James M. Dressler
12/04/2017 | Pedágio
Com o avanço das investigações sobre corrupção envolvendo empreiteiras em diversos países da América do Sul e até de outros continentes, ficou claro para mim que a atividade política e até mesmo governamental, há muito tempo, e especialmente na última década, vem funcionando como praças de pedágio.
Por quê? Porque para estas grandes empresas, para poderem fazer grandes obras, inevitavelmente tem que trabalhar para o estado, firmando contratos com o governo. Mas como conseguir um contrato destes? Sim, há as licitações, mas como já aprendemos há tempos, licitações podem ser feitas sob encomenda para eliminarem a concorrência e deixarem só os amigos do rei. Na medida em que isso acontece, favorece em muito os acertos por debaixo dos panos. E não nos esqueçamos, as obras a serem tocadas, ou não, sempre poderão ser escolhidas de acordo com interesses outros que não os da população, mas sim aquelas que rendam um pedágio maior para quem controla a cancela.
E que pedágio é este? É o da propina, sem a qual a obra não é aprovada, o financiamento não sai, a licitação não acontece. Em alguns países, o estado está montado de forma a criar dificuldades para vender facilidades, uma espécie de pedágio, em que qualquer empresa que queira prestar serviços para o estado, tem que passar e pagar a tarifa cobrada para seguir adiante.
Acabamos por nos dar conta que eleições muitas vezes não passam de uma corrida para ver quem controlará os pedágios e embolsará as pesadas tarifas. Fica fácil entender o porquê de disputas tão acirradas por parte dos políticos em campanhas milionárias: o prêmio é alto e compensador!
O que fica claro também é que este quadro se aprofundou nos últimos dez anos, tal qual uma nuvem de gafanhotos sobre uma plantação, atingindo escalas nunca antes vistas em todas as esferas de governo, municipal, estadual e federal, a ponto de fazer estatais e estados quebrarem. A coisa ficou tão escancarada, as praças de pedágio ficaram tão grandes e visíveis, que já não foi mais possível escondê-las, e como naquele conto do rei que passeava sem roupas, alguém em algum momento gritou: “o rei está nu!”.
Se esta prática já enraizada na nossa cultura estatal será erradicada, agora ou num futuro próximo, de nossas práticas administrativas, sinceramente não sei. Sou um pessimista, uma espécie de realista informado, como gosto de pensar. Acho que talvez consigamos mitigá-la e voltar a patamares anteriores de corrupção, que ainda estão longe do ideal. Mais do que isso, duvido.
É um início, mas que só se completará com uma reforma política, que acabe com os políticos profissionais, e uma reforma administrativa, que retire privilégios de funcionários intocáveis e os submeta a punições pesadas em casos de corrupção.
Não sei se chegaremos lá. Continuo duvidando.
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