James M. Dressler
31/07/2017 | Direitos Além da Conta
Tem se tornado cada vez mais comuns casos de atrito entre pessoas devido à falta de limites de seus filhos. Cada vez mais parece que se tornou normal achar que filhos não devem ter limites impostos pelos pais, pois isto caracterizaria algo como “limitação da liberdade”, “tolhimento da capacidade criativa” ou até mesmo “tortura psicológica”, para alguns “experts” em educação infanto-juvenil.
A última situação bizarra que tomei conhecimento foi de um filho de uma mulher, que foi na casa de uma amiga sua, visitar o filho desta, e acabou mexendo (sem permissão) em itens de colecionador de super-heróis da amiga (a mãe), imaginando que fossem brinquedos. Foi repreendida (educadamente) e orientada a não mexer nos itens, e então, a criança inconformada saiu para se queixar à sua mãe sobre o ocorrido. A mãe tomou as dores da criança e foi tirar satisfações com a outra mulher “opressora”. Ora, não importa o motivo pelo qual a criança não pode brincar com algo que simplesmente não era dela. Se não lhe foi permitido, ponto final! Foi estabelecido um limite, e uma das coisas mais importantes que aprendemos quando crianças é reconhecer limites. Não aprender que eles existem significará uma série de problemas no futuro, o que não quer dizer que devemos baixar a cabeça para qualquer limite que nos seja imposto, mas sim aprender ou entender como contorná-los de forma ética. O que a mãe deveria ter ensinado ao filho é que, se ele tinha gostado tanto dos supostos brinquedos, ele deveria obtê-los pelos seus próprios meios, seja pedindo de presente no Natal ou economizando a mesada, se já estivesse recebendo alguma.
Infelizmente, as gerações mais novas parecem que perderam a noção de propriedade, muito pelo que aconteceu na política de nosso país, mais especificamente depois da “constituição cidadã” de 1988. A sensação que tenho é que a sua promulgação abriu a “Caixa de Pandora” dos direitos a brasileiros. Todo mundo se acha no direito de tudo e de não ser contestado quanto à suposta titularidade do direito ao qual se diz possuidor. E desde lá, isso vem passando de pai para filho. E frustrações, por não ter algo que se gostaria, não são toleradas!
Seguindo esta lógica do “eu tenho direito a tudo”, a maioria das pessoas não tem o menor cuidado financeiro com suas vidas, nenhum planejamento quanto ao custo do estilo de vida que levarão ou quanto ao custo do número de filhos que terão. Simplesmente vão gastando o que puderem, e depois ou tem imensas dificuldades para quitar as dívidas, ou simplesmente não pagam. Se puderem (e podem, pois é um “direito”), empurram os custos para a sociedade, que são pagos por toda sorte de assistencialismos e de “universalizações” de serviços, o que se tornou prática comum de 1988 para cá. O problema é que isto não liga, na cabeça das pessoas, os custos às contribuições de cada um. São todos titulares de direitos, inclusive os que pouco ou nada contribuem. E é claro que a conta não tem como fechar. A quebradeira geral, primeiro de estados e municípios e agora da União, é a consequência óbvia disto.
E é pela falta destas pequenas lições, que deveríamos aprender quando crianças, mas que cada vez menos estão sendo ensinadas às futuras gerações, que nossa situação como país vem se deteriorando. Há alguma chance de revertermos esta situação? Pelo que vejo na mídia, nos programas que tratam do tema da educação infanto-juvenil, não há indícios de que isso irá acontecer. E pelo domínio quase que completo da ideologia que gerou este estado de coisas no sistema educacional brasileiro, isso também não acontecerá tão cedo. Não é à toa que, em recente exame do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), os alunos brasileiros ficaram entre os últimos colocados, no que tange à educação financeira, não demonstrando conhecimentos básicos de como lidar com dinheiro no dia a dia. Não me digam!
Essa mudança só poderá ser feita aos poucos, e se pode começar em algum lugar, é no seio da família. Passa pela conscientização dos pais quanto a responsabilidades deles mesmos, e de como transmitir aos filhos princípios básicos de finanças, propriedade, deveres e direitos.
Sem essas noções, a vida de qualquer adulto será um sofrimento.
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