James M. Dressler
21/08/2017 | O Rombo
Finalmente o governo federal deu o braço a torcer e admitiu um incremento no déficit fiscal de mais 20 bilhões de reais. O rombo, que já era enorme, de R$ 139 bilhões, passou agora para R$ 159 bilhões, e rezemos nós que fique por aí com os cortes de gastos que o governo imporá ao orçamento.
A questão nem acho tanto que seja o crescimento do rombo, mas sim como chegamos nisso. O que andamos fazendo com as contas públicas nos últimos anos que nos levou de cumprir uma meta de superávit fiscal a este estrondoso déficit que temos hoje. Como descemos a este patamar tão preocupante?
A primeira coisa que me vem à cabeça é lembrar congressistas dos partidos de esquerda, desde a época de Fernando Henrique Cardoso, bradando contra as metas de superávit fiscal estabelecidas pelas equipes econômicas do ex-presidente, com aqueles discursos inflamados de que “governo não é empresa, não tem que dar ‘lucro’ e não tem que ter superávit, enquanto o povo ‘passa fome’ pelo Brasil”.
Primeiro, fome se passa é no Sudão e outros países miseráveis, principalmente na África subsaariana. Aqui no Brasil, sabemos que parte da população não tem a alimentação ideal, mas fome é outra história, até em respeito a quem realmente passa fome no mundo. Que pode melhorar? Claro! Que todos nós, brasileiros, queremos que melhore? Evidente! Mas isso só acontece com crescimento econômico e não gastando o dinheiro que não se tem, o que leva apenas à involução da economia e ao aumento da pobreza, como hoje todos já perceberam, depois de três anos de recessão resultantes das políticas econômicas dos governos de Lula e Dilma.
Esta ideia de abandonar o superávit fiscal sempre esteve do DNA dos governos petistas, e mesmo quando era respeitado, como nos dois mandatos de Lula, foram criadas todas as condições para sua destruição. Foi nos últimos treze anos que os salários do funcionalismo público federal receberam, na média, aumentos três vezes maiores que os salários da iniciativa privada. Em termos reais, cresceram 33% entre janeiro de 2003 e janeiro de 2016, enquanto na iniciativa privada esse aumento foi de 10%. Não bastasse isso, entre 2003 e 2013, o número de funcionários públicos federais subiu 30%, de 450 mil para quase 600 mil. Não é à toa que agora falte dinheiro para fechar as contas. Criam-se despesas quando o país está crescendo, como se não houvesse amanhã, um belo dia os recursos escasseiam e aí é um salve-se quem puder. Normalmente termina em aumento de impostos que sufocam ainda mais a iniciativa privada, resultando em um ainda menor crescimento econômico. Mas como estas despesas com folha não podem ser cortadas, sobra pouco espaço de manobra. Alguém acende o pavio lá atrás, e a bomba explode um tempo depois, como já vimos aqui no Rio Grande do Sul. A gente fica até pensando se é apenas incompetência, falta de responsabilidade ou é proposital. Deixo para vocês responderem depois de Lula ter dito, na semana passada, que “éramos a quinta economia do mundo, e olha o que ‘eles’ fizeram!”.
Não bastasse isso, na mesma época muitas estatais foram criadas, e também impostos aumentados para ampliar e expandir o alcance do programa bolsa-família (a alíquota do PIS/COFINS, acredite, dobrou naquela época, lá por 2004, para este custeio, e as pessoas reclamam agora de alguns centavos a mais de PIS/COFINS apenas na gasolina, quando lá atrás aquele aumento foi muito maior e atingiu diversos setores). Não é à toa que a economia, depois de tantos abusos, depois de tantas pedaladas, entrou em colapso.
E explico mais uma vez para os desavisados, que não entendem por que o déficit fiscal é tão danoso para o país: para cobrir o déficit e fazer os pagamentos necessários, como salários, programas sociais, fornecedores, etc, o governo precisa pedir emprestado, não apenas aos bancos, como a esquerda gosta de dizer, mas ao mercado, incluindo eu e você, que guardamos nossas suadas economias em algum fundo de renda fixa ou DI, como grande parte dos brasileiros de classe média. Este empréstimo se dá através da emissão de títulos, comprados justamente por todos interessados, como os fundos de renda fixa ou diretamente pelas pessoas físicas no Tesouro Direto. E se o governo precisa pedir cada vez mais dinheiro emprestado, mais juros e a maiores taxas terá que pagar, porque quanto mais se precisa de dinheiro, mais aquele que empresta fica desconfiado que possa levar um calote, e então juros maiores irá cobrar. Ora, se o governo começa a pagar juros cada vez maiores sobre cada vez mais dinheiro que tomou emprestado, muitos que teriam dinheiro para investir em negócios produtivos, uma pequena empresa, uma padaria, um salão de beleza, pensam: para que investir nisso se posso receber um rendimento melhor dos juros que o governo paga? E não investe, não cria empregos e a economia encolhe. Muitos que tinham o próprio negócio também o fecham, compram títulos do governo ou põem o dinheiro num fundo de renda fixa e passam a viver de juros, e então temos mais desempregados, o PIB encolhe mais ainda, o que resulta em menos receita de impostos, e um déficit ainda maior, realimentando o ciclo.
Tal situação lembra o que vivemos nos últimos três anos? Pois é ela mesma! Por isso é essencial acabar com o déficit fiscal, é imperativo! E o governo está tentando fazer isso, por mais que não gostemos de Temer. Quem tenta impedi-lo é a oposição, que quando era situação criou este quadro que destruiu a nossa economia.
Estamos agora como aquele boxeador nocauteado, no chão, recebendo um arzinho de uma toalha sendo abanada no nosso rosto. Malhar aqueles que tentam fazer com que nos levantemos, tentando culpá-lo pelo nocaute que já aconteceu bem antes, é apenas discurso político da mais baixa qualidade. Temos é que entender como empreendemos uma “luta” tão ruim, o que nos levou a beijar a lona do jeito que beijamos, enquanto o mundo surfa no crescimento econômico, exceto a Venezuela, que não por acaso adotou políticas muito semelhantes às nossas nas últimas décadas, e cujo regime nefasto é apoiado por toda oposição brasileira.
A situação é difícil, mas vamos nos levantar. E as reformas são essenciais para isso, principalmente a da Previdência, que já gera um déficit de quase 200 bilhões.
Levanta, Brasil!
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