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James M. Dressler
14/05/2018 | Crise Na Argentina
A vizinha Argentina é um país sui generis, sem dúvida, um dos poucos casos de país contemporâneo que era rico e ficou pobre em menos de um século. Era tão rico, que no início do século XX havia a expressão “rico como um argentino”, que hoje até pode soar como chacota. E a crise atual, como ele estourou, qual sua origem?
A crise argentina tem suas origens, como todas as anteriores, no populismo que tomou conta do país na metade do século passado, com a ascensão de Perón ao poder. Daí originou-se o estado gigante, provedor, gastador, o descontrole completo das contas públicas, e o pior de tudo, a contaminação permanente do ideário argentino com a ideologia populista, que perdura até hoje, e que provavelmente continuará infectando o país por muitas décadas no futuro.
Presidente desde o final de 2015, Maurício Macri bem que tentou implantar reformas liberais que modernizassem o estado argentino, mas optou por reformas graduais, ao invés de um choque de uma vez só e mais duro na economia. Pode criticar-se o presidente por isso, mas ele lida com esta ideologia hostil ao liberalismo incrustada no DNA do argentino, que se reflete principalmente num Senado que cria dificuldades para que se aprovem medidas liberais mais radicais. Mesmo assim, Macri conseguiu emplacar um crescimento do PIB de 2,9% em 2017.
O problema é que a herança do governo Kirschner é muito pesada e difícil de reverter. A Argentina acumula anos de déficit fiscal (qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência), oriundo do governo gastador do tipo “bolivariano” de Cristina. As políticas adotadas pela ex-presidente, sendo revertidas gradualmente como propôs Macri, revertem também gradualmente este déficit, trazendo problemas para o governo que não vê a sangria dos cofres públicos estancada imediatamente. E para tapar o rombo, a Argentina tem imprimido mais dinheiro, o que leva à alta da inflação, que já anda na casa dos 25%. Não bastasse isso, ainda precisa rolar sua dívida, e dada a crise de confiança pela qual o país passa, para atrair investidores, a Argentina teve que elevar os juros para 40%. Claro, taxas nestes níveis são também reflexo dos calotes na dívida que os argentinos deram nas últimas décadas, o que minou a credibilidade “hermana” por muitos anos que ainda virão. Com uma rolagem de dívida cara como essa, não restou outra saída, como também pedir uma ajudinha do FMI, já que as reservas da Argentina são baixas, e o colchão de dólares precisa ser maior para garantir aos investidores a conversibilidade do peso argentino em dólares americanos.
Macri não terá alternativa, se quiser tirar a Argentina do buraco: cortar sem dó nem piedade o gasto público. A carga tributária argentina já é uma das maiores do mundo, e sufocar ainda mais quem produz riqueza não seria uma ideia nada inteligente. Mais eficaz seria diminuir a imensa máquina pública argentina (10% da população ativa é de funcionários públicos), por exemplo. Quem sabe diminuir ou extinguir muitos dos subsídios que o governo dá à população nas tarifas de serviços públicos também ajude.
Qual o futuro da Argentina? Uma incógnita. Com o descalabro do governo anterior, onde diversas empresas foram estatizadas (tomadas de seus devidos donos), atrair investidores ficou bem difícil, comprometendo o crescimento futuro do país. E o fantasma do populismo está sempre rondando o país, podendo voltar na próxima eleição, gerando insegurança completa nos investidores, que com certeza terão todo receio de investir por lá.
Meu palpite? A Argentina vai seguir na mesma toada, com baixa tolerância ao esforço necessário para sair definitivamente da crise, e se o governo resolver apertar a corda, rapidinho o povo elege algum salvador da pátria que voltará com a política econômica que enfiou o país no buraco. Já aconteceu antes, e o mais provável é que acontecerá de novo.
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