamos.
O que me deixa mais perplexo, entretanto, é o ponto a que chegamos. Uma pessoa que resiste à abordagem policial, e que o faz provavelmente porque está comercializando produtos de origem ilegal, é tratado às claras, pela imprensa, como “gente de bem”, como “trabalhador” (implicitamente honesto). Imagine você, andando pela rua e um policial lhe aborda, você vai sair correndo? Evidentemente que não, vai atender o policial, ver do que se trata, não haverá problema algum nisso.
Não bastasse isso, ninguém se apresenta para analisar a situação do ponto de vista dos policiais, cercados por pessoas que os ameaçavam caso não soltassem o detido, e que não ficaram apenas na ameaça, partiram para a ação! Agora, pensem o seguinte: e se o rapaz se apossa do spray de pimenta, alguém tem alguma dúvida de que ele imediatamente o usaria contra os policiais, que ficariam completamente à mercê da massa, podendo ser mortos a chutes e pontapés, linchados ali mesmo, já que não teriam como se defender, cegados pelo efeito do spray?
Pode-se questionar também porque o policial sacou a arma, se esta seria a atitude correta. Ora, basta ver a crescente aglomeração de ambulantes à volta dos policiais, a situação de tensão absoluta, impossível saber se teriam algum tempo de reagir, caso houvesse o avanço sobre eles, se a arma já não estivesse em punho. Era tão iminente o avanço que sequer uma arma já engatilhada o parou, imagine se ela não o estivesse!
Nessas horas me lembro quando eu ia a bares noturnos na minha adolescência, época do regime militar. Passava o carro da Brigada, volta e meia desciam, perguntavam alguma coisa, pediam o documento do nosso carro, e nós tratávamos o policial por SENHOR. Faço isso até hoje, mesmo que o soldado tenha metade da minha idade. Policial, para mim ao menos, é democracia fardada e merece o maior respeito.
Que tempos são estes, em que nem com uma arma na mão um policial é respeitado... O que me resta constatar é que a desmoralização e demonização da Polícia, que já está em curso há algum tempo e que não tenho dúvidas que vá continuar, me obriga a perguntar: quem quer ser policial?
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